Marcha para o Oeste

6 anos sem Toniquinho JK: goiano cuja pergunta ajudou a tirar Brasília do Papel

A ousadia de um jataiense levou JK a reafirmar o compromisso de cumprir a Constituição e iniciar a transferência da capital para o Centro-Oeste

Imagem de Toniquinho JK
A morte de Toniquinho JK completa seis anos (Foto: reprodução)

Antes que a movimentação pela construção de uma nova capital federal tivesse início, um goiano de Jataí tornou-se o centro dos holofotes nacionais em 1955. Tratava-se de Antônio Soares Neto, apelidado como Toniquinho JK após ao questionar o então candidato à presidência da República Juscelino Kubitschek, o JK, sobre o cumprimento da Carta Magna em relação à construção da nova metrópole que viria a se tornar Brasília. “Queremos saber se vossa excelência, eleito, vai mudar a capital da República conforme está previsto na Constituição Federal”. A indagação, foi reconhecida pelo próprio JK como fator que ajudou a impulsionar a construção no Planalto Central e o movimento conhecido como Marcha para o Oeste. A morte do jataiense que ajudou a mudar o rumo do país completa 6 anos nesta sexta-feira (21/11).

Conforme registros da Secretaria Municipal de Cultura do município e do Memorial JK, Toniquinho não era líder político nem alguém acostumado a discursos ou palanques. Era um trabalhador comum de Jataí, desses que atravessam as praças sabendo mais das histórias alheias do que da própria. O episódio que o eternizou surgiu quase por impulso — uma mistura de curiosidade, coragem e a sensação incômoda de que, se ninguém perguntasse, a mudança da capital seguiria apenas como um artigo esquecido dentro da Constituição.

Foto do ex-presidente do Brasil
Juscelino Kubitschek após a construção de Brasília em frente ao Palácio da Alvorada (Acervo Nacional)

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Em um vídeo publicado pela prefeitura em outubro deste ano, em homenagem ao marco “Toniquinho JK: 100 anos”, o autor da pergunta histórica relembra o momento em que decidiu romper o silêncio da multidão. Ele conta que olhou ao redor e viu gente simples como ele — agricultores ainda com a poeira da estrada na roupa, comerciantes que tinham fechado as portas mais cedo para assistir ao comício. Era uma plateia acostumada a escutar promessas, mas raramente a questioná-las.

Imagem registrada no comício
Foto tirada no dia da pergunta em 1955 (Acervo Nacional)

A reação de JK

Quando o evento abriu espaço para que a população questionasse o então candidato, a pergunta de Toniquinho surgiu quase sem planejamento. Quando finalmente saiu, pareceu simples demais para o tamanho da resposta que desencadearia. Mas foi justamente isso que atravessou a multidão: Antônio falou com a simplicidade que cabia na boca de qualquer cidadão, embora poucos tivessem coragem de transformar em voz.

A reação de JK também não veio em forma de grande discurso. Ele próprio relembra que sua resposta ao questionamento inesperado de um possível eleitor foi direta: Se a Constituição exige a construção da nova capital do Brasil, vou respeitá-la e construirei a nova capital do Brasil.” Com aquela frase simples, mas definitiva, cinco anos depois, Brasília deixava de ser apenas promessa para começar a ganhar forma no Planalto Central.

Imagem da época da construção de Brasília
Episódio em Jataí se tornou ponto de partida para a transferência da capital para o Planalto Central (Foto: Arquivo Público do DF/Construção de Brasília)

Vida de Toniquinho JK

Décadas depois da pergunta histórica, quando a capital do Brasil já crescia no Cerrado, Toniquinho continuava vivendo de maneira discreta, sem transformar o episódio em bandeira pessoal. A fama só veio com o tempo, empurrada pelas lembranças e pelos registros históricos. Até que, quando partiu, em 2018, a cidade percebeu que tinha perdido alguém que, mesmo sem querer, tinha conduzido parte do país a um caminho diferente.

Antônio Soares Neto, que perdeu os pais antes de completar 16 anos, cresceu entre responsabilidades precoces e uma vida simples que dividiria mais tarde entre a advocacia e o serviço público, do qual se aposentou. Hoje, seis anos após sua morte, Jataí o recorda não apenas como o homem que fez “a pergunta certa”, mas como alguém que provou que o gesto de uma pessoa comum pode atravessar governos, fronteiras e décadas — e ainda ecoar na paisagem que ele ajudou, mesmo sem imaginar, a transformar.

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