espetáculo

Rosalía fala de Elis Regina e pão de queijo em show que une arte e entretenimento

Quem via no fragmentado, ousado e definitivamente criativo “MOTOMAMI” uma verdadeira sinuca de bico para…

Cantora espanhola fez seu primeiro show no Brasil. Rosalía fala de Elis Regina e pão de queijo em show que une arte e entretenimento
(Foto: Fabricio Moretti)

Quem via no fragmentado, ousado e definitivamente criativo “MOTOMAMI” uma verdadeira sinuca de bico para a cantora Rosalía resolver no palco teve que dar o braço a torcer. O que a cantora espanhola de 29 anos fez desse disco ao longo das quase duas horas de show, na noite da última segunda-feira (22), no Espaço Unimed, em São Paulo, é um desses milagres da arte aliada ao entretenimento.

Em seu primeiro (e, por enquanto, único) espetáculo no Brasil, Rosalía transformou o seu manifesto da pandemia, disco de espasmos dançantes, rirmos brutos, violentamente experimentais e faixas densas, de alta voltagem emocional, em um todo coeso e empolgante. E tudo isso apenas com bem sacados recursos de vídeo, um eclético grupo de oito dançarinos e um jeito de moleca que dobraria o mais carrancudo dos mortais.

“Saoko” e a peralta “Bizcochito” abriram o set como bombas — ainda mais em uma casa lotada de um público jovem que se produziu com afinco para a festa e que demonstrava conhecer todo o repertório de “MOTOMAMI”. Com igual fervor, esse público respondeu ao bolero transgênico “La fama” e a pungente “Dolerme”, na qual uma Rosalia toda de vermelho sacou de uma guitarra para acompanhar-se — momentos mais densos em que ela se valeu da beleza do seu balé e da cinematografia proporcionada pelo cameraman que a circulava, ao vivo.

Entre o espanhol, o inglês e uma tentativa de português, Rosalía foi ganhando ainda mais um a plateia que já estava em suas mãos — falou de Elis Regina e de pão de queijo, passou o seu alfabeto no palco com os alunos e elogiou a criatividade dos presentes que recebeu. Mas não aliviou na hora de cantar a faixa-titulo do novo disco, um primor de estranheza, com piano e algumas batidas hiperprocessadas. Que a cantora tenha conseguido arrastar o público para esse seu mundo de contrastes ferozes é algo que mostra o tamanho a artista que ela é.

E alternância seguiu, entre a alegria reggaeton de “Linda” e “La noche de anoche” (essa, originalmente um dueto com Bad Bunny), os arroubos artísticos em “Diablo” e a emoção à flor da pele em “Hentai” (a apoteose de sua enorme voz) e “Pienso en tu mirá”. Já em “La combi Versace”, dramaticidade e beats selvagens se uniram em mais um dos híbridos improváveis e irresistíveis de Rosalía.

A noite poderia ter seguido até altas horas nessa montanha russa de emoções – e foi quase isso, dada a disposição de ambas as partes, artista e público. Assim, para cada “Con altura”, “Chicken Teriyaki” (dançada com patinetes) e “CUUUUuuuuuute” (que encerrou a noite com uma batucada digna de uma escola de samba digital), Rosalía também entregou a tensão e a introspecção de “Aislamiento” e a tristeza de “Sakura” e de “Como un G” (nesta, por sinal, ela derramou sinceras lágrimas).

E assim foi — quem viu, viu. Diante de um público repleto de divas nacionais (de Marina Sena e Tulipa Ruiz a Majur), a espanhola pagou com sobras a alta aposta que havia feito com “MOTOMAMI”. E ainda abriu no Brasil a temporada 2022 de shows de grandes nomes do pop mundial — com o sarrafo lá no alto, essa é que é a dura verdade para quem chega ao Rock in Rio…