COMPORTAMENTO

Por que os alemães estão bebendo menos cerveja? Consumo cai a níveis históricos em 30 anos

Mudanças nos hábitos de consumo provocam a queda da cerveja na Alemanha

Por que os alemães estão bebendo menos cerveja? Consumo cai a níveis históricos em 30 anos
Homem com cervejas (Foto: Pixabay)

Se tentarmos imaginar um alemão em ação, provavelmente virá à mente a imagem de um jovem de bermuda e suspensórios de couro ou de uma jovem de bochechas rosadas em trajes tradicionais da Baviera carregando meia dúzia de canecas transbordando de cerveja. O problema não é considerar uma imagem típica da Baviera como se toda a Alemanha fosse igual: o verdadeiro desafio é que são os próprios alemães que estão perdendo o gosto pela bebida que um dia os definiu.

Em 1º de agosto, o Departamento Federal de Estatística da Alemanha anunciou que as vendas de cerveja cairiam para menos de 4 bilhões de litros no primeiro semestre de 2025 — o menor número desde o início dos registros, em 1993. Vinte anos atrás, em 2005, o alemão médio consumia 112 litros de cerveja por ano; hoje, esse número está abaixo de 90 litros.

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A Alemanha continua sendo o sexto maior mercado de cerveja do mundo, mas os alemães costumavam beber mais cerveja por pessoa do que qualquer outro país — com exceção dos insaciáveis tchecos — e agora ocupam apenas o oitavo lugar em consumo per capita. Para piorar, o declínio está se acelerando, e o consultor Gerrit Blümelhuber afirma que algumas cervejarias já entraram em pânico.

O recuo no consumo tem causas conhecidas: a população alemã está envelhecendo e as gerações mais jovens mostram menos interesse por álcool. Alguns apontam o preço, embora seja difícil associá-lo aos US$ 17,40 por caixa de Paulaner nos supermercados. A queda no consumo em restaurantes e hotéis está ligada a problemas mais amplos que afetam o setor. No entanto, o declínio no consumo de vinho é muito mais discreto. “Na Alemanha, há uma sede perceptível por cerveja, mas não o suficiente para justificar uma terceira ou quarta taça”, observa Volker Kuhl, CEO da cervejaria C&A Veltins.

O único vislumbre de esperança parece vir do setor de cervejas sem álcool, que já representa quase um décimo de toda a produção alemã (embora seu consumo não conste nas estatísticas oficiais). Hoje, é raro encontrar uma cervejaria que não ofereça versões sem álcool. A primeira dedicada exclusivamente a elas foi inaugurada em Munique no ano passado. Mestres cervejeiros alemães estão testando novas técnicas, como o uso de leveduras selvagens, que não fermentam todo o açúcar durante a produção. Mas a histórica Reinheitsgebot, a “Lei Alemã de Pureza da Cerveja”, que estabelece rigorosamente o que pode ser comercializado como cerveja, não é exatamente um convite à inovação, alerta Markus Raupach, da Academia Alemã de Cerveja.

Mesmo sob as previsões mais otimistas, a cerveja sem álcool jamais conseguiria compensar a queda no consumo da cerveja tradicional. Nem as exportações, que estão caindo ainda mais rápido do que as vendas internas e que agora sofrerão com as tarifas impostas por Donald Trump.

Quase 100 cervejarias alemãs fecharam nos últimos cinco anos, e muitas outras devem seguir o mesmo caminho. Para a indústria, a ressaca é inevitável.

Via O Globo