LUTO NO CINEMA

Morre aos 75 anos o documentarista Silvio Tendler, autor de ‘Jango’ e ‘Glauber, labirinto do Brasil’

Velório será realizado no domingo (7)

Morre aos 75 anos o documentarista Silvio Tendler, autor de Jango e Glauber, labirinto do Brasil
Silvio Tendler (Foto: Reprodução/Youtube)

O cineasta Silvio Tendler, um dos principais documentaristas do Brasil, morreu nesta sexta-feira (5), aos 75 anos, em decorrência de uma infecção generalizada. Ele estava internado no Hospital Copa Star, em Copacabana, no Rio de Janeiro. O velório será realizado no domingo (7), às 10h, no Cemitério Comunal Israelita do Caju, na Zona Portuária, seguido do enterro às 11h.

Com mais de 70 filmes no currículo, Tendler dedicou a carreira a retratar a história política e cultural do país. Entre suas obras mais conhecidas estão Os anos JK — Uma trajetória política (1981), Jango (1984), Marighella, retrato falado do guerrilheiro (2001) e Tancredo: A travessia (2010). Ele também realizou documentários sobre grandes nomes da arte brasileira, como Castro Alves — Retrato falado do poeta (1999), Glauber, labirinto do Brasil (2003) e Ferreira Gullar — Arqueologia do poeta (2019).

Em 1981, dirigiu O mundo mágico dos Trapalhões, sobre o grupo de humor formado por Renato Aragão, Dedé Santana, Zacarias e Mussum. A produção se tornou o documentário de maior público da história do cinema brasileiro, com 1,8 milhão de espectadores, segundo a Ancine.

“Silvio será sempre lembrado pelo espírito combativo, pelo cinema aguerrido, e pela defesa de uma sociedade mais justa e igualitária. Foi um dos pioneiros de um cinema de arquivo entre nós, com dois clássicos absolutos: Os anos JK e Jango, sua obra-prima”, afirmou Hernani Heffner, gerente da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio.

Em 2023, lançou seu último longa, O futuro é nosso!, realizado com entrevistas por videoconferência durante a pandemia. O filme contou com a participação do cineasta britânico Ken Loach. Conhecido como “o cineasta dos vencidos”, Tendler assinou a obra como “um filme utópico de Silvio Tendler”.

“O (diplomata) Arnaldo Carrilho, meu amigo, amenizou essa questão dos ‘vencidos’ ao me chamar de ‘cineasta dos sonhos interrompidos’. Ou seja, tudo recomeça. O título do filme vem da ideia de que, apesar da precarização do trabalho, o movimento sindical não vai desaparecer, e sim se transformar”, disse em entrevista ao GLOBO em junho de 2023.

No mesmo ano, também atuou como fotógrafo e curador da exposição Resistência retiniana, no Sesc Niterói, e estreou no teatro como dramaturgo e diretor com a peça Olga e Luís Carlos, uma história de amor, no Sesc Copacabana.

Desde 2011, Tendler convivia com dificuldades de locomoção após um problema congênito que quase o deixou tetraplégico. Após cirurgia, recuperou parte dos movimentos e seguiu em atividade. Sua trajetória foi registrada no documentário A arte do renascimento — Uma cinebiografia de Silvio Tendler, de Noilton Nunes.

Em abril de 2025, o cineasta relatou em entrevista a dificuldade de financiar novos projetos. “Tudo que fiz no cinema e pelo cinema não contabilizou nada”, afirmou, destacando que recebia pontuação nos editais apenas por ser cadeirante. Ainda neste ano, foi condecorado com a Ordem do Mérito Cultural.

Nascido no Rio de Janeiro em 2 de março de 1950, Tendler começou sua trajetória nos cineclubes cariocas na década de 1960. Estudou Direito na PUC-Rio antes de se dedicar ao cinema. Em 1970, mudou-se para o Chile após a vitória de Salvador Allende e, dois anos depois, seguiu para a França, onde concluiu os estudos em Cinema e História. Em Paris, teve contato com o cineasta Jean Rouch, que o incentivou no documentário.

Ao retornar ao Brasil no fim da década de 1970, iniciou a produção de Os anos JK e passou a lecionar na PUC-Rio, onde atuou como professor por mais de 40 anos. “A PUC-Rio expressa sua solidariedade à família, aos amigos e à comunidade cultural neste momento de perda, e rende gratidão por sua contribuição acadêmica e humana, que permanecerá viva na história da Universidade”, informou a instituição em nota de pesar.

Silvio Tendler deixa a filha, a produtora Ana Tendler, o neto Ernesto, e dois animais de estimação: o cão Camarada, da raça cane corso, e a calopsita Renê.

Com informações do O Globo

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