SE IMPÔS

Bolsonaro pediu cabeça de Pujol após ele não se manifestar contra decisão sobre Lula

A gota d’àgua que fez o presidente Jair Bolsonaro pedir a cabeça do comandante do…

Bolsonaro pediu cabeça de Pujol após ele não se manifestar contra decisão sobre Lula
Bolsonaro pediu cabeça de Pujol após ele não se manifestar contra decisão sobre Lula (Foto: Fábio Rodrigues Pozzobom/Agência Brasil)

A gota d’àgua que fez o presidente Jair Bolsonaro pedir a cabeça do comandante do Exército, Edson Pujol, foi a recusa do general em se manifestar sobre a decisão judicial que anulou as condenações do ex-presidente Lula no início do mês. “O presidente esperava um posicionamento e ele não veio”, afirmou um assessor palaciano.

Bolsonaro cobrava de Pujol uma iniciativa semelhante à que teve o ex-comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, em 2018. Naquele ano, às vésperas do julgamento no Supremo Tribunal Federal do habeas corpus que poderia tornar Lula elegível, o general publicou um tuíte dizendo que o Exército repudiava a impunidade — no que foi interpretado como uma tentativa dos militares de pressionar o STF a barrar a candidatura do petista.

Pujol, embora crítico da decisão que tornou Lula ficha-limpa, tomada no dia 9 de março pelo ministro Edson Fachin, se recusou a endossar qualquer manifestação pública contra ela.

Seu superior imediato, o agora ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, por sua vez, disse ao presidente que não poderia obrigar o comandante do Exército a fazer o que ele, Bolsonaro, desejava, e que uma tomada de posição do Exército naquele momento poderia lançar as Forças Armadas num terreno perigoso.

O governo já discute os nomes que poderão substituir Pujol, cujas convicções legalistas lhe renderam no entorno de Bolsonaro o epíteto de “isentão”.

A iminente substituição do comandante do Exército, a saída do ministro da Defesa e a demissão do Advogado-Geral da União, José Levi, fazem parte de um mesmo pacote (que não comporta a exoneração do chanceler Ernesto Araújo nem a nomeação de Flávia Arruda para a Secretaria de Governo, estes movimentos da cota do centrão).

Levi foi dispensado ontem por motivo semelhante ao que empurrou Azevedo e Silva para fora do governo: ao se recusar a assinar a ação que o Executivo apresentou ao STF há dez dias visando a impedir governadores de decretarem lockdown, o Advogado-Geral da União, como Azevedo e Silva e Pujol, estava se negando a cumprir uma ordem presidencial que achou indevida.

Com o pacote de demissões na área militar e na entidade responsável por representar judicialmente a União, Bolsonaro pretendeu “dar um recado” àqueles que, acredita, têm “esticado a corda” – o que inclui não apenas o STF (a mudança de voto da ministra Carmem Lúcia na ação que julgou a parcialidade do ex-ministro Sergio Moro e beneficiou Lula no caso do tríplex do Guarujá foi o mais recente motivo para irritação do presidente com a Corte), como também lideranças no Congresso.

A Arthur Lira, por exemplo, o ex-capitão quis indicar que, se o presidente da Câmara, como disse, dispõe de “remédios amargos” e “até fatais” contra o governo, ele, Bolsonaro, também tem os seus.

A possibilidade, aventada pelo ex-capitão onze dias atrás, de tomar uma “ação dura”, por exemplo, não sumiu do radar presidencial.

Diz o assessor palaciano que uma eventual decretação do estado de defesa teria um importante efeito político: “Seria uma forma de restaurar a autoridade federal”.

Bolsonaro cortou cabeças, mostrou os dentes e libertou seus cachorros para latirem alto nas redes sociais. Mas é cedo para dizer se com isso sossegará.