A Criada: humor, drama e erotismo em um grande filme
Chan-wook Park consegue se superar, entregando um dos melhores filmes sul-coreanos dos últimos anos
Depois de uma passagem marcante pelo Cine Cultura, com direito a uma extensão, A Criada retornou à Goiânia para a mostra O Amor, a Morte e as Paixões. É uma nova chance para assistir ou senão pra ver de novo.
O filme conta a história de Sook-Hee, uma ladra e golpista contratada para um plano diabólico. Ela deve servir à Lady Hideko, uma rica senhorita, e convencê-la a se casar com Fujiwara, um falso conde. O plano é que o conde ficará com a fortuna e dará a Sook parte dela.
Porém, as coisas não saem como o planejado: Sook acaba se envolvendo muito mais com Hideko do que gostaria e ambas compartilham o desprezo tanto por Fujiwara quanto pelo tio Kuozuki.
Fascinado pela cultura japonesa e um devasso sádico, o tio se planeja casar com Hideko. Cheio de surpresas e reviravoltas, não se pode contar mais do roteiro sem entregar nada nessa trama cheia de traição e conspiração.
No final das contas, o que podemos dizer é que Chan-wook Park fez de novo: o diretor é, provavelmente o maior cineasta vivo da Coreia do Sul e continua se superando.

Ele consegue um equilíbrio peculiar com A Criada. Há drama, comédia e muito erotismo. Tudo feito com maestria o bastante para fazer Cinquenta Tons de Cinza ficar corado.
Belíssimo, o filme é muito bem filmado, com takes inesperados, uma fotografia muito inspirada e um belo cenário e figurino de época. Novamente, Park encontra a fórmula para o sucesso em uma combinação rara, mas sempre bem-vinda, entre o pop e comercial com o estranho e o experimental. Como em seus outros filmes, há bizarrice de sobra, mas o filme não cai nos clichês típicos de um filme de arte.
Ele já havia usado esta estratégia em outros sucessos seus de crítica e comerciais, como o ótimo Sede de Sangue e a Trilogia da Vingança, encabeçada por Oldboy, adaptação que consegue ser melhor que o mangá original.

É bom ver que cachorro velho pode aprender truques novos: há melhoras e uma amadurecimento claro entre os filmes do diretor de 10 anos atrás em relação ao novo. Estas mudanças, ligeiras às vezes, são vistas em temática e tom.
Especialmente em seu ritmo e humor. Engraçado e debochado em alguns momentos, o filme anda a passos rápidos, fazendo suas 2h20 voarem.
Além de esteticamente deslumbrante, o filme ganha mais pontos por seu roteiro muito bem escrito pelo próprio Park. O enredo brinca com as arapucas clássicas de detetive, enganando e enrolando a audiência repetidas vezes.
Enfim, o que poderia ser um simples melodrama ou um folhetim erótico barato acaba se revelando um filme único por inteiro. Veterano de festivais, vale a pena conferir este título no que pode ser sua última passagem pela capital.