RESPOSTA

‘Pontos não foram analisados’, diz defesa de miss trans que acusa delegado absolvido em caso de abuso

Eles citam a falta de valorização da palavra da vítima

'Pontos não foram analisados', diz defesa de miss trans que acusa delegado absolvido em caso de abuso
'Pontos não foram analisados', diz defesa de miss trans que acusa delegado absolvido em caso de abuso (Foto: Reprodução)

A defesa de Jade Fernandes vai recorrer da decisão do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) que manteve a absolvição do delegado Kleyton Manoel Dias, acusado de estuprar a modelo miss trans, à época com 23 anos, dentro do carro e dirigir bêbado, em Goiânia. Segundo eles, “a defesa da vítima ressalta que respeita a decisão do Poder Judiciário, mas discorda do resultado e entende que pontos jurídicos importantes ainda não foram devidamente analisados”.

Entre os pontos, os advogados Kesia Oliveira e Cristiano Lustosa citam a falta de valorização da palavra da vítima, “reconhecida em diversas decisões da Justiça brasileira e em tratados internacionais”. “Por isso, a equipe jurídica da vítima informa que vai recorrer da decisão, buscando levar o caso para os Tribunais Superiores.”

A decisão de primeiro grau ocorreu em setembro do ano passado. Naquele momento, o juiz disse haver dúvidas se o ato foi ou não consentido, pois existiam “elementos para indicar que houve uma relação consentida; porém, ainda que um pouco menos fortes, também há elementos que se inclinam para a prática de violência sexual”. Da mesma forma, não foi possível comprovar a embriaguez ao volante. O Ministério Público, então, recorreu, mas o TJ manteve a absolvição nesta semana. O caso está em segredo de Justiça.

Conforme a denúncia, Kleyton Manoel constrangeu a Jade, “mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal”. Além disso, conforme o MP, o delegado ingeriu bebida alcoólica e conduziu o veículo com a “capacidade psicomotora alterada pelo álcool”.

O MP acusou o delegado, da 8ª Delegacia Distrital de Goiânia, de ter cometido o crime após saírem de uma boate na capital, no ano passado. A vítima afirmou que o abuso teria acontecido depois que pegou uma carona com o acusado na madrugada do dia 5 de janeiro. O homem negou desde o princípio as acusações.

Nota da defesa de Jade Fernandes:

“A bancada da assistência de acusação da vítima Jade Fernandes se manifesta publicamente após a decisão do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, que manteve a absolvição do réu no processo criminal.

A defesa da vítima ressalta que respeita a decisão do Poder Judiciário, mas discorda do resultado e entende que pontos jurídicos importantes ainda não foram devidamente analisados. Entre eles, destaca a necessidade da aplicação da perspectiva de gênero, conforme estabelece a Resolução nº 492/2023 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e a valorização da palavra da vítima, reconhecida em diversas decisões da Justiça brasileira e em tratados internacionais.

Por isso, a equipe jurídica da vítima informa que vai recorrer da decisão, buscando levar o caso para os Tribunais Superiores.

A defesa reforça o compromisso com a luta pelos direitos da vítima, respeitando a lei e garantindo a dignidade de quem sofreu violência sexual.”

Advogados
Kesia Oliveira e Cristiano Lustosa