Cinema

Mostra exibe O Colar de Coralina, em homenagem à poetisa

Filme com Letícia Sabatella narra um pouco da imaginação fértil da escritora goiana

A Mostra o Amor, a Morte e as Paixões trouxe para Goiânia uma preciosidade local: o filme O Colar de Coralina, longa em homenagem à Cora Coralina e sua imaginação fértil quando criança. Dirigido por Ronaldo Gontijo, o filme possui pontos fortes e fracos, mas consegue ser uma homenagem à altura de Cora.

O elenco é capitaneado por Letícia Sabatella, sempre excelente, no papel de dona Jacinta, mãe da poetisa. Sabatella passa bem a imagem da mãe rígida e independente que teve que se virar após a morte do marido.

O filme se passa na infância de Cora e tem um foco muito específico: a imaginação fértil de Aninha. A produção dá vida às “viagens” da menina que vivia com a cabeça nas nuvens, enchendo o cenário de cores e criaturas folclóricas. De todas estas cenas, o destaque fica com um breve trecho de animação.

Nele é narrado o proibido caso de amor de um casal chinês narrado no prato azul pombinho: relíquia mais preciosa da bisavó de Cora, trazido de Macau há várias gerações. Prato esse que tem, inclusive, tudo a ver com as narrativas que permeiam todo o longa.

Algumas características marcantes da poetisa são retratadas: sobre como era magrela e desastrada, sobre como vivia caindo por aí e, é claro, sobre como preferia ler a fazer qualquer outra coisa.

Esteticamente, O Colar de Coralina é muito bonito e muito bem filmado. Tendo a Cidade de Goiás como pano de fundo, os casarões e as ladeiras logo ganham vida e cores próprias. Quando os frutos da imaginação exagerada da menina são somadas à equação, a cidade exala um ar folclórico.

Mas o que mais chama a atenção é a trilha sonora. Muito boa, ela mistura viola e ritmo popular com orquestra. Os arranjos são tão envolventes que eu facilmente poderia passar o dia ouvindo a trilha.

O filme naturalmente também apresenta alguns problemas, de modo geral técnicos. Há um ou outro erro crasso de continuidade e os sinais de modernidade, como registros de água e tampas de esgoto, invadem as cenas externas ocasionalmente.

O maior problema, porém, é o roteiro. O filme opta por uma série de anedotas de infância de Cora em detrimento de uma história linear. O resultado é que o filme parece desconexo, incongruente.

Além disso, ele sofre com diálogos. Embora seja competente a maior parte do tempo, há falas risivelmente forçadas em alguns momentos e que quebram de maneira completa a imersão.

Fora isso, o filme é competente e que faz um ótimo trabalho dentro das limitações rígidas do cinema independente. Infelizmente, ele só será exibido na mostra mais uma vez neste sábado. É uma boa pedida para quem quer saber um pouco do que temos de bom, 100% made in Goiás.