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“Calixto chegou no público de um jeito que eu não esperava”, diz ator goiano sobre personagem em Guerreiros do Sol

Novela retoma o 'padrão Globo de qualidade' e chega ao fim aclamada por crítica e público; leia a entrevista com Allan Jacinto Santana

“Calixto chegou no público”, diz ator goiano sobre personagem na novela Guerreiros do Sol entrevista com Allan Jacinto Santana
Allan Jacinto em cena de 'Guerreiros do Sol' (Foto: Reprodução)

Chegou ao fim nesta quarta-feira (6) Guerreiros do Sol, novela da Globoplay ambientada no sertão nordestino das décadas de 1920 e 1930. Com 45 capítulos, o folhetim é livremente inspirado na história de Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros que cruzaram o Nordeste brasileiro. A trama gira em torno de Rosa (Isadora Cruz) e Josué (Thomás Aquino), num emaranhado de paixões, vinganças e sangue derramado.

Criada e escrita por George Moura e Sérgio Goldenberg, com direção artística de Rogério Gomes, a novela agradou à crítica especializada, que destacou o retorno do “padrão Globo de qualidade” em produções dramáticas. A fotografia exuberante de Sergio Tortori, os planos gerais que remetem ao cinema de John Ford e a homenagem sutil à clássica Lampião e Maria Bonita (1982) compõem o conjunto de elementos que colocam a novela entre as mais bem cuidadas da plataforma.

Tem goiano brilhando no sertão

E nesse caldeirão de grandes nomes e cenas intensas — como a que levou Irandhir Santos a ter uma crise de choro após gravar como Arduíno — também tem goiano deixando sua marca. Allan Jacinto Santana nasceu em Anápolis porque, na época, sua cidade no Tocantins estava sem médico, e já morou em várias cidades de Goiás, Tocantins e Distrito Federal. O ator deu vida a Calixto, um jagunço da fazenda de Elói (Zé de Abreu).

Calixto é um homem simples, matuto, observador dos silêncios. Tem uma sagacidade pras coisas e pros acontecimentos, uma sensibilidade até”, define Allan.

Apesar de ser um personagem com pouco tempo de tela, Calixto surpreendeu o público – e o próprio ator: “Chegou nas pessoas de um jeito que eu não esperava. Ele se atreve com um casal muito querido e já entra sem ser bem-vindo (risos). Não tenho Twitter, mas me mandavam prints com os xingamentos. Foi massa!”

Preparação e imersão

A preparação para viver Calixto misturou ensaios conduzidos por Andreia Cavalcanti – preparadora do elenco – com estudos sobre o universo do cangaço. Allan destaca ainda a importância de sua preparadora de prosódia, Íris Gomes da Costa, encontros com os autores e pesquisadores como Frederico Pernambucano, além da releitura de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. “Foi um encontro com o que eu sinto do sertão goiano e tocantinense. Uma honra ser atravessado por aqueles lugares e por quem vive ali.”

Trabalhar ao lado de nomes como Alinne Moraes, Alice Carvalho e Irandhir Santos não foi fácil no começo. “Estava nervoso e ansioso. Sempre sonhei em contracenar com eles. Mas os cuidados que tiveram comigo, que estava chegando, me ensinaram muito. Sou grato pela generosidade.”

A trilha sonora – que mistura Zé Ramalho, Elba, Lenine, Alceu e Chico César – foi essencial para a imersão. “A direção colocava as músicas antes de gravar. Não tinha uma vez que eu não me arrepiava. Ajudava muito a construir o clima.”

Entre as cenas mais marcantes, Allan cita a morte do personagem Fabiano (Marco França): “A violência da cena me fazia tremer por dentro. Se falar mais, dou spoiler”. Mas o momento em que ele teve certeza de estar em um elenco gigante foi fora da câmera: “Tava tomando banho de rio em Piranhas (AL), num dia de folga, quando ouvi o pessoal comentando uma cena de morte. Me emocionei. Era um time sensível, aberto e comprometido.”

Ator formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Allan revela que sempre teve um olhar e pesquisa voltados ao sertão. “O respeito pelos lugares, sotaques e formas de estar tem que ser primordial. Busquei sentir esse sertão como estado de espírito mesmo.”

O fim da novela traz, segundo ele, um recado importante: “Mulheres tomando espaços centrais na narrativa. Isso tem um significado bonito num país que ainda menospreza a força feminina”.

“Calixto chegou no público”, diz ator goiano sobre personagem na novela Guerreiros do Sol entrevista com Allan Jacinto Santana
Allan Jacinto em cena de ‘Guerreiros do Sol’ (Foto: Reprodução)

A coragem de começar – e continuar

Essa foi a estreia de Allan na TV, mas o goiano já marcou presença no Festival de Berlim com os filmes Vento Seco (2020), de Daniel Nolasco, e Fogaréu (2022), de Flávia Neves. Dia 20 de agosto ele volta às telas com PSSICA, minissérie da Netflix dirigida por Quico e Fernando Meirelles.

Entre as produções preferidas, cita o filme O Céu de Suely, de Karim Ainouz, e as novelas A Indomada e Coração de Estudante, folhetim que o inspirou a fazer faculdade. A versão jovem de si mesmo, ele agradeceria: “Obrigado por ter tido a coragem de começar”.

E finaliza com um desejo: “Sou muito grato pelos caminhos que encontrei. Que mais narrativas como Guerreiros do Sol sejam consideradas. E coragem pra nós!”

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