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Reino Unido decide parar de compartilhar informações de inteligência com os EUA

Reino Unido tomou decisão depois de os americanos protagonizarem uma série de ataques letais na região do Caribe

Reino Unido decide parar de compartilhar informações de inteligência com os EUA (Foto: Pixabay)
Reino Unido decide parar de compartilhar informações de inteligência com os EUA (Foto: Pixabay)

(O Globo) O Reino Unido deixou de compartilhar informações de inteligência sobre embarcações de supostos narcotraficantes nas águas caribenhas com os Estados Unidos depois de os americanos protagonizarem uma série de ataques letais na região. De acordo com a CNN, as autoridades britânicas alegam que o país não quer ser cúmplice dos bombardeios, tidos por eles como ilegais. Na segunda-feira, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, confirmou novas ofensivas militares contra embarcações suspeitas de transportar drogas por meio de rotas no Pacífico. Seis pessoas morreram nos ataques, elevando o número de mortos total para 76 em 19 ações.

A decisão dos britânicos é sintomática, e demonstra a fragilidade legal da política antidrogas chefiada pela Casa Branca no Caribe. Durante anos, as nações exerceram uma troca constante de informações de inteligência, algo que está sendo colocado em xeque agora, justamente pelo temor de que os dados sejam usados pelos americanos para selecionarem seus alvos, disseram as fontes.

Segundo a CNN, a suspensão das operações começou há mais de um mês. Antes, isso envolvia a abordagem das embarcações, a prisão de suas tripulações e a apreensão das drogas.

“Ontem, sob as ordens do presidente [dos EUA, Donald] Trump, dois ataques letais com munição real foram realizados contra duas embarcações operadas por Organizações Terroristas Designadas”, escreveu Hegseth em uma publicação na rede social X, canal pelo qual tem divulgado imagens dos afundamentos. “Ambos os ataques foram realizados em águas internacionais e havia três narcoterroristas do sexo masculino a bordo de cada embarcação. Todos os seis foram mortos. Nenhum militar americano ficou ferido”.

Assim como nas operações anteriores, Hegseth afirmou que os afundamentos foram autorizados com base em informações de “inteligência”, que teriam confirmado que os barcos “estavam associados ao contrabando de narcóticos” e “transportavam drogas”. O secretário de Defesa acrescentou também que as embarcações “transitavam por uma rota conhecida de narcotráfico no Pacífico Leste”.

Uma das embarcações parecia estar parada, com dois passageiros visíveis e possivelmente com um motor de popa fora da água. A outra estava em alta velocidade.

Diversos especialistas em leis que regem o uso da força denunciam as mortes como ilegais, pois as Forças Armadas dos EUA não têm permissão para alvejar intencionalmente civis que não representam ameaça iminente de violência, mesmo aqueles suspeitos de serem criminosos. O governo Trump afirma que os ataques são legais porque o republicano “determinou” que os Estados Unidos estão em um conflito armado formal com os cartéis de drogas — que o presidente equiparou a organizações terroristas no começo de seu mandato.

O Pentágono mantém atualmente cerca de 10 mil soldados na região, divididos aproximadamente de forma igualitária entre oito navios de guerra na região e bases em Porto Rico. A presença militar deve aumentar ainda mais com a chegada do porta-aviões Gerald R. Ford, que transporta cerca de 5 mil marinheiros e possui mais de 75 aeronaves de ataque, vigilância e apoio, incluindo caças F/A-18. A chegada do porta-aviões e de três contratorpedeiros é esperado ainda para esta semana.

Washington reativou instalações de uso militar no Caribe e na América Central e adaptou estruturas civis para comportar presença militar, em meio à campanha na região. Especialistas afirmam que a medida aumenta as tensões não apenas com os cartéis, mas também com governos locais, sobretudo o da Venezuela, que acusa os EUA de promoverem um cerco com objetivo de derrubar o regime de Nicolás Maduro.