Fora da competência

CCJ da Câmara de Goiânia aprova matéria inconstitucional, segundo jurista

Foi aprovado, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Municipal de Goiânia, um…

CCJ da Câmara de Goiânia aprova matéria que pode ser inconstitucional
CCJ da Câmara de Goiânia aprova matéria que pode ser inconstitucional

Foi aprovado, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Municipal de Goiânia, um projeto que torna obrigatória a inclusão de noções sobre a Constituição Federal de 1988 nas disciplinas de História e Geografia em escolas municipais. O Conselheiro seccional da OAB Goiás e especialista em Direito Constitucional, Clodoaldo Moreira dos Santos Jr., diz se tratar de matéria inconstitucional.

Segundo ele, no que se refere ao ensino, a Constituição Federal deixa claro que se trata de competência da União. “Por mais importante que seja a matéria, a Câmara municipal não tem competência para impor a matriz curricular. Quem determina é o Governo Federal.”

LDB

É a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) que trata das disciplinas. Ou seja, o Governo Federal. “A inclusão de novos componentes curriculares de caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e de homologação pelo Ministro de Estado da Educação”, diz o artigo 26, § 10, da LDB.

Clodoaldo explica que, atualmente, existem sete Projetos de Lei para modificar a LDB, que foram anexados em uma única proposta. “Para incluir essa disciplina como a obrigatória, a LDB tem que ser modificada.”

Lei Orgânica do Município

A Lei Orgânica do Município, no artigo 241, diz que “disciplina voltada para o estudo e reflexão dos Princípios, Direitos e Garantias Fundamentais da Constituição Federal (parágrafo 5º)” deve estar sob controle e supervisão da Secretaria de Educação, obrigatoriamente, em todas as séries do Ensino Fundamental.

O conselheiro da OAB-GO ainda afirma que a Constituição Federal não dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino do Direito Constitucional. “E também, por não prever, a Lei Orgânica que se refere ao tema não encontra respaldo na Constituição e nem na LDB.”

Plenário

Como foi a aprovada na CCJ, a matéria irá para votação, quando colocada na pauta do dia. Sa provada em plenário, o advogado explica que poderá ser vetada pelo prefeito Iris Rezende (MDB). Se ainda passar, pode ser objeto de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI).

“Mas a própria Câmara também pode reconhecer e não aprovar.” Tanto o impedimento da Câmara, quanto o do prefeito, por meio do veto, fazem parte do controle preventivo de constitucionalidade, explica Clodoaldo.

Lei Municipal de Educação

O professor de Direito Constitucional, Leonardo Cruvinel, também falou ao Mais Goiás. Segundo ele, os Projetos de Leis têm sido apensados à LDB, na Câmara Federal, para que, provavelmente, se faça uma reforma da Lei de Diretrizes Básicas.

“Quando apensar tudo, aí sim eles vão pensar o que deve conter. Ou seja, o que o município de Goiânia está tentando fazer será alvo de controle de constitucionalidade do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO).

Cruvinel citou, também, a Lei Municipal de Educação que, em sua meta 2 (2.1), diz o seguinte: “Implementar, a partir do segundo ano de vigência deste PME, em colaboração com a União e o Estado, a base nacional comum curricular do ensino fundamental.”

“Na minha ótica, a implementação é um auxílio de como as matérias pré-definidas pela União seriam incluídas nos sistema do ensino. Se o termo fosse suplementação, naquilo que não ofendesse o que a União criou ela poderia criar. É complicado achar que ela pode passar por cima”, justificou o docente.

Ainda sobre o projeto

O projeto prevê, ainda, a possibilidade da cidade realizar convênios sem ônus com entidades de classe, universidades, Ministério Público de Goiás e mais para as aulas. Na justificativa, Emilson Pereira (Podemos), autor da proposta, afirma que o intuito é expandir as noções cívicas dos estudantes, ensinando sobre direitos e deveres constitucionais.

Emilson foi procurado pelo Mais Goiás para comentar sobre o projeto, mas nossa equipe não conseguiu contato. O espaço está aberto caso queira se manifestar.