90 anos de Iris Rezende Machado
Para a filha do político, Ana Paula Rezende, o dia 22 de dezembro sempre foi e será motivo de celebração, pois "é dia de Iris Rezende Machado"
Com Alexandre Bittencourt
Iris Rezende Machado, um dos mais expressivos políticos de Goiás, completaria 90 anos nesta sexta-feira (22). Ex-prefeito de Goiânia e ex-governador do Estado, ele morreu aos 87 anos, depois 3 meses meses internado para tratar de um AVC, em 9 de novembro de 2021, uma terça-feira.
Muitas autoridades lembraram da data de aniversário. Entre elas, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), que sempre se orgulhou da amizade com o emedebista. “Eu sempre tive admiração enorme pela sua sabedoria. As suas experiências e toda a sua competência sempre me motivaram. Iris foi um verdadeiro tocador de obras, o homem dos mutirões”, escreveu nas redes sociais.
Para o governador, Iris foi um apaixonado por Goiás. “Ao lado dele, tive a honra de ser senador e governador”, disse e completou: “E me lembro sempre das suas palavras com saudade: ‘Caiado, o político só pode saber o que está acontecendo se ele estiver ouvindo a população.'”
Já o vice-governador e presidente do MDB – partido que sempre abrigou Iris -, Daniel Vilela, disse que o ex-prefeito deixa “boas lembranças e grandes saudades”. “Iris Rezende sempre passou o 22 de dezembro do jeito que mais gostava: rodeado de gente. Em sua festa de aniversário, recebia com a mesma satisfação os ministros da república e os moradores da sua querida Vila Mutirão.”
Quase retornando ao MDB, o ex-prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha (PRD), também prestou homenagens. “Há 90 anos nascia o maior líder político do nosso Estado: Iris Rezende Machado. Seu nome será sempre lembrado por gestos que transformaram vidas, sejam os mutirões ou as boas conversas.” Para ele, “Iris faz falta.”
Filha
Filha do ex-prefeito e presente nos últimos anos políticos do pai como fiel escudeira, Ana Paula Rezende não esqueceu as homenagens. Para ela, o dia 22 de dezembro sempre foi e será motivo de celebração, pois “é dia de Iris Rezende Machado”.
“Por anos, foi dia de festa para os goianos, que iam com alegria ao encontro de quem sentiam e mostravam tanto carinho. Agora, sem sua presença física, é dia de saudade e de lembrança da trajetória extraordinária que nos inspira”, narra. “Dia do meu pai, digo com orgulho, político incansável, gestor eficiente, homem público que conquistou o povo pelo carisma, a confiança é uma história de grandeza pública imensurável e com uma vida em família de completa simplicidade.”
Ainda segundo ela, foi um privilégio viver ao lado de Iris, que “escolheu o povo” e “dedicou sua vida a servir e trabalhar por ele”. Para ela, fica uma dúvida: se o emedebista “tinha a exata dimensão do quanto foi amado também. Um amor tão grande, tão forte e tão verdadeiro que me alimenta todos os dias. Por onde vou, as pessoas falam dele com carinho, me abraçam e me agradecem. Agradecem por ele, como se o correto não fosse o contrário: eu agradecer cada um por ele – em seu nome e por lhe dedicarem tamanho sentimento verdadeiro e nobre”.
Além de Ana Paula, Iris também era pai de Adriana e Cristiano.
Bem-sucedido
Ex-prefeito de Goiânia e ex-governador, Iris foi mais longevo e bem-sucedido político da história de Goiás, tendo iniciado a carreira aos 16 anos, como candidato a vereador em Goiânia pelo PTB. Foi presidente da Câmara Municipal. Em 1966, foi eleito para o primeiro dos seus quatro mandatos de prefeito. Esta passagem de Iris pela prefeitura foi interrompida antes da hora pelo regime militar que começava naquela época, e que escolheu Leonino Caiado para ser o prefeito interventor na Capital.
A trajetória política de Iris ficou sobrestada até o ocaso da ditadura. Embalado pelo crescimento do único partido de oposição nos anos 1980, o PMDB, Iris liderou a campanha pelas eleições diretas para presidente da República (Diretas Já) em Goiás e elegeu-se governador em 1982. Como uma estrelas do PMDB, foi convidado pelo então presidente José Sarney para ser ministro da Agricultura cargo que ocupou entre 15 de fevereiro de 1986 a 14 de março de 1990.
