ELEIÇÕES

Alckmin virá sozinho a Goiás para atenuar resistência do agro a Lula

No esforço para atenuar a resistência de parte dos empresários e do agronegócio ao projeto…

Lewandowski, do STF, manda trancar ação contra Alckmin derivada da Lava Jato
Lewandowski, do STF, manda trancar ação contra Alckmin derivada da Lava Jato (Foto: Redes sociais - Geraldo Alckmin)

No esforço para atenuar a resistência de parte dos empresários e do agronegócio ao projeto eleitoral do ex-presidente Lula, o staff da campanha petista decidiu que o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), pré-candidato a vice na chapa, virá a Goiás e viajará para outros cinco estados sozinho com o objetivo de estreitar laços com esses segmentos. São eles: Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Tocantins.

O que esses estados têm em comum é a presença de uma forte base de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL). No dia 18 de junho deste ano, o Mais Goiás divulgou levantamento do instituto Goiás Pesquisas que mostrou que o capitão reformado do Exército tinha, naquela ocasião, a preferência de aproximadamente 49,57% dos eleitores goianos. Lula tinha 32,52% das intenções de voto.

A turnê de Alckmin começa depois do dia 5 de agosto, prazo final para a realização de convenções e registro de candidaturas. Estipulou-se esse calendário com o objetivo de evitar constrangimentos nos estados em que a aliança entre PT e PSB ainda está sob discussão. Em Goiás, por exemplo, a negociação continua em andamento e o presidente diretório regional do PSB, deputado federal Elias Vaz, admite que a legenda pode se aliar a candidaturas que não estão no tradicional espectro da esquerda.

Outro caso que o staff petista acompanha de perto é o de Santa Catarina, em que o ex-deputado Décio Lima (PT) e o senador Dário Berger (PSB) são pré-candidatos ao governo e ainda não selaram um acordo sobre a cabeça de chapa. Os catarinenses devem ser os primeiros a receber a visita de Alckmin.

Em busca do “agricultor raiz”

A investida do vice vai mirar no que os seus estrategistas de campanha têm definido como “agricultor raiz”, ou seja, produtores de pequeno e médio porte, ao invés do empresário “rural emergente”, mais adepto a Bolsonaro. A avaliação do PT é a de que a rejeição do setor a Lula está mais vinculada ao segundo grupo.

Interlocutores de Alckmin envolvidos na elaboração dessas agendas trabalham para identificar locais que sejam férteis para conquistar um possível apoio a Lula ou ao menos reduzir a rejeição. Há uma expectativa de que as movimentações do ex-governador, que teve uma longa trajetória política no PSDB, podem se tornar um trunfo para evitar, por exemplo, que entidades empresariais ou religiosas emitam notas contrárias ao candidato do PT antes das eleições, assim como ocorreu em 2018, quando Fernando Haddad era o presidenciável do partido.

— Alckmin tem habilidade. Ele vai cumprir missões espinhosas que normalmente o titular não está disposto a cumprir. Às vezes, não convence todos, mas convence a alguns As conversas podem gerar frutos eleitorais e políticos — sintetiza o presidente do PSB, Carlos Siqueira, que tem aconselhado o ex-governador de São Paulo.

Na mesma semana em que Alckmin deverá visitar Santa Catarina, o vice pretende desembarcar em Mato Grosso, onde o PSB costura agendas com empresários dos ramos de algodão e soja, entre outros. O presidente do partido no estado, Max Joel Russi, avalia que o ex-governador de São Paulo tem nas mãos a chave para destravar portas que Lula corre o risco de não abrir.

— Os produtores locais têm menos resistência e uma simpatia pelo nome do Alckmin. Ele pode entrar mais no campo do pequeno agricultor. O médio e o grande já estão com Bolsonaro — diz Russi.

A médica e empresária do ramo da saúde Natasha Slhessarenko (PSB-MT), pré-candidata ao Senado, deve acompanhar Alckmin em encontros com o setor privado em Mato Grosso.

Alckmin em Goiás

A segunda fase das viagens de Alckmin prevê uma passagem por Goiás e Tocantins. A ida do ex-tucano ao estado da região norte é vista como uma chance de quebrar resistências ao PT. A ideia é buscar uma aproximação com a senadora Kátia Abreu (PP-TO), ex-presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), liderança política e do setor agrícola no estado. A avaliação de dirigentes partidários é a de que o caminho estará mais aberto para o vice se o petista mantiver ou aumentar a diferença nas pesquisas de intenção de votos para Bolsonaro, que era de 19 pontos em junho, segundo o Datafolha.

— Dependendo das áreas, o agro está fechado com Bolsonaro, mas há setores que ainda não estão. O Tocantins recebeu muito bem Alckmin em 2018 — afirma o presidente do PSB no Tocantins, Carlos Amastha.