Governo Federal erra ao comprar briga com redes sociais
Tensionar a relação com Mark Zuckemberg e Elon Musk talvez não seja uma solução razoável para a comunicação de Lula

O governo do presidente Lula parece repetir o mesmo erro cometido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro: ao tensionar a relação com as big techs, ele abre espaço para narrativas desfavoráveis que ganham força nas redes sociais. No caso de Bolsonaro, a postura de confronto direto com a imprensa tradicional acabou minando a construção de um discurso coeso e de quebra o isolou em momentos críticos.
Por outro lado, ao adotar uma postura de embate com as big techs, Lula corre o risco de perder o controle sobre a narrativa política nas redes sociais – um ambiente dominado por atores da extrema-direita, como o deputado federal Nykolas Ferreira. O exemplo mais recente dessa fragilidade está na viralização de um vídeo no qual Nykolas sugere que o Pix poderia ser taxado.
O vídeo, que ultrapassou 200 milhões de visualizações, conseguiu duas proezas: forçar o governo a recuar em uma decisão da Receita Federal e obrigar a edição de uma MP proibindo qualquer taxação do Pix. A rapidez e o alcance da narrativa expuseram tanto a falta de reação ágil da Comunicação do Governo quanto a vulnerabilidade do Planalto em lidar com desinformação em redes sociais.
Trata-se de um episódio que mostra o descompasso tanto na comunicação como na articulação política. Embora a regulação das plataformas digitais seja necessária e urgente, a estratégia governamental dá margem para que opositores associem o movimento a um ataque à liberdade de expressão – uma narrativa que, embora equivocada, é facilmente amplificada por algoritmos das plataformas. Brigar contra Mark Zuckemberg e Elon Musk talvez não seja uma solução razoável.
Enquanto isso, os esforços para desmentir boatos e reconquistar a confiança do público não conseguem competir com a força dos influenciadores digitais alinhados à oposição. De quebra, a gestão federal sofre com a perda de credibilidade e falta de confiança do eleitor. Sem uma estratégia mais eficiente e pragmática, Lula corre o risco de enfrentar nas redes o mesmo desgaste que Bolsonaro enfrentou com a imprensa: isolamento, críticas constantes e a dificuldade de consolidar sua narrativa diante da opinião pública.