Ao fim do seu primeiro mandato como governador, Iris bancou a candidatura do então aliado Henrique Santillo a governador. Santillo elegeu-se, mas a relação entre os dois logo azedou e o PMDB cindiu. Surgiria uma dissidência da qual faria parte, por exemplo, o futuro governador Marconi Perillo. Santillo teve quatro anos difíceis como governador, pressionado por Iris – que voltaria ao cargo em 1991.
Tanto o primeiro quanto o segundo mandato de Iris no governo foram embalados pelo forte crescimento do agronegócio, que impulsionou a arrecadação do Estado. O governo fez sua parte abrindo e pavimentando rodovias importantes para escoamento da produção. O programa mais marcante das suas administrações é o mutirão da casa própria. Em entrevistas, Iris disse que, com a mão de obra das pessoas da região, foram construídas mil casas em um único dia.
Em 1994, Iris foi eleito senador e apoiou a candidatura do seu vice, Maguito Vilela, a governador. Após três anos de mandato, aceitou convite do então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) e virou ministro da Justiça. Ficou na pasta entre maio de 1997 e abril de 1998). O ex-prefeito desincompatilizou-se do ministério para enfrentar a eleição em que sofreria a maior derrota da sua carreira política.
Iris perde eleição para Marconi
Em 98, Iris apresentou-se como franco favorito para renovar o ciclo de poder do PMDB, que havia começado com ele próprio em 1983. O sentimento foi de surpresa quando Maguito disse que não seria candidato à reeleição para apoiar Iris (que largou com mais de 70% das intenções de voto). Contra ele havia um pequeno grupo de políticos do PP e do PSDB – alguns oriundos do santillismo. Um deles era Marconi Perillo (PSDB).
A derrota de Iris para Marconi ainda é o episódio mais cinematográfico da história política de Goiás. Marconi conduziu uma campanha com o discurso pautado na renovação e no combate ao que ele chamava de panelinha. Iris perdeu a dianteira nos últimos dias do primeiro turno e a derrota se consolidou no segundo. Os dois anos seguintes foram de reclusão em suas fazendas. Nem as famosas festas de aniversário, em que recebia milhares de pessoas com galinhada, churrasco e bebidas, foi promovida.
Iris tenta retomar carreira como candidato ao Senado
Dois anos depois, Iris levantou a poeira e se lançou candidato ao Senado. Veio então o segundo revés. Ele foi derrotado por Demóstenes Torres (PFL) e Lúcia Vânia (PSDB). O meio político pensava que aquele era o fim da carreira política de Iris. Mas, em vez de se aposentar, ele optou por dar um passo atrás e disputar a prefeitura de Goiânia. Venceu Pedro Wilson (PT) e consagrou-se prefeito pela segunda vez.
Iris foi reeleito com absoluta tranquilidade. Em meados do terceiro mandato, renunciou para disputar o governo outra vez com Marconi. O PSDB triunfou de novo, mas a popularidade de Iris permaneceu alta a ponto de ele conseguir pavimentar a eleição do prefeito Paulo Garcia (PT), que por alguns anos foi o seu vice.
Iris e Paulo começaram a se desentender desde os primeiros meses do mandato do petista. Mas não houve troca pública de ataques. O que se passou nesse período foi uma guerra fria que durou três anos e só chegou a termo no momento em que Iris anunciou que seria candidato a prefeito (pela última vez) e disse que havia sido um erro apoiar Paulo.
Em agosto de 2020, Iris anunciou que não seria candidato à reeleição. Foi quando o MDB decidiu lançar a candidatura de Maguito Vilela a prefeito. Maguito venceu, mas morreu em janeiro de 2021.
Um dos últimos atos políticos de Iris, talvez, tenha sido a articulação de uma aliança do MDB com Caiado (DEM), seu amigo. Em 24 de setembro, a parceria se tornou oficial com o anúncio de Daniel Vilela, filho de Maguito e presidente do MDB Goiás, como vice do governador em 2022.