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Com Lula na China, Alckmin tem agenda ‘três em um’ na Presidência

Vice fez críticas à taxa de juros do Banco Central em suas conversas políticas

Com Lula na China, Alckmin tem agenda ‘três em um’ na Presidência
Com Lula na China, Alckmin tem agenda ‘três em um’ na Presidência (Foto: Ricardo Stuckert)

Em uma semana como presidente em exercício, Geraldo Alckmin desviou de piadas sobre o uso da “caneta cheia”, expressão que costuma usar, e tocou todas as agendas longe da cadeira e da mesa do chefe. Com discrição, pediu apoio às pautas do governo no Congresso e despachou no Palácio do Planalto. Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva cumpria agenda na China, contudo, o maior foco de sua curta gestão foi reforçar o coro contra a taxa de juros do Banco Central.

O GLOBO conversou com 12 pessoas que tiveram encontros com Alckmin durante a semana. A políticos, empresários, presidentes de entidades e economistas, ele fez um apelo para que endossem as críticas do governo à gestão de Roberto Campos Neto no BC.

Após ouvir, tomar nota das demandas e contar histórias de Pindamonhangaba (SP), sua cidade natal, o presidente em exercício também não encerrava o encontro sem antes pedir o apoio a outros dois desafios: a aprovação do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária.

Alckmin tem repetido que a taxa de juros de 13,75% trava a economia do país, a captação de investimentos e o crédito. Com a queda da inflação do país em março, verificada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), afirmou que há ambiente mais favorável para o BC recuar.

Para Lula, a manutenção da Selic neste patamar poderá afetar a performance da economia e o desempenho do próprio governo. Na terça-feira, o presidente da Federação dos Trabalhadores das Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo, Sérgio Leite, esteve com Alckmin e tratou do assunto.

— O governo abandonou um pouco aquele debate de questionar autonomia do BC, então se faz um apelo social, do setor de trabalhadores, empresários, que precisa reduzir juros. E ele (Alckmin) tem feito esse apelo — afirma Sérgio Leite.

Outros relatos trazem a mesma preocupação.

— Alckmin fez uma exposição mostrando que, se a gente quiser crescer em geração de emprego e distribuição de renda, nós vamos precisar ajudar no movimento do governo para baixar os juros — afirma o deputado federal Airton Faleiro (PT-PA).

O vice repetiu o mantra também com o ex-secretário da Fazenda de São Paulo Felipe Salto e economistas do mercado financeiro, quando argumentou que os juros neste patamar prejudicam o setor produtivo.

Junto com uma comitiva do Pará, o deputado Airton Faleiro entrou no gabinete presidencial liderando um grupo de parlamentares e brincou com o anfitrião:

— Chegamos para uma agenda “três em um”: com ministro (do Desenvolvimento), vice-presidente e presidente em exercício.

Alckmin, no entanto, mantém a postura comedida, inclusive nas piadas sobre o posto que ocupa desde o dia 11 — o retorno de Lula está previsto para hoje.

Ao ouvir de outro aliado que estava com a caneta com a “tinta cheia”, Alckmin respondeu, sorrindo, “que é uma tinta que apaga”, em referência à posição temporária.

O presidente em exercício despachou do gabinete presidencial, mas não sentou na cadeira de Lula nem usou a mesa do chefe. Conduziu as conversas dos sofás do gabinete. As reuniões maiores fez em uma mesa de uma sala anexa. Não saiu do gabinete para almoçar e cumpriu expediente de 16 horas por dia.

Em um caderno de espiral, Alckmin anotou todas as demandas, prometeu encaminhamentos junto à equipe e demonstrou otimismo. Defendeu os primeiros cem dias do governo, mas afirmou que agora é preciso dar um segundo passo, cuidar da economia e pôr na rua medidas que melhorem a vida das pessoas. A defesa da reforma tributária consta em todos seus argumentos, segundos relatos.