Sem corte salarial

Portugal vai testar semana de quatro dias de trabalho

Trabalhador local já teve oportunidade de ter semana de quatro dias úteis em troca de redução salarial de 20%, entre 1999 e 2014

Portugal testa semana de quatro dias de trabalho
(Foto: Agliberto Lima/Fotos Públicas)

Esta sexta-feira poderia ser um dia de folga em Portugal, caso a semana de quatro dias de trabalho estivesse em vigor. Incluída na Agenda do Trabalho Digno, aprovada ontem em Conselho de Ministros, a proposta entrará em fase de estudos e será testada voluntariamente pelo setor privado em um projeto-piloto. A alternativa também estará sob análise para funcionar na administração pública.

A iniciativa é do partido Livre, de centro-esquerda. Foi incluída no Orçamento de Estado, após aprovação dos deputados da Comissão de Orçamento e Finanças, e gerou amplo debate em vários segmentos da economia. Projeto similar consta no programa de governo.

A proposta do Livre sugere que “o governo promova o estudo e a construção de um programa piloto que vise analisar e testar novos modelos de organização do trabalho, incluindo a semana de quatro dias em diferentes setores e o uso de modelos híbridos de trabalho presencial e teletrabalho”. Prevê que o estudo avance este ano.

A Agenda de Trabalho Digno é um conjunto de 70 medidas legislativas que estabelece alternativas e esclarece regras sobre a organização dos modelos de trabalho. O documento ainda não tem consenso geral dos parceiros sociais do governo.

Forças sindicais não desaprovam a semana de quatro dias e estão abertas ao debate, desde que a medida não aumente a carga horária e promova demissões ou redução salarial ao cortar um dia de trabalho.

O governo admite a preocupação, mas decidiu seguir adiante com uma espécie de laboratório no setor privado após desenvolver o estudo com a participação dos parceiros sociais. A intenção seria proteger os trabalhadores.

A ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, mencionou outro estudo para desenvolver a semana de quatro dias também na administração pública. Entre 1999 e 2014, esteve em vigor a semana de quatro dias no Estado, que implicava redução salarial de 20% para o funcionário que aderisse voluntariamente. A adesão foi baixa. O governo descartou cortes desta vez.

— O princípio é garantir que os modelos sejam desenvolvidos numa lógica de avanços da qualidade de vida e capacidade de conciliação da vida profissional e familiar — disse Godinho.

Parte das companhias flexibilizaram a semana de trabalho desde o pico da pandemia de Covid-19 e algumas praticam os quatro dias. Ou permitem um dia de teletrabalho ou de trabalho híbrido (metade no escritório, metade em casa). Mas ainda falta consenso sobre os parâmetros, apesar de a ministra garantir que empresas já manifestaram interesse em participar do projeto.

A Agenda do Trabalho Digno será transformada em projeto e remetida para aprovação global no Parlamento, onde o Partido Socialista, do primeiro-ministro António Costa, tem a maioria absoluta.