Drama

Precariedade da rede municipal de saúde pode ter contribuído para óbito de paciente em Goiânia

Depois de mais de 16 horas de espera por um diagnóstico e mais quatro horas…

Depois de mais de 16 horas de espera por um diagnóstico e mais quatro horas por um marca-passo, uma paciente da Rede Municipal de Saúde, internada no Ciams Novo Horizonte, morreu na madrugada deste domingo (18), na Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, para onde foi transferida. Terezinha Maria da Silva, de 66 anos, que segundo familiares foi internada às 2h de sábado (17) com sintomas de Acidente Vascular Cerebral (AVC), só pode receber medicação intravenosa para dores no Ciams, já que a unidade não possuía equipamentos para realização de diagnóstico por imagem.

A arritmia cardíaca só foi descoberta às 18h, com a chegada de uma UTI Móvel do Samu. Terezinha precisava de um marca-passo, o qual só foi obtido às 22h. De acordo com a cunhada de uma das filhas da paciente, Márcia Machado, o equipamento foi colocado às pressas, pelo lado de fora do corpo, para que Terezinha suportasse a viagem para o hospital. “O coração estava muito fraco. Médicos não queriam transportá-la sem o equipamento”.

Uma hora depois, às 23h, Terezinha foi transferida para a Santa Casa de Misericórdia, onde passou por cirurgia para adequação do procedimento anterior, mas às 3h deste domingo o óbito foi confirmado. Segundo Márcia, as equipes de saúde da unidade e do Samu fizeram tudo o que podiam, mas o óbito pode ter ocorrido por causa da precariedade do sistema municipal de saúde.

“No início, achávamos que era um AVC. Ela já teve um aneurisma e os sintomas eram parecidos. Mas o diagnóstico só veio às 18h. O que a gente viu e acompanhou foi a demora da liberação de um leito de UTI para que ela pudesse ser melhor assistida. O atendimento no Ciams é limitado, precário, mas as equipes de saúde deram toda atenção. O que dependeu deles foi feito. Mas faltavam equipamentos para realizar o diagnóstico e, depois, o próprio marca-passo”.

Reanimações

Conforme explica Márcia, médico da unidade e do Samu se revezaram na realização de várias massagens cardíacas. “Foi por isso que ela aguentou tanto tempo. Do contrário, ela teria falecido bem antes”, reforça.

Segundo ela, durante a espera, Terezinha teve que ser reanimada pelo menos cinco vezes. “As equipes precisaram usar os equipamentos da UTI Móvel, porque a unidade não tinha. O marca-passo só foi obtido por volta das 22h, mas ela permaneceu no Ciams até as 23h, quando o Samu a levou para a Santa Casa, onde passaria pela cirurgia”.

Ainda segundo Márcia, novas tentativas de reanimação foram realizadas no trajeto para o hospital. Na Santa Casa, Terezinha faleceu cinco horas depois.

Segundo o sobrinho da paciente, Edson Firmino da Silva, que também acompanhou o caso, a Santa Casa não “quis” receber a paciente. “Mais uma vez faltou equipamento. Não tinham respirador no momento. Depois de 20 minutos conseguiram um. Ela e a equipe do Samu ficaram 20 minutos esperando lá na porta”.

Para Edson, este é mais um reflexo do descaso do Poder Público com a Saúde. “Falta equipamentos e médicos em toda a rede municipal. É só dar uma volta. Isso não é novidade. Todo mundo sabe disso, mas nada fazem. Se fazem, não aparece. Muita gente sofre por causa disso. No caso da tia Terezinha, não faltou médico, mas faltou equipamento. Familiares agradecem o empenho das equipes do Ciams e do Samu pelo atendimento. Trataram ela muito bem”.

Familiares aguardam a liberação do corpo para definir horário do velório. O sepultamento ocorrerá no Cemitério Jardim da Paz, na Vila Brasília, às 17h.

Nota

A Secretaria Municipal de Saúde afirma, em nota, lamentar a morte da paciente e que irá instaurar sindicância para apurar se houve negligência de algumas das partes. Confira o documento, na íntegra:

“A SMS Goiânia lamenta a morte da paciente e informa que vai instaurar sindicância para apurar se houve negligência de algumas das partes, do Ciams ou da Santa Casa é prestadora SUS e entidade filantrópica. 
A SMS reforça que empenhou esforços para prestar assistência para a paciente, que foi acompanhada pela equipe mutiprofissional do Ciams Novo Horizonte até a vaga para transferência para Hospital de maior complexidade ser encontrada. 
A equipe do SAMU também se empenhou ao caso. A SMS esclarece que o Ciams Novo Horizonte é uma unidade pré-hospitalar e os pacientes graves que chegam ao local recebem os primeiros socorros e são inseridos no sistema de vagas da Central de Regulação”.