Incêndio em Hong Kong: 128 mortos e 80 corpos não identificados
Feridos vão a 79, e situação de 200 pessoas ainda é incerta
O incêndio em Hong Kong, que resultou em 128 mortos e deixou 80 corpos não identificados, expôs falhas graves no sistema de prevenção do conjunto residencial Wang Fuk Court [assista aos vídeos do incêndio]. Logo após as equipes concluírem o combate às chamas, o Corpo de Bombeiros confirmou que os alarmes das oito torres não funcionaram, apesar dos testes realizados recentemente. A tragédia reacendeu cobranças por responsabilidades e levantou dúvidas sobre a segurança do complexo, inaugurado em 1983 e composto por quase 2 mil unidades residenciais.
Alarmes que não tocaram e responsabilidade da empreiteira
Relatos de moradores que conseguiram escapar das chamas apontavam que nenhum alarme foi disparado. A suspeita foi confirmada pelo diretor do Corpo de Bombeiros, Andy Yeung Yan-kin, que afirmou que a corporação irá processar a empreiteira responsável pela reforma devido ao mau funcionamento dos equipamentos. Dos 128 mortos, 108 já foram encontrados dentro dos prédios.
Entre as vítimas, 80 corpos seguem não identificados, segundo o secretário de Segurança, Chris Tang Ping-keung — que também informou que cerca de 200 pessoas permanecem desaparecidas.
- Incêndio em prédios residenciais de Hong Kong; assista aos vídeos
Possibilidade de encontrar mais vítimas
De acordo com Tang, não está descartada a chance de que mais corpos sejam encontrados conforme a polícia avance nas investigações dentro das estruturas danificadas. Ao todo, 79 pessoas ficaram feridas, incluindo 12 bombeiros.
As autoridades trabalham agora para resfriar completamente o edifício, permitindo que a polícia colete evidências com segurança.
Moradores já haviam alertado sobre riscos
A tragédia se agrava diante de uma informação revelada por autoridades locais: no ano passado, os moradores foram informados de que o risco de incêndio era “relativamente baixo”, mesmo após diversas reclamações sobre as reformas realizadas nos prédios.
Segundo o Departamento do Trabalho de Hong Kong, residentes questionavam desde setembro de 2024 o uso de uma malha protetora verde altamente inflamável e a presença de andaimes de bambu que circundavam os edifícios.
Famílias buscam respostas e encaram dor da identificação
Enquanto bombeiros concluíam o combate ao fogo, as famílias das vítimas enfrentavam a dura tarefa de tentar identificar corpos por meio de fotografias feitas por socorristas.
Mirra Wong, de 48 anos, contou que ainda procurava informações sobre o pai:
“Apenas olhei uma foto que talvez seja do corpo do meu pai. O corpo do meu pai ainda está desaparecido aqui”, disse.
Outra moradora, que preferiu não se identificar, afirmou que a esposa de um amigo está entre os desaparecidos. “Racionalmente falando, não há esperança. Mas os corpos ainda precisam ser encontrados. É muito doloroso”, desabafou.
As doações para o fundo de auxílio às vítimas já ultrapassaram US$ 100 milhões.
Falhas estruturais e investigações em andamento
A polícia informou que várias das telas de proteção e plásticos utilizados nos prédios eram materiais que não atendiam aos padrões básicos de segurança contra incêndios. Janelas de alguns blocos também estavam seladas com espuma instalada por uma empresa de manutenção.
“Temos motivos para acreditar que a empresa foi extremamente negligente, permitindo que o fogo se alastrasse de forma descontrolada”, afirmou Eileen Chung, superintendente da polícia.
A Comissão Independente contra a Corrupção prendeu mais seis pessoas suspeitas de envolvimento com as reformas, além de dois diretores da construtora que já haviam sido detidos.
Maior tragédia do tipo em décadas
O caso marca o incêndio mais mortal em Hong Kong desde 1948, quando 176 pessoas morreram em um fogo em um armazém. As investigações sobre as causas e responsabilidades continuam, enquanto a cidade tenta lidar com a dimensão da tragédia.