BASTIDORES DA POLÍTICA

Ano legislativo começa com ameaças a Rogério Cruz; base tenta minimizar

Vereadores ligados à oposição prometem aberturas de CEI's contra a gestão; prefeito diz que movimento faz parte

Rogério Cruz discursa na abertura dos trabalhos da Câmara dos Vereadores; ao seu lado, Aava Santiago (PSDB) que promete levar à cabo duas CEI's: no Imas e na Educação (Foto: Câmara dos Vereadores de Goiânia)

O ano legislativo na Câmara Municipal de Goiânia, iniciado nesta terça-feira (6), tende a ser marcado por uma relação tensa entre um bloco de vereadores e o prefeito Rogério Cruz (Republicanos) com ameaças de abertura de novas Comissões Especiais de Inquérito contra a gestão e até mesmo um pedido de impeachment. A base tenta apaziguar e regular o termômetro da pauta para matérias que os aliados julgam ser de interesse para o município.

É do Bloco Vanguarda, liderado pelo vereador Igor Franco (Solidariedade), que as ofensivas mais duras acontecem. O vereador, que há até pouco tempo tinha o irmão, Diogo Franco (Solidariedade), na Secretaria de Desenvolvimento e Economia Criativa, mudou a postura nas redes sociais e trabalha nos bastidores para a abertura de uma CEI da Saúde e também diz abertamente que intensificará um pedido de impeachment contra a gestão do prefeito. 

Líder do prefeito na Câmara dos Vereadores, Anselmo Pereira (MDB), tenta minimizar as movimentações e diz que são naturais. “A base do prefeito está trabalhando para gestionar não só a defesa destes acontecimentos. Se for necessário, estaremos prontos”, salienta. Ele diz que a estratégia será calibrar a pauta no dia-a-dia do legislativo. “Mas estamos aqui para aprovar os projetos mais importantes da Prefeitura. Falta uma lei para o Programa Habitacional Social de Goiânia que é muito mais relevante do que esses assuntos”, salienta.

Já a vereadora Aava Santiago quer patrocinar pelo menos duas Comissões Especiais de Inquérito: uma para investigar irregularidades no Instituto de Assistência à Saúde dos Servidores Municipais de Goiânia (Imas) e outra na Educação. A parlamentar defende que investigações contra a gestão ocorram, mesmo com a malfadada CEI da Comurg no retrovisor. O relatório de 13 páginas foi descrito pela própria vereadora como um dos “produtos mais constrangedores” já vistos por ela.

“Não podemos no entanto, nos espelhar no exemplo que deu errado para abrir mão deste instrumento. É exatamente isso que uma administração ruim quer, descredibilizar a fiscalização. Não podemos permitir que isso ocorra”, destaca Aava.

O vereador Lucas Kitão (PSD) que flerta entre uma postura independente e à oposição ao prefeito Rogério Cruz inicia o ano com um tom crítico à gestão. Cita a crise do lixo, a falta de investimentos na saúde e na educação. Também endossa investigações à gestão. “Só ano passado foram quase 100 milhões gastos com inexigibilidade de licitação ou adesão a ata, essas recentes denúncias do SAMU, fechamento do CROF, falta de medicamento. Tudo isso é motivo formal para abertura de Comissão de Inquérito”, relembra.

Ele no entanto diz que a experiência vivida junto a CEI da Comurg não foi boa para o parlamento, mas que lutará para mudar o cenário em 2024. “As Comissões de Inquérito nos dão prerrogativas fortes, de convocação para depoimento, solicitação de depoimento, até força de coerção. Se for possível buscar um envolvido. Então, a gente não pode deixar de usar essas ferramentas da CEI. Não é sair fazendo CEI sem um elemento firme e coerente. Ao mesmo tempo, o trabalho tem de continuar”, destacou.

Aliado do prefeito, Denício Trindade (MDB) destaca que é preciso esperar para ver as movimentações ocorrerem. “Ainda não vi nada concreto”, disse ao Mais Goiás. “A Câmara tem legitimidade para fazer CEIS a partir do momento que tenham princípios de necessidade. Vamos aguardar o que vai aparecer”, destaca.

Anselmo Pereira no entanto destaca que ataques às gestões sempre ocorreram e que o importante é que a “verdade prevaleça”. “Questões contra o prefeito sempre aconteceram. A verdade prevalecerá diante dos fatos. O que não gostamos é que tragam para o plenário as contaminações da política partidária. Isso não é bom, nem para a Câmara, nem para o executivo e pior para a sociedade”, completa.

O próprio prefeito Rogério Cruz (Republicanos) ao ser questionado sobre o assunto, reagiu com naturalidade. “Os vereadores tem todo o poder para criar o que quiser dentro da casa, seja CEI, seja qualquer relatório, desde que haja fundamento, é legal e que haja interesse em fazer sempre o melhor para a cidade”, pontuou.