Alvo da megaoperação Carbono Oculto doou R$ 10 mil para campanha de Marçal
Goiano terminou em terceiro lugar na disputa pela prefeitura de São Paulo
Um dos alvos da Polícia Federal (PF) na megaoperação Carbono Oculto, na última quinta-feira (28), doou R$ 10 mil para a campanha de Pablo Marçal (PRTB) à prefeitura de São Paulo em 2024, quando o goiano terminou em terceiro lugar. A informação foi divulgada pelo Metrópoles nesta quarta-feira (3). A ação da PF, na última semana, cumpriu 200 ordens de busca, apreensão e prisão contra 350 suspeitos ligados a um esquema bilionário de fraudes no setor de combustíveis (por meio de adulteração), controlado pelo PCC, em dez estados brasileiros, inclusive Goiás.
Conforme apurado, o empresário Gabriel Cepeda Gonçalves é dono de 23 postos de combustíveis suspeitos de ligação com a facção criminosa. Integrantes da família dele são acusados de usar uma rede de laranjas para lavagem de dinheiro. Fora Marçal, o investigado também doou R$ 9 mil para o diretório do Republicanos de Guarulhos, na Grande São Paulo.
O deputado estadual Jorge Wilson, “o Xerife do consumidor”, concorreu à prefeitura do município pelo Republicanos, no ano passado. Ele, que já foi líder do governo de Tarcísio de Freitas na Assembleia Legislativa (Alesp), disse ao Metrópoles que “todas as doações ao diretório são legais e estão transparentes” e que “não há como saber sobre a vida particular de cada doador”.
O Mais Goiás não conseguiu contato com Pablo Marçal e nem com o Gabriel Cepeda Gonçalves. O espaço segue aberto.
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Megaoperação
Conforme as investigações, importadoras traziam Nafta e diesel do exterior com recursos de empresas ligadas aos criminosos. As distribuidoras, então, revendiam com fraudes e sonegavam impostos, além de adulterar os combustíveis com metanol para potencializar os lucros.
Foi apurado, ainda, que os mais de mil postos envolvidos recebiam pagamentos em espécie e máquinas de cartão, e registravam como valores legais. A movimentação estimada, entre 2020 e 2024, foi de R$ 52 bilhões, com baixa arrecadação de impostos. Apenas uma Fintech ligada ao grupo movimentou R$ 46 milhões nos quatro anos.
Ainda sobre a lavagem de dinheiro, os suspeitos investiam em fundos e bens, como caminhões, usinas, bem como imóveis e fazendas, e mais. Durante a megaoperação, a investigação também solicitou bloqueio de R$ 7,6 bilhões na tentativa de recuperar R$ 7,6 bilhões em tributos estaduais. Mais de mil postos participavam da lavagem de dinheiro, conforme a Receita Federal, Ministério Público e Polícia Militar.
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Adulteração de combustíveis
De acordo com as investigações, o alvo principal é a importação irregular de metanol, produto usado na adulteração de combustíveis. O material chegava ao Brasil pelo Porto de Paranaguá (PR), mas não era entregue aos destinatários registrados nas notas fiscais. Em vez disso, era desviado e transportado clandestinamente, com documentação falsificada e sem as mínimas condições de segurança, colocando em risco motoristas, pedestres e o meio ambiente.
Esse metanol era encaminhado para postos e distribuidoras controlados pela organização criminosa, onde servia para adulterar gasolina e etanol, aumentando de forma ilícita a margem de lucro. Os investigadores já identificaram mais de 300 postos de combustíveis em diferentes regiões do país que atuavam nessas fraudes.
A operação envolve cerca de 1.400 agentes públicos e além do Estado acontece em São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Santa Catarina. A ação é coordenada por órgãos como o Ministério Público de São Paulo (Gaeco), Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal e as polícias Civil e Militar de São Paulo.
Esquema do PCC
O esquema utilizava importadoras de fachada que compravam no exterior nafta, hidrocarbonetos e diesel. O financiamento dessas compras era feito por formuladoras e distribuidoras também ligadas ao grupo criminoso. Entre 2020 e 2024, os investigados teriam importado mais de R$ 10 bilhões em combustíveis de forma ilegal.
Na etapa seguinte, as empresas adulteravam os produtos e deixavam de pagar tributos nas vendas, repetindo o processo em larga escala. Isso permitia ao grupo abastecer postos a preços mais baixos, desequilibrando a concorrência e ampliando seus ganhos.
Lavagem de dinheiro com Fintechs
Outro ponto levantado pela investigação foi o uso de fintechs, empresas de tecnologia financeira que oferecem serviços como transferências e pagamentos digitais. Diferente dos bancos tradicionais, essas plataformas funcionam de maneira mais ágil e com menos burocracia.
No esquema, fintechs criadas ou controladas por laranjas movimentavam grandes quantias por meio de contabilidade paralela, permitindo transferências sem a identificação dos beneficiários finais. Isso dificultava o rastreamento do dinheiro e ajudava a lavar os lucros ilícitos.
Bloqueio de bens e prejuízo fiscal durante a megaoperação
Para tentar recuperar parte do dinheiro que foi sonegado, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) entrou na Justiça para bloquear bens dos investigados. Entre os bens estão imóveis, empresas e carros de luxo, totalizando mais de R$ 1 bilhão.
Além disso, a Receita Federal já identificou que R$ 8,67 bilhões em impostos federais deixaram de ser pagos por pessoas e empresas envolvidas no esquema. Esse valor corresponde a tributos que deveriam ter sido recolhidos em importação, produção e venda de combustíveis adulterados.
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