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Babi Domingos garante melhor colocação do Brasil no individual geral em mundiais de ginástica rítmica

Alemã Darja Varfolomeev fatura o ouro. Melhor marca brasileira era da própria Babi, que terminou em 11º em 2023. Geovanna Santos terminou em 18º

Babi ficou no top 9 do individual geral
Foto: Gaspar Nóbrega/CBG

O público responsável por uma grande festa na Arena Carioca 1, ontem, no Rio de Janeiro, presenciou um resultado histórico para o Brasil. Bárbara Domingos e garantiu a nona colocação na final do individual geral do 41º Mundial de Ginástica Rítmica ao somar 112.200 pontos nos quatro aparelhos (bola, arco, maças e fita). Foi o melhor resultado do país na competição — o recorde anterior era dela, em 2023, em Valência, a 11ª colocação. Pela primeira vez, o país teve duas finalistas. Geovanna Santos terminou na 18ª posição, com 107.450 pontos.

Durante todas as apresentações dos quatro aparelhos — bola, arco, maça e fitas —, a torcida vibrou muito e coroou a alemã Darja Varfolomeev como a campeã da competição individual, com 121.900 pontos. A búlgara Nilolova Stiloana ficou com o vice-campeonato (119.300 pontos) e a italiana Sofia Raffaeli, adotada pelo público, completou o pódio com 117.950 pontos.

As brasileiras ouviram seus apelidos — Babi e Jojo — sendo cantados em todas as oportunidades. Mas não foi só para elas que o público fez festa: cada lançamento de aparelho que aterrizava nas mãos (ou nas costas, nos pés, nos joelhos) das ginastas era comemorado como se fosse um gol. A italiana Raffaelli Sofia caiu nas graças do público, que também entoou seu nome.

A apresentação da ucraniana Taiisia Onofriichuk foi, em diversos momentos, acompanhada por um coro de palmas. A alemã Anastasia Simakova foi aplaudida de pé e ainda teve direito a um coro de “Parabéns para você”. Os erros foram tão ou mais aplaudidos que os acertos: o público incentivou e comemorou todas as ginastas que sofreram nos aparelhos, e foram recompensados com acenos de gratidão das atletas.

Nada disso, no entanto, se comparava ao frisson despertado pelas brasileiras. Quando entravam no tablado, Babi e Jojo faziam a arquibancada tremer. Nas maças — seu aparelho com mais erros ontem — Babi entregou uma performance impecável: ela teve a nota de 29.100, a maior de todas as 18 ginastas, embalada por uma versão de Garota de Ipanema que misturava versões em inglês e português.

No arco, sob o tema do filme Rei Leão, ela evocou uma verdadeira Leoa e fez o público rugir. Ela somou a maior nota do primeiro grupo (122.200), mas terminou a parcial na segunda colocação, já que a búlgara Eva Brezalieva atingiu a mesma nota e levou a vantagem pelo maior somatório de execução. Foi a última vez que ela se apresentou com a série, que representa para ela a garra e a coragem da leoa.

Babi treinou sem lentes de contato

Garra foi crucial para Babi nas duas últimas semanas. Ela precisou treinar sem as lentes de contato — que ela usa para corrigir os oito graus de miopia, além do astigmatismo — por conta de uma inflamação no olho esquerdo. Inicialmente, tentou usar a lente apenas no olho direito, mas sentiu tonturas, e descartou a ideia. Além disso, também não se adaptou aos treinos com óculos. No final, ela conseguiu transformar a dificuldade em uma oportunidade de aprimorar sua performance.

— Foram treinos agonizantes, eu não enxergava nada, chorava todos os dias. Quando eu era pequena, eu treinava sem lente, só comecei a usar aos 12 anos, então tive que aprender muito sobre o tempo dos aparelhos e dos lançamentos. Então, por um lado, treinar “às cegas” foi bom porque deixou meus movimentos e lançamentos mais precisos. Foi um desafio muito grande, mas a gente conseguiu passar por cima dele.

No final, ela ficou com a 9ª posição, um feito impressionante para quem pensava em abandonar as competições no início da temporada. Aos 25 anos, Babi conta que recebe “pressões e críticas cruéis” de quem acha que ela está “muito velha” para a competição. Para driblar as cobranças, ela adotou uma postura mais focada no presente, de “um passinho de cada vez”. Ela tem no horizonte o sonho de chegar às Olimpíadas de Los Angeles-2028, mas acha que ainda é cedo para pensar no torneio. A principal lição é de que, neste momento, os planos de aposentadoria já foram devidamente engavetados.

— Esse campeonato me impulsionou ainda mais a continuar. Foi muito bom ter essa troca com o público. A gente já sabia que poderia ser assim, mas superou todas as nossas expectativas — conta ela, ressaltando que as trocas com a treinadora Mayara Ehlke foram essenciais para ela continuar competindo. — No início do ano, falei que queria muito continuar na ginástica, mas mais tranquila, mais leve. Falei que ia deixar a vida me levar, me dedicar igualmente, mas não me pressionar tanto. E sou uma Babi diferente depois das Olimpíadas, o meu amadurecimento me ajudou muito a chegar até aqui.

O nome de Jojo também foi exaltado pelo público. Tanto que, em um movimento de piruetas, a torcida contava os giros enquanto eles iam acontecendo, e ao cravar o décimo, foi ovacionada pelos presentes. Mas cometeu diversos erros na fita, último aparelho da sua rotação, e terminou na última posição, cinco lugares abaixo das classificatórias. Ela ficou na 18ª colocação e não conteve as lágrimas no tablado e após deixar o espaço de competição, mas garantiu que o momento era de felicidade.

— São lembranças que eu vou levar para o resto da minha vida, participar de um Mundial, o maior da história, aqui na nossa casa. É difícil tentar encontrar alguma palavra que descreva tudo isso, estou me sentindo muito feliz e grata. Eu falei que queria ser feliz e leve, mesmo dentro da pressão, conseguir transparecer isso da melhor forma possível. É um choro de alívio e gratidão.

Por Agência O Globo