ANÁLISE

‘Não somos um povo ético’, diz professor de Goiás sobre ‘fura-filas’ da vacina

Em ao menos dois municípios goianos (Mineiros e Santa Helena) pessoas foram do grupo prioritário…

Conhece a Lei de Gérson? Ela explica o brasileiro na hora de furar fila na vacinação
Conhece a Lei de Gérson? Ela explica o brasileiro na hora de furar fila na vacinação

Em ao menos dois municípios goianos (Mineiros e Santa Helena) pessoas foram do grupo prioritário estariam furando a fila para a vacinação contra a Covid-19. A situação motivou, inclusive, uma ação do Ministério Público (MP-GO) em forma de campanha. Do ponto de vista ético, pode-se enquadrar essa situação na popular “Lei de Gérson”.

José Antônio Soares Cavalcante, professor de ética no Direito, ciência política, filosofia do Direito e autor de vários livros filosóficos e jurídicos, revela que esta é a “lei”, segundo a qual, a pessoa tente levar vantagem em tudo. “Essa é uma perspectiva muito brasileira, em que havendo possibilidade, e é o que estamos assistindo, a pessoa pensa: ‘Por que não tirar vantagem da minha posição política e econômica e desrespeitar o que própria lei ou resolução determina, que é a existência de um grupo de risco que precisa ser priorizado?’.”

De acordo com o professor Cavalcante, a situação atual é a mesma em qualquer outra circunstância de crise pela qual o Brasil já passou ou venha a passar. “Podendo tirar proveito, quem pode, tira. Desrespeitando o outro que precisa”, pontua.

Ele observa, ainda, que esta não é uma atitude sensata visto que, se não cuidar do pessoal da saúde – grupo prioritário ao lado de idosos que vivem em abrigo –, não haverá quem cuide dos enfermos. “Mas as pessoas olham para o próprio umbigo”, lamenta.

Professor de ética, José Antônio Cavalcante (Foto: Reprodução/WhatsApp)

Povo antiético

Não somos um povo culturalmente ético”, observa o docente. “Somos culturalmente um povo que vive em área cinza. É errado e certo para nós o que nos convém. No momento que pode ser ruim, chama de antiético. Mas se a mesma coisa, alvo de protesto, foi boa para a pessoa, não é mais antiético.”

Cavalcante, contudo, declara que o brasileiro não pode ser considerado mau. Segundo ele, a sociedade, estruturalmente, foi organizada em fundamentos antiéticos, mas isso não se aplica todos. Existem famílias, indivíduos, ele aponta, que são éticos.