‘Reaproveitamento de garrafas é porta para a falsificação’: empresa de Aparecida atua contra reuso indevido
Casos de intoxicação por metanol crescem em Goiás e no País
Diante da situação de saúde em Goiás e no País, devido ao aumento de casos de intoxicação por bebidas adulteradas com metanol, o empresário de Aparecida de Goiânia, Dyego Rocha, reforça que “o reaproveitamento de garrafas vazias é uma das principais portas para a falsificação”. No Estado, já tiveram cinco suspeitas do envenenamento, das quais duas foram descartadas e três permanecem em investigação, conforme informações da Secretaria de Saúde (SES-GO) nesta terça-feira (7).
Vale citar que os casos de intoxicação por metanol investigados no País aconteceram após a ingestão de bebidas alcoólicas destiladas falsificadas. Entre eles, vodca, gim e uísque.
Sobre Dyego, ele é diretor comercial de uma empresa que atua com distribuição e logística reversa de quebra e incineração de garrafas, a Cerrado+ Distribuição. Segundo ele, a medida vai além do cuidado ambiental, é uma estratégia de segurança contra falsificações. Ele ressalta que todo o material recolhido após grandes eventos e festivais passa por um processo controlado de destruição e descarte final, o que impede a reutilização indevida.
“Muitos não sabem, mas o reaproveitamento de garrafas vazias é uma das principais portas para a falsificação, e fomos uma das primeiras empresas do Estado a adotar um protocolo de logística reversa com quebra e incineração completa desses recipientes”, explica. O projeto ocorre em parceria com fabricantes e empresas de reciclagem licenciadas, o que permite a operação ocorrer de forma rastreável, segura e ambientalmente responsável.
Segundo ele, a iniciativa também integra uma campanha de conscientização voltada a bares, casas noturnas e promotores de eventos sobre o risco da reutilização irregular de garrafas.
Investigação sobre a contaminação por metanol
Nos primeiros dias de operação que visa coibir a circulação de bebidas alcoólicas contaminadas com metanol em Goiás, a força-tarefa composta pelas secretarias de Segurança Pública e de Saúde, além do Procon, conduziu à delegacia cinco pessoas para que prestassem depoimento. Entretanto, até o momento, ninguém foi preso. A informação é do delegado-geral da Polícia Civil, André Ganga.
“Estamos investigando não só essa adulteração com uso de metanol, mas qualquer tipo de adulteração ou produtos vencidos que sejam impróprios para o consumo da população”, afirmou Ganga ao Mais Goiás.
O delegado geral da Polícia Civil explica que o crime que está sendo investigado é tipificado pelo artigo 272 do Código Penal, que prevê reclusão de quatro a oito anos se houver dolo na conduta.
“Por enquanto ainda não há casos confirmados de adulteração de bebidas com metanol em Goiás. O que estamos fazendo é uma fiscalização preventiva, que visa dar segurança à população. A gente recomenda à pessoas que verifiquem o estabelecimento, o preço da bebida que se pretende consumir, o local em que ela está sendo adquirida, o tipo de garrafa”.
Ganga lembra que denúncias podem ser feitas pelos números 190 e 197.
O que é metanol?
O metanol é um produto químico usado em produtos industriais e domésticos, como diluentes, anticongelantes, vernizes e até fluidos de fotocopiadora. Assim como o álcool que consumimos na cerveja, no vinho e nos destilados, o metanol é um líquido incolor com cheiro semelhante ao do álcool encontrado normalmente nessas bebidas, mas muito mais barato de produzir. Isso faz com que ele seja utilizado em bebidas adulteradas.
Dificilmente, será possível perceber a adulteração na hora do consumo, dado que seu gosto e efeito é semelhante ao da bebida não adulterada. No entanto, seus efeitos prejudiciais aparecem apenas horas depois, quando o organismo tenta eliminá-lo. A ingestão de pequenas quantidade pode ser extremamente prejudicial à saúde e alguns “shots” do composto podem ser fatais.
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O álcool é metabolizado no fígado. No caso no metanol, este metabolismo cria subprodutos tóxicos chamados formaldeído, formato e ácido fórmico. Eles atacam nervos e órgãos, sendo o cérebro e os olhos os mais vulneráveis, o que pode levar à cegueira, coma e morte.
A toxicidade do metanol está relacionada à dose ingerida e ao organismo. Tal como acontece com o álcool tradicional, quanto menos você pesa, mais você pode ser afetado por uma determinada quantidade.
Normalmente, os efeitos demoram entre 40 minutos e 72 horas para aparecer. Os primeiros sinais são semelhantes ao da intoxicação por álcool e incluem problemas de coordenação, equilíbrio e fala, bem como confusão e vômitos. Ao mesmo tempo, a pressão arterial cai, resultando em uma sensação de tontura e desmaio.
Em fases posteriores – cerca de 18 a 48 horas após a ingestão – o ácido fórmico, que interrompe a produção de energia nas células, faz com que o pH do sangue caia, danificando tecidos e órgãos do corpo. Isso pode causar insuficiência renal, convulsões e até sangramento gastrointestinal.
A intoxicação por metanol tem tratamento?
Devido ao seu rápido efeito no organismo, o início do tratamento deve ser feito assim que houve suspeita da intoxicação por metanol. Em ambiente hospitalar, existem medicamentos que podem ser administrados para tentar limpar o sangue, assim como a aplicação de diálise.
O antídoto para metanol é o álcool (etanol). Isso porque a metabolização do etanol pelo fígado pode ajudar a atrasar o metabolismo do metanol e reduzir seu efeito tóxico no corpo. Mas isso tem que ser feito rapidamente.