CORONAVÍRUS

Azitromicina não tem eficácia contra covid-19, mostra estudo brasileiro

O antibiótico azitromicina, segundo remédio mais usado no mundo no tratamento de casos graves da covid-19, é ineficaz…

Primeiro caso no país de reinfecção de Covid-19 com nova variante é identificado em Salvador
Primeiro caso no país de reinfecção de Covid-19 com nova variante é identificado em Salvador

O antibiótico azitromicina, segundo remédio mais usado no mundo no tratamento de casos graves da covid-19, é ineficaz para combater a doença nesse estágio. Foi o que comprovou uma das maiores pesquisas do mundo feita pela coalizão que integra Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet). Os resultados foram publicados no periódico científico The Lancet nesta sexta-feira (4).

Os 397 pacientes com covid-19 que participaram do estudo foram divididos, por sorteio, em dois grupos. No primeiro, 214 pessoas receberam azitromicina e o tratamento padrão, que incluía medidas de suporte hospitalar, como oxigênio, usode outros medicamentos como antivirais e também a hidroxicloroquina, que era parte tratamento para covid-19 quando a pesquisa foi iniciada, em março. No segundo grupo, 183 pessoas passaram pelo mesmo tratamento padrão, mas sem aazitromicina.

O resultado foi o mesmo entre os dois grupos. Uma análise feita 15 dias após o início dos tproccedimentos mostrou que oremédio não trouxe melhoras na evolução clínica dos pacientes.

– Nosso estudo mostra que a azitromicina para pacientes graves, que precisam de oxigênio, estão entubados, não deve ser rotineiramente prescrita, porque não traz nenhum benefício. O remédio só deve ser usado se, juntamente com a covid-19, o paciente for diagnosticado com uma pneumonia bacteriana, o que eventualmente pode acontecer. – afirmou à coluna o cardiologista e pesquisador Renato Lopes, diretor da Brazilian Clinical Research Institute e integrante do comitê executivo da Coalizão Covid-19 Brasil.

Além de não apontar benefícios no uso da medicação, a pesquisa mostrou que a azitromicina pode piorar a função renal em alguns casos. As estatísticas não chegaram a ser significativas, mas os números sinalizaram que o quadro de insuficiência renal foi um pouco mais elevado no grupo que usou o antibiótico.

– No mínimo isso nos alerta a não usar rotineiramente esse remédio, porque ele não traz benefício nenhum e pode, eventualmente, causar algum efeito adverso. – afirmou Renato Lopes.

Na avaliação do médico e pesquisador, o estudo brasileiro causará uma “mudança de 180 graus” em diretrizes mundiais e protocolos que vêm sendo adotados no combate de casos graves da covid-19.

– Esperamos que, com esse estudo, muitos protocolos que indicavam o uso rotineiro da azitromicina sejam revisados e reformulados para que ela só seja aplicada em casos de exceção, como quando há, também, uma infecção bacteriana associada à covid-19. O achismo não deve guiar a prática médica, porque quando achamos uma coisa a chance de estarmos errados é grande. Esse estudo vai guiar diretrizes mundiais.

Renato Lopes diz que não é possível afirmar se a azitromicina também é ineficaz para pacientes com sintomas leves, mas avalia que, se o remédio não funcionou em casos graves, raramente tem resultado nos mais amenos. Hoje, o remédio mais usado no mundo contra a covid-19 é a cloroquina, apesar de estudo já terem demonstrado que essa medicação também é ineficaz contra a doença.