Brasileiro gasta R$ 170 mil para tentar vida nos EUA e é deportado após entrar no país
Carlos voltou para o Brasil no último sábado (25)

Carlos Vinicius de Jesus, 29 anos, natural de Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), viu seu sonho de uma vida melhor nos Estados Unidos se transformar em um pesadelo. Após gastar cerca de R$ 170 mil — dinheiro que juntou com a venda de sua casa e moto —, ele foi deportado para o Brasil no último sábado (25), junto com outros 87 brasileiros. A história foi contada pelo próprio Carlos em entrevista ao UOL.
Carlos, que trabalhava como frentista, decidiu tentar a sorte nos EUA após se inspirar em vídeos de brasileiros que conseguiram prosperar no país. Ele havia solicitado um visto americano, mas o pedido foi negado. Mesmo assim, em maio de 2023, ele partiu para uma jornada arriscada, que incluiu passagens pelo Panamá, Guatemala e México, em uma tentativa de entrar ilegalmente nos Estados Unidos.
A travessia foi marcada por momentos de medo e dificuldades. Carlos relatou ao UOL que quase morreu de frio ao caminhar por horas em uma floresta na fronteira entre o México e os EUA. Ele também enfrentou a fuga da polícia mexicana e a travessia de um rio em um barco superlotado, onde temeu por sua vida. “Eu não sei nadar, a maioria do meu dinheiro já tinha acabado, fiquei com medo do barco virar”, contou.
Após finalmente cruzar a fronteira e entrar em San Diego, Carlos foi preso pela patrulha migratória dos EUA. Ele passou oito dias em uma cela conhecida como “geleira”, onde imigrantes são mantidos em condições precárias, com frio intenso e sem acesso a serviços sanitários adequados. Em seguida, foi transferido para uma prisão na Califórnia, onde ficou detido por oito meses. Durante esse período, ele solicitou asilo, mas, sem perspectiva de resposta, optou pela deportação.
O retorno ao Brasil foi traumático. Carlos foi algemado e acorrentado durante todo o voo, que partiu de Louisiana e fez escala em Manaus. No caminho, os deportados enfrentaram problemas técnicos no avião, como falta de ar-condicionado e comida, além de restrições ao uso do banheiro. A situação levou a um protesto dentro da aeronave, e uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) foi enviada para completar o voo até Belo Horizonte.
De volta ao Brasil, Carlos expressou arrependimento pelas escolhas que fez. “Perdi todo o meu dinheiro, mas estou vivo”, disse ao UOL. Ele agora planeja recomeçar a vida no país, mas ainda não sabe como. “Estou aceitando qualquer trabalho porque tenho que sustentar meus dois filhos. Quero ajudar as pessoas a não cometerem o mesmo erro que eu. Não recomendo que ninguém tente entrar ilegalmente nos EUA. Eu quase morri lá”, afirmou.
A deportação de Carlos faz parte de um acordo entre Brasil e Estados Unidos, em vigor desde 2018, que permite a deportação de brasileiros em situação irregular no país norte-americano. O caso de Carlos serve como um alerta sobre os riscos e desafios enfrentados por aqueles que buscam uma vida melhor no exterior de forma ilegal.