ESTADOS UNIDOS

Suspeito planejou ataque nos EUA por semanas e fugiu vestido de mulher, diz polícia

Arma usada no massacre foi comprada legalmente no estado de Illinois; motivação do crime ainda é desconhecida

Suspeito planejou ataque nos EUA por semanas e fugiu vestido de mulher, diz polícia (Foto: Reprodução)
Suspeito planejou ataque nos EUA por semanas e fugiu vestido de mulher, diz polícia (Foto: Reprodução)

O ataque a tiros que deixou seis mortos em Highland Park, subúrbio de Chicago, foi planejado “por várias semanas”, disse a polícia local nesta terça-feira. A arma usada no massacre de segunda foi comprada legalmente pelo homem de 21 anos, que fugiu da cena do crime vestido de mulher para se disfarçar com a multidão e esconder suas tatuagens.

Robert E. Crimo III foi preso após uma breve perseguição policial em Lake Forest, cidade próxima ao local do ataque. Ele é suspeito de ter disparado mais de 70 vezes com um fuzil, de cima de um telhado, contra centenas de pessoas que assistiam à parada de 4 de Julho, o Dia da Independência nos EUA.

De acordo com o vice-chefe da polícia, Christopher Covelli, acredita-se que o suspeito, usando as roupas femininas, conseguiu se misturar à população após o ataque até chegar na casa de sua mãe. Lá, pegou o carro da mulher para fugir — plano que foi interrompido após o veículo ser reconhecido por uma pessoa que ligou para os serviços de emergência:

— De acordo com o que sabemos até agora, neste ponto da investigação (…) acreditamos que Crimo planejou este ataque por várias semanas — disse o policial, ressaltando que as informações são preliminares e podem mudar.

A arma usada no crime foi comprada legalmente no estado de Illinois, que já tem algumas das regras mais restritas para a venda de armamentos nos EUA. Uma outra arma foi encontrada dentro de carro usado na fuga.

Em uma entrevista à emissora CNN, a prefeita da cidade, Nancy Rotering, disse que Crimo deve ser formalmente acusado ainda nesta terça e que suas postagens on-line “refletiam um plano e um desejo de realizar uma carnificina” há muito premeditado. As gravações, disse Covelli, estão sendo avaliadas.

A motivação também é uma incógnita, mas está sendo “discutido” com o suspeito e não há indícios de que tenha sido catalisado por questões religiosas ou raciais. De acordo com as autoridades, tudo indica que o homem agiu sozinho e que suas vítimas foram escolhidas de forma “completamente aleatória”.

Crimo, que é conhecido pelo apelido Bobby, usa o nome profissional de “Awake the Rapper” e tinha modestos 16 mil ouvintes mensais no Spotify. Vários vídeos e músicas compartilhados nas redes sociais fazem referências visuais e textuais a massacres e a responsáveis por ataques notórios. Há, por exemplo, uma menção a Lee Harvey Oswald, que matou o então presidente John Kennedy em 1963.

A prefeita da cidade de 30 mil habitantes disse que ela mesma conheceu o suspeito, que fez parte do grupo de escoteiros que comandava:

— Há muitos anos, ele era apenas um menino. Um menino quieto que eu conhecia — disse Rotering à CNN. —Parte o meu coração. Absolutamente parte o meu coração. Vejo essa foto e, no meio das tatuagens, vejo aquele menininho.

Nas fotos divulgadas pela polícia e pelos perfis do suspeito nas redes, é possível ver que é um homem branco, com cabelos pretos longos e de baixa estatura. Tem tatuagens no rosto e no pescoço, incluindo uma acima de sua sobrancelha esquerda onde se lê “Awake”.

De acordo com a prefeita, o crime é um desses “que faz a gente dar um passo para trás e perguntar: o que aconteceu? Como alguém ficou tão enraivecido, com tanto ódio? E depois descontar nas pessoas inocentes que só estavam tendo um dia em família”. O foco, afirmou a política, deve ser no combate às armas:

— Há armas de guerra nas nossas ruas, que as pessoas podem obter legalmente e depois matar dezenas de pessoas — afirmou.

O ataque veio uma semana e meia após o presidente Joe Biden assinar uma rara legislação bipartidária que impõe restrições à venda de armas de fogo no país e cria regras para mantê-las distantes de pessoas consideradas perigosas. Mesmo modestas, as medidas são as mais significativas neste sentido.

Coincidem também com uma escalada da violência armada nos EUA: o ataque a tiros foi o décimo quinto neste ano com ao menos quatro mortos, segundo um levantamento da Gun Violence Archive, uma organização sem fins lucrativos. Quando leva-se em conta os incidentes com com ao menos quatro baleados, o episódio de segunda foi o 309º do ano.

Não está claro, contudo, se a medida seria suficiente para impedir o massacre de segunda. E, se Illinois já tem uma das leis mais restritivas dos EUA sobre a venda de armas, é cercada por estados onde o acesso é muito mais fácil.

O ataque fez com que espectadores e políticos saíssem correndo da parada do Dia da Independência, após perceberem que o barulho não vinha de fogos de artifício, mas de tiros.