FICA 2016

Filmes sobre ocupação urbana marcam quinta-feira

Entre as demais atividades, exposições, artesanatos e tenda multi-étnica chamam atenção

O segundo dia da mostra competitiva no Cinemão erguido no Antigo Colégio Sant’Anna ao lado da Praça do Chafariz teve filmes brasileiros, goianos e três gringos vindos da Índia, Luxemburgo e México. O indiano Phum Shang conta sobre a desocupação do lago Loktak sob a justificativa de que os pescadores estavam poluindo o lago.

O documentário poderoso não possui narração, apenas cenas encadeadas mostrando a luta dos ribeirinhos contra as forças governamentais: ele reconstróem suas cabanas mesmo com a certeza de que o governo irá derrubá-las logo mais. O cineasta por trás do filme, Haoban Paban Komar, chegou à Cidade de Goiás nesta quinta-feira (18) e irá conversar com a imprensa amanhã.

Já os dois filmes que mais mexeram com o público foram Edifício Tatuapé Mahal, dono de um teor cômico, e o goiano Leblon Marista, ambos formando uma dura crítica à ganância do setor imobiliário, devorando todo o espaço urbano para si.

Tatuapé, das paulistanas Carolina Markowicz e Fernanda Salloum, conta a história do boneco de maquetes imobiliárias Javier Juarez Garcia. Ele vive bem na maquete do Tatuaté Mahal até descobrir que sua mulher o estava traindo com um boneco colorido e melhor acabado. Ele então se transforma em uma boneca “gostosa e colorida” na tentativa de reconquistar o seu amor de plástico.

Já Leblon Marista é um filmagem de câmera parada do empreendimento imobiliário de mesmo nome no Setor Marista em Goiânia. O filme questiona: porque colocar a ideia de um lugar de praia e trazê-lo para o Cerrado? O filme é o quarto curta do cineasta Luciano Evangelista e o curta de estreia do crítico de cinema e editor da revista ]Janela[ Fabrício Cordeiro.

“Em parte sim, o filme surgiu meio por acidente, a gente viu a oportunidade de discutir sobre a cidade, é sobre especulação imobiliária também, mas sobre imagem da cidade, o que fazer com o espaço urbano, um assunto que está sendo muito discutido. Leblon Marista é uma forma de discutir isso fora da nossa roda, de aumentar essa discussão”, comentou Fabrício.

“Eu entrei em contato com essa discussão pelo cinema, em filmes de Fortaleza, e é algo que está sendo falado demais em Goiânia depois do Nexus, um projeto imobiliário muito polêmico na cidade que a gente considera absurdo e que possui uma máquina publicitária absurda”, disse Luciano.

Os dois descobriram sobre a publicidade do Leblon Marista – com praia, rede de vôlei e coco verde – pelo Facebook e tiveram a ideia: “a ideia não é promover um ataque ao setor imobiliário, mas sim a questão: por que trazer a paia pra Goiânia? E ali você entende que é uma área de grande especulação, ao redor com vários prédios sendo construídos”, disse Luciano.

Ambos garantem que não tiveram problemas com a construtora: “É um evento publicitário. A praia esta lá até hoje, você vai lá pra ver folder, eles têm o interesse em fazer a venda do apartamento, né”, disse Luciano.

Ambos ficaram surpresos com a repercussão do filme: “Foi curioso isso de entrar pro FICA”, disse Fabrício, “A gente percebeu que tinha a ver com a temática ambiental e nos inscrevemos. Para um pequeníssimo feito por duas pessoas e filmado em três dias ele tá circulando por onde eu acho que ele tem que circular e em lugares que é mais importante ele circular que diz mais respeito a questões locais”.

 

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Fabrício e Luciano

 

Outras atividades

Além da mostra competitiva, o FICA recebe a mostra ABD de Cinema Goiano, a Mostra Paralela de Cinema Brasileiro, a mostra infantil, e algumas outras, como o Se Liga no FICA, com filmes feitos por alunos de escolas públicas e que ocupam o Cinemão na manhã de sexta-feira (19).

Mas nem só das mostras vive o FICA. Além dos diversos cursos e oficinas disponíveis durante a programação, algumas tendas na Praça do Chafariz oferecem artesanato e obras de arte estão em exposição nelas e em outros pontos da cidade, como o Colégio Sant’Anna.

Mais ainda: a partir do final da tarde, o Coreto da Praça recebe grupos musicais de diversos estilos culminando em atrações principais à noite. Durante a manhã e a tarde, a Tenda Multi-étnica recebe apresentações de diversos grupos étnicos e musicais, desde rodas de samba a danças e músicas típicas de povos indígenas.

Porém, de longe, uma das atividades mais legais é o filme Rio de Lama, de Tadeu Jungle. O documentário possui apenas 10 minutos, mas leva o público em realidade virtual para Mariana, onde pode ver e ouvir de perto o estrago causado pelo maior desastre ambiental do Brasil e ainda dá pra ouvir o depoimento dos moradores que perderam tudo na tragédia. É uma das mais incríveis experiências da mostra que ainda está só começando.

 

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