ANÁLISE

Coronavírus vai influenciar debate na eleição, dizem publicitários

Algumas questões são levantadas em relação ao pleito deste ano, em decorrência da crise pandêmica…

Partidos firmam compromisso por eleição sem fraude e limpa
Partidos firmam compromisso por eleição sem fraude e limpa

Algumas questões são levantadas em relação ao pleito deste ano, em decorrência da crise pandêmica do novo coronavírus (covid-19). As eleições podem ser adiadas em um ou dois meses? Pode haver a prorrogação de mandato? Enfim, o que pode acontecer? De fato, a preocupação existe entre os pré-candidatos às cadeiras dos legislativos municipais e nas prefeituras, mas é consenso entre quem atua com marketing eleitoral que o trabalho nas redes sociais têm que se ser intenso, se já não estava sendo antes, e que o vírus vai influenciar as eleições.

Publicitário e especialista em marketing político, Evandro José Barbosa já conhece este mercado, tendo atuado em duas eleições. Ele entende que o cenário ainda é incerto, inclusive, com dificuldade na formação de discurso entre os postulantes. Segundo ele, no momento é difícil saber se vale a pena manifestar apoio a qualquer um dos lados – aqueles que pregam o isolamento horizontal e a gravidade do novo coronavírus ou os que não vem a situação de forma tão grave e defendem uma abertura total da economia. “Não sabemos sequer se teremos convenções, em junho, pois convenção é aglomeração e nunca houve virtual”, levanta mais questões.

Ele explica, por exemplo [em relação a escolha de lado], que o governador Ronaldo Caiado (DEM), que andava meio apagado, cresceu na crise. “Foi um dos que mais se destacou, então muitos devem se alinhar a este discurso, a princípio. Mesmo aqueles que faziam oposição ferrenha, começaram a aliviar o discurso”, observa. Apesar disso, Evandro afirma que os pré-candidatos mais inteligentes já têm ocupado as redes sociais, realizado lives, enfim, aparecido.

Debates

Sobre os debates, ele explicita que uma postura poderá ser melhor prevista daqui dois meses, de acordo com o resultado das medidas tomadas hoje. “Mas a questão da saúde, de orçamento gasto com isso, deve aparecer.”

Questionado se pode haver, ainda, um discurso ideológico, em vez das propostas, ele afirma que, depois de Bolsonaro, é difícil mensurar o tipo de envolvimento. “Para você ver: na última semana, pediram intervenção militar, algo totalmente irracional”, exemplificou. “Existe a coisa do fazer, mas em Goiânia, por exemplo, tem a questão de ser conhecido. O prefeito Iris, na última campanha, disse quem ele era e que era confiável, sem aprofundar as propostas”, cita o publicitário.

Para ele, porém, existem fatores que podem atrapalhar. “Aqueles prefeitos que buscam a reeleição, se tomarem a decisão errada agora e começar a morrer gente, ter que mostrar corpos… São circunstâncias que vão mudar o cenário. Tanto para a reeleição, quanto para aqueles que irão indicar sucessores”, argumenta.

Vereadores

Segundo ele, para vereadores, a covid-19 vai ser um fator de oportunidade ou ameaça. “Do ponto de vista dos parlamentares, a ameaça fica apenas nas reuniões presenciais, que já deveriam