Inclusão no esporte

Felipe Nunes, skatista sem pernas compete com atletas sem deficiência

O skatista sofreu um acidente quando tinha seis anos. O garoto saiu da escola com amigos para brincar numa linha de trem. Ele precisou amputar as duas pernas após o ocorrido

Felipe compete contra atletas sem deficiências desde o início de sua trajetória no esporte. Foto: Divulgação

Felipe Nunes, paranaense de 23 anos, é skatista profissional, participou do Super Crown neste mês e é “apadrinhado” por Tony Hawk. Tudo isso com uma diferença em relação aos demais competidores: ele não tem as duas pernas.

COMO SURGIU  A PAIXÃO PELO SKATE

Felipe sofreu um acidente quando tinha seis anos. O garoto saiu da escola com amigos para brincar numa linha de trem. Ele precisou amputar as duas pernas após o ocorrido.

O menino ganhou um skate aos 13 anos de idade e utilizou-o como meio de locomoção. Felipe havia encontrado dificuldades para se adaptar à cadeira de rodas e preferiu se transportar através de quatro rodinhas.

“Eu usava a cadeira de rodas e era tudo muito difícil, conseguir pegar o ônibus ou algo do tipo, sempre estava precisando de ajuda de alguém. E sempre fui bem independente. Sempre quis fazer as coisas sozinho, tentar. Quando ganhei o skate, facilitou a minha vida por completo. O skate virou minhas pernas”, disse Felipe Nunes, ao UOL

A pretensão de virar esportista não foi imediata. Felipe conta que o desejo de participar de campeonatos veio em um segundo momento, após ele aprender manobras. O jovem se destacou e ganhou alguns dos torneios que disputou, adquirindo reconhecimento na cena do skate.

“Queria conhecer pessoas que só via em vídeos de skate, ou só ouvia falar da boca dos outros. Fui criando sonhos dentro do skate. Viajar para fora do mundo, participar de campeonatos, o que é lendário até hoje”, disse Felipe Nunes.

PARTICIPAÇÃO EM MODALIDADES NÃO ADAPTÁVEIS

Felipe compete contra atletas sem deficiências desde o início de sua trajetória no esporte. A cena do paraskate não era estabelecida quando o paranaense passou a participar de torneios. Dessa forma, ele precisou se destacar num ambiente adverso.

“Se não tiver jeito nenhum, eu aceito. ‘Não, isso realmente não dá para mim’. Mas dá tudo, sim. Se você realmente quiser, você consegue. Vejo as pessoas mandando manobras, participando dos campeonatos e falo: ‘Por que eu não posso junto com eles também?”, disse Felipe Nunes.

Em dezembro, ele participou participou do Super Crown, a última etapa da principal liga de skate do mundo. Felipe foi convidado para substituir o medalhista olímpico Kelvin Hoefler, lesionado. O primeiro paratleta a disputar o torneio na história ficou em terceiro lugar na sua bateria, ficando de fora das finais.

“Sempre tinha um ou outro que falava ‘Você vai mandar manobra com a mão, não vale’. Eu não ligava porque era um ou outro. O resto, a família de skate, me abraçou. No skate não tem nenhum tipo de preconceito, nunca me trataram mal, sempre muito bem, sempre quiseram que eu participasse dos campeonatos junto com eles. Eu me sinto muito acolhido dentro do skate”, disse Felipe Nunes.

Felipe também participa de competições de paraskate e acumula títulos na modalidade. Um de seus sonhos é representar o Brasil em uma edição dos Jogos Paralímpicos. A modalidade não estará no programa de Paris-2024, mas é cogitada para aparecer em Los Angeles, quatro anos depois.

OPORTUNIDADES E EXPOSIÇÃO

Felipe foi ‘apadrinhado’ por uma das maiores lendas do skate mundial: Tony Hawk. O norte-americano bancou a viagem do brasileiro, à época com 18 anos, para participar de uma competição na Flórida.

“Ele me recebeu de braços abertos para a família dele, me colocou na marca dele, me profissionalizou pela marca dele também. A gente tem uma amizade fora do skate, também incrível”, disse Felipe Nunes.

O patrocínio da Birdhouse Skateboards, empresa de Hawk, não é o único acordo comercial de Felipe. O paranaense consegue apoio em um cenário que nem sempre é positivo aos paratletas.

“Eu continuei sendo eu, continuei andando de skate, fazendo o que eu amo. Sempre autêntico, do meu jeito, com o meu estilo de manobras. Querendo ou não, as pessoas acabaram olhando para o meu skate, para as coisas que eu conseguia fazer. Acredito que por isso que acabaram me dando esse espaço também”, disse Felipe Nunes.

A meta dele é ter um 2024 com mais viagens internacionais e mais tempo para treinar. Outro objetivo de Felipe é voltar a concorrer ao prêmio de Skatista do Ano, honraria da CBSk (Confederação Brasileira de Skate).