Trump ameaça atacar qualquer país que venda drogas para os EUA
Trump disse que poderia atacar alvos em terra, repetindo uma ameaça feita na semana passada
(O Globo) O presidente dos EUA, Donald Trump, disse que qualquer país envolvido na venda de drogas para os Estados Unidos poderá ser atacado, em uma aparente expansão de suas ameaças militares que, de acordo com a Casa Branca, têm como alvo os cartéis do narcotráfico na América Latina. Durante uma longa reunião de Gabinete, marcada pelos elogios de seus subordinados, ele também prestou apoio ao secretário da Guerra, Pete Hegseth, acusado de violar condutas militares em um dos mais de 20 bombardeios de barcos acusados de ligação com o tráfico.
Diante dos dos repórteres, já ao final da reunião, Trump disse que poderia atacar alvos em terra, repetindo uma ameaça feita na semana passada, quando disse que eles aconteceriam “muito em breve”.
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— É muito mais fácil, e nós conhecemos os trajetos que eles percorrem. Sabemos tudo sobre eles. Sabemos onde eles moram — afirmou Trump.
No fim de semana, após a declaração unilateral de que o espaço aéreo venezuelano deveria ser considerado “fechado”, aumentaram os rumores sobre uma fase da operação Lança do Sul, que Caracas considera ser um plano para remover o presidente Nicolás Maduro do poder. Mas nesta terça ele foi além, dizendo que a Venezuela não era seu único alvo em potencial.
— Qualquer um que fabrique isso (drogas) e venda para o nosso país está sujeito a ataques. Não apenas a Venezuela — disse o presidente, que pouco antes havia citado a Colômbia como um dos países produtores de drogas na região, e cujo presidente, Gustavo Petro, tem desferido pesadas críticas à Casa Branca, que o renderam uma inclusão na lista de sanções dos EUA.
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Nos últimos meses, os EUA incrementaram a presença militar no Caribe, oficialmente em uma missão contra os cartéis do tráfico, chegando aos atuais 15 mil soldados e oficiais, além de aeronaves de combate e navios de guerra, como o porta-aviões USS Gerald Ford. Em setembro, os militares começaram a atacar barcos que, de acordo com o Pentágono, eram usados pelos traficantes para transportar drogas, sem jamais apresentar provas. Ao todo, 21 barcos foram destruídos, deixando 83 mortos.
Um dos ataques, justamente o primeiro, se tornou um ponto de atrito entre o governo Trump e o establishment político americano: na sexta-feira, uma reportagem do jornal Washington Post afirmou que, no dia 2 de setembro, um barco foi bombardeado pelos EUA no Caribe, mas que dois tripulantes sobreviveram. Segundo a publicação, o comandante responsável determinou um novo bombardeio, no mesmo local: duas pessoas que acompanharam o ataque, citadas pelo Post, disseram que “a ordem era matar todos”, determinação vinda do próprio Hegseth. Os 11 tripulantes do barco morreram.
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Ao lado de Trump, Hegseth disse que acompanhou apenas o primeiro bombardeio “antes de seguir para uma reunião”, e que ficou sabendo do segundo ataque horas depois. Mesmo assim, defendeu o comandante que tomou a decisão final, o almirante Frank Bradley.
— [Bradley] afundou o barco, afundou o barco e eliminou a ameaça. E foi a decisão certa. Nós o apoiamos, e o povo americano está mais seguro, porque os narcoterroristas sabem que não se pode transportar drogas pela água e, eventualmente, para terra — afirmou o secretário, descrevendo que o barco estava em chamas após ser atingido. — Eu, pessoalmente, não vi sobreviventes.
Trump defendeu Hegseth, mas disse que não recebeu informações detalhadas sobre o que aconteceu.
— Eu não sabia do segundo ataque. Não sabia nada sobre as pessoas. Eu não estava envolvido e sabia que eles tinham afundado um barco — disse o presidente
Não está claro se as explicações serão suficientes para aplacar as críticas, vindas até da base republicana.
“Não é permitido, segundo as leis e os costumes da guerra honrosa, ordenar que não se ordene aplicar força letal àqueles que se rendem ou que estão feridos, náufragos ou de alguma forma incapazes de lutar”afirmou o senador republicano Rand Paul, em suas redes sociais.
No mesmo tom, Mike Turner, republicano de Ohio, disse em um programa de TV que “obviamente, se isso aconteceu, seria muito sério, e concordo que seria um ato ilegal”. Alguns parlamentares querem ter acesso às imagens do ataque — Hegseth acompanhou a ação em tempo real —, mas o presidente da Câmara, Mike Johnson, parece reticente.
— Não tenho certeza do quanto disso é sensível em termos de segurança nacional — disse aos repórteres nesta terça-feira no Capitólio. —Não tive a oportunidade de analisar, então não vou me precipitar em nenhum julgamento.