Romaria do Divino Pai Eterno começou após casal encontrar medalhão sagrado; conheça a história
O objeto foi considerado sagrado e milagroso pela comunidade local, e logo surgiram orações, promessas e manifestações de fé
A Romaria do Divino Pai Eterno, uma das maiores manifestações religiosas do Brasil, completa 185 anos em 2025. Neste ano, a festa será realizada de 27 de junho a 6 de julho, em Trindade (GO), e deve reunir milhões de romeiros vindos de todos os cantos do país. A história da Romaria começou por volta de 1840, quando casal de lavradores Ana Rosa e Constantino Xavier, moradores do povoado de Barro Preto – hoje Trindade – encontrou um medalhão de barro com a imagem da Santíssima Trindade coroando Nossa Senhora, às margens de um córrego. O objeto foi considerado sagrado e milagroso pela comunidade local, e logo surgiram orações, promessas e manifestações de fé.
Para o doutor em História pela UFG, Paulo Afonso, tal achado é um marco simbólico, “pois representa o início de uma devoção que nasceu no campo, de forma simples e comunitária, mas com forte valor espiritual”. A primeira Romaria começou quando Constantino Xavier foi a Pirenópolis encomendar uma imagem maior da Santíssima Trindade e, sem condições de pagar, deixou seu cavalo como pagamento, voltando a pé para Trindade.
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“A primeira festa foi realizada em 1843, organizada por vizinhos e familiares que se reuniam para rezar o terço em capelas de palha. Era uma celebração essencialmente rural e familiar.”, disse. Conforme o historiador, a fé do povo transformou Trindade ao longo do tempo. O que começou como um vilarejo se tornou um dos maiores polos de peregrinação da América Latina. Segundo Paulo Afonso, “a evolução da Romaria acompanha a urbanização de Goiás. Com o crescimento de Goiânia e a construção da Rodovia dos Romeiros (GO-060), a caminhada a pé ganhou destaque como um dos rituais mais marcantes da festa”.
De uma capela de folhas de buriti, passou-se à construção da Igreja Matriz (atual Santuário Velho), em 1912, e mais tarde à Basílica do Divino Pai Eterno, cuja construção começou em 1943. Em 2006, ela foi elevada à categoria de Basílica Menor. Hoje, a cidade também conta com a construção de uma nova Basílica, às margens da GO-060.
“O crescimento da festa exigiu uma nova estrutura. Mas é notável como a fé popular foi capaz de sustentar essa tradição por quase dois séculos. A religiosidade foi passada de geração em geração, unindo famílias, renovando promessas e fortalecendo a identidade de Trindade como cidade da fé”, pontua o historiador.
Multidão, milagres e desafios
A cada edição, a Romaria mobiliza mais milhares de pessoas. Muitos caminham quilômetros até Trindade como forma de pagar promessas ou agradecer graças alcançadas. Para o padre João Bosco de Deus, coordenador da Pastoral dos Carreiros, a festa é “uma entrega profunda ao Divino Pai Eterno, que transforma vidas, cura, restaura famílias e renova a esperança de fiéis”.
Entre os testemunhos mais comuns estão relatos de curas físicas, reconciliações familiares, superação de vícios e bênçãos recebidas. “As pessoas vêm em busca de cura, de paz interior e de uma experiência profunda com Deus. É uma fé que move e transforma”, diz o padre.
Segundo o historiador Paulo Afonso, a magnitude do evento também exige esforço conjunto entre a Igreja, a Prefeitura de Trindade e o Governo de Goiás para garantir infraestrutura, segurança, atendimento médico, banheiros, água potável, alimentação e acolhimento para a multidão.
“Manter o equilíbrio entre a magnitude da festa e o seu caráter religioso é o maior desafio. É necessário muito planejamento para que a fé continue sendo o centro da Romaria, mesmo diante da complexidade logística que ela exige hoje.”
Segundo os organizadores, o segredo da longevidade da Romaria está na fé simples, transmitida dentro das famílias. “Não é apenas uma festa. É um legado espiritual que atravessa gerações. É uma herança que não se perde, porque está viva no coração do povo”, reforça o historiador.
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