TRAGÉDIA

Pai lamenta perda do filho em acidente a caminho de Aparecida: ‘Viagem de nossas vidas’

O carro em que a família estava foi atingido por um veículo desgovernado

Thiago Souza, a esposa e os dois filhos (Foto: Arquivo cedido ao Mais Goiás)

O fotógrafo Thiago Henrique Fagundes, pai do menino Felipe, de 4 anos, que morreu após um grave acidente de trânsito na região de Centralina (MG), relatou ao Mais Goiás que a viagem em família representava um momento de alívio após um dos períodos mais difíceis que haviam enfrentado. O acidente ocorreu na última quinta-feira (18), por volta das 15h40, quando o carro em que a família estava foi atingido por outro veículo em alta velocidade, enquanto retornavam para Aparecida de Goiânia. Felipe chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no sábado (20), às 15h41. No veículo estavam Thiago, a esposa Luanna Gabriela, a vítima e outro filho do casal, Nicolas Fagundes, de 5 anos, que sobreviveu e segue em recuperação junto à família.

Segundo Thiago, ele e a esposa decidiram viajar após um ano marcado por dificuldades financeiras e emocionais. “Foi um ano muito complicado. A gente vinha de uma crise financeira pesada, mas mesmo assim sentíamos que Deus estava nos permitindo viver aquele momento. Era uma viagem para descansar a mente e o coração”, afirmou.

A família retornava de uma viagem que incluiu passagens por Campos do Jordão (SP) e Ubatuba (SP) quando o acidente aconteceu. De acordo com informações preliminares da Polícia Rodoviária Federal (PRF), um veículo que seguia no sentido Goiânia–São Paulo perdeu o controle, invadiu a pista contrária e atingiu lateralmente o carro da família. O acidente envolveu ainda um terceiro veículo, e um idoso também morreu.

Felipe chegou a ser socorrido com vida e levado inicialmente para atendimento médico em Centralina. Em seguida, foi transferido para o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), onde passou por cirurgia e ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Apesar dos esforços da equipe médica, a criança teve um traumatismo contuso e não resistiu.

“Felipe foi um milagre desde a gestação”, diz pai

Thiago contou que a história de Felipe já era marcada pela fé antes mesmo do nascimento. Segundo ele, a esposa havia sido informada por médicos, anos antes, que teria dificuldades para engravidar. “Disseram que ela não ovulava, que não poderia ter filhos. Mas a gente sempre acreditou que Deus podia mudar qualquer diagnóstico”, relatou.

Após anos de tentativas, perdas gestacionais e muita oração Felipe nasceu após uma gestação de gêmeos em que apenas ele se desenvolveu. “A gente sempre falou que ele era muito resistente. Ele lutou para vir ao mundo, e viveu quatro anos sendo a alegria da nossa casa”, disse o pai.

Ao falar do filho, Thiago descreve Felipe como uma criança de personalidade forte, divertida e extremamente carinhosa. “Felipe nasceu um rapaz muito, muito amoroso, com temperamento de adulto. Ele era muito decidido. Não é não, sim é sim. Se ele gostava de você, ele gostava; se não gostava, não conversava”, contou.

Segundo o pai, o menino era brincalhão e gostava de fazer graça para arrancar risadas. “Ele vivia inventando alguma coisinha para você rir”, disse. Felipe estudava em escola particular e era muito querido por professores e colegas. “Nossos filhos são muito bem acolhidos na escola, muito adorados. Todo mundo fala: ‘Nossa, seus filhos são muito educados, não dão trabalho nenhum’. E eles são assim de verdade”, afirmou.

O colégio, inclusive, lamentou a morte do garoto nas redes sociais.

“Foi a melhor viagem que a gente fez na vida”

Thiago contou que a viagem foi planejada com cautela. O carro passou por revisão completa antes do trajeto, incluindo troca e manutenção dos pneus. “A gente sempre viajou com muito cuidado, respeitando velocidade, parando para descansar. No momento do acidente, estávamos a cerca de 60 km/h, logo após passar por um radar”, explicou.

Segundo ele, o outro veículo estaria em alta velocidade e com pneus carecas, o que pode ter contribuído para a perda de controle em pista molhada. “Tudo indica negligência e imprudência. O laudo oficial ainda vai confirmar, mas foi isso que os policiais nos informaram no local”, afirmou.

Durante os quatro anos de vida, Felipe teve contato frequente com viagens em família. “Dos quatro anos que ele viveu, ele viajou sete vezes para a praia. Uma delas ainda na barriga da mãe, de avião. As outras seis foram de carro”, contou o pai.

Segundo Thiago, viajar de carro virou um hábito da família. “Eu sempre gostei de viajar de carro, ver as paisagens, curtir o caminho. A gente sempre viajou devagarinho. No momento do acidente, estávamos a cerca de 60 km/h”, afirmou.

A última viagem, segundo ele, foi especial. “Foi a melhor viagem que a gente fez na vida. O Felipe era muito marrentinho. Normalmente, tudo que você perguntava ele respondia ‘não’. Mas dessa vez era diferente. Perguntava: ‘Felipe, você tá gostando?’ e ele respondia ‘tô’. ‘Tá boa a viagem?’ ‘Tá’.”

O pai afirma que o menino demonstrava gratidão e alegria o tempo todo. “Ele viveu os melhores dias com a família dele. Estava muito feliz. Toda hora virava para a mãe e falava: ‘Mamãe, eu te amo, tá?’.”

Mobilização nas redes e corrente de oração

Reservado quanto à vida pessoal, Thiago disse que precisou quebrar esse padrão diante da gravidade da situação do filho. “Eu nunca expus minha família nas redes, mas naquele momento precisei pedir ajuda. Como pai, eu precisava suprir tudo o que fosse necessário para salvar meu filho”, relatou.

Ele publicou um pedido de orações e apoio financeiro nas redes sociais, o que gerou uma grande mobilização. “Criamos um grupo de oração que chegou a ter mais de 400 pessoas”, contou.

Além da corrente espiritual, houve ajuda financeira. Segundo o pai, cerca de R$ 20 mil foram arrecadados por meio de transferências via Pix, além de rifas organizadas por amigos, membros da igreja e pessoas que a família sequer conhecia. “Deus tocou o coração de muita gente. A solidariedade foi algo que nos sustentou naquele momento”, disse.

Após a morte de Felipe, Thiago retirou os pedidos de ajuda financeira das redes e informou que os valores não utilizados seriam destinados a necessidades decorrentes do acidente e à reorganização da família.

Doação das córneas

Mesmo em meio à dor, a família tomou uma decisão que, segundo Thiago, representa um gesto de amor. As córneas de Felipe foram doadas, permitindo que outras pessoas tenham uma nova chance de enxergar. O pai também destacou a importância da doação de sangue, já que Felipe precisou de três bolsas durante o período em que esteve internado.

Despedida marcada por fé

Thiago afirmou que segue vivendo o luto, mas diz encontrar força na fé e no apoio recebido de amigos, familiares e da igreja. Segundo ele, a família decidiu manter os planos de passar o Natal juntos, mesmo após a tragédia, como forma de buscar conforto espiritual.

Thiago afirmou ainda que a fé em Deus tem sido fundamental para atravessar o luto. “Tenho certeza que Deus, na sua infinita graça, bondade e sabedoria, nós ainda vamos nos encontrar com o nosso filho. Papai do céu vai ter algo especial preparado para a gente”, declarou.

Segundo o pai, o conforto está na esperança do reencontro. “O que nos conforta é saber que um dia a gente vai estar todo mundo reunido, brincando, para poder pegar na mãozinha dele de novo, falar que eu amo ele”, afirmou. Ele também destacou que, mesmo diante da dor, a fé permanece inabalável. “A graça de Deus nos basta, o seu poder se aperfeiçoa nas nossas fraquezas, e a paz que excede todo entendimento vem de Cristo”, declarou.

Ao finalizar, Thiago reforçou a serenidade que tem sentido após a perda. “Ninguém entende o quanto a gente tá em paz depois de ter vivido tudo isso”, concluiu.