TRADIÇÃO

Procissão do Fogaréu: entenda a história de 279 anos da Semana Santa na cidade de Goiás

Evento reúne milhares de turistas todos os anos

Procissão do Fogaréu é uma das principais manifestações religiosas da Semana Santa na cidade de Goiás (Foto: Jucimar de Sousa)
Procissão do Fogaréu é uma das principais manifestações religiosas da Semana Santa na cidade de Goiás (Foto: Jucimar de Sousa)

Tradição na cidade de Goiás há 279 anos, a Semana Santa é uma das maiores festividades religiosas do Estado, dispondo de 40 dias de atividades que exaltam momentos de fé e devoção. O evento reúne milhares de turistas todos os anos, sendo realizado pela própria comunidade com o apoio da Diocese de Goiás – Catedral de Sant’Ana e do Governo de Goiás.

A Semana Santa da cidade de Goiás, que rememora a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, possui registros orais da Imagem do Senhor Bom Jesus dos Passos, que veio da Bahia para Goiás, nos braços dos escravos. As cerimônias são compostas por celebrações, motetos, expressões, procissões, música e crenças.

A tradição, que foi repassada de geração em geração, mantém até o presente os ricos detalhes e particularidades, todos preservados ao longo do tempo. Ao todo, nove procissões memoráveis acontecem ao longo dos 40 dias, sendo as mais importantes e históricas, como a do Depósito, Encontro, Transladação, Nossa Senhora das Dores, Ramos, Fogaréuzinho, Fogaréu, Penitentes e do Senhor Morto.

Compreenda as principais procissões da Semana Santa na cidade de Goiás:

Fogaréuzinho

A procissão do Fogaréuzinho é promovida pela Escola Letras de Alfenim em um formato de cortejo antes da Procissão do Fogaréu, sempre na Quarta-feira Santa. O objetivo principal é incluir as crianças na celebração de fé, mantendo viva a tradição e o folclore.

A caminhada começa às 17h, percorrendo diferentes pontos da cidade, com a presença de meninos e meninas vestidos de farricocos enquanto seguram tochas artesanais fictícias.

Fogaréu

Sendo a mais famosa e mais apreciada por turistas, a Procissão do Fogaréu simboliza a busca e a prisão de Jesus Cristo. A tradição é Patrimônio Cultural e Imaterial, que remonta ao século XVIII, com inspiração em um evento originado em Sevilha, na Espanha. Registros apontam que a celebração teve início por volta de 1745, sendo paralisada no início do século XX. Já em 1965, a tradição foi reinventada com a criação da Organização Vilaboense de Artes e Tradições (OVAT), permanecendo ativa até o momento.

A Procissão do Fogaréu começa na Quinta-feira Santa, às 00h, na porta do Museu de Arte Sacra da Boa Morte. Em seguida, os farricocos – homens encapuzados, vestimentas coloridas e suas tochas – saem em direção ao Santuário de Nossa Senhora do Rosário. Ao chegarem no destino, uma encenação é realizada para relatar a última ceia e a presença de Jesus Cristo. Em seguida, a prisão de Cristo é encenada ao som de clarim e, neste momento, a figura do Filho de Deus é representada por uma pintura, frente e costas, feita em linho pela bisneta de Veiga Valle, a Sra. Maria Veiga.

Procissão dos Penitentes

A Procissão dos Penitentes, também reconhecida como Procissão das Almas, acontece na Quinta-Feira Santa, às 23h. O cortejo percorre as ruas da cidade de Goiás ao som de ladainhas e músicas fúnebres, clamando pela alma de fiéis e pessoas mortas.

Na manifestação de fé, as pessoas que acompanham o cortejo se vestem de branco e cobrem o rosto com capuzes. A Procissão tem seu início na Igreja São Francisco de Paula, Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Igreja do Rosário, Sala de Velório da Santa Luzia, Igreja D’Abadia, antigo campo da forca. A caminhada segue por ruas e becos escuros até chegar ao cemitério São Miguel Arcanjo, totalizando um número de sete paradas, simbolizando as sete Dores de Nossa Senhora.

De acordo com Rafael Lino Rosa, professor e pesquisador de ciências da religião, o ato teve origem na Europa, logo após a peste negra. “Após a epidemia, homens e mulheres passaram a realizar penitências (sacrifícios) para que as almas do purgatório fossem libertadas e levadas para o céu. No Brasil, ela passou a ser realizada nas cidades do ciclo do ouro, como Goiás, Mariana, Ouro Preto e Diamantina, por volta de 1700. Hoje, a tradição europeia ibérica traz traços da nossa goianidade e da nossa brasilidade”, ressalta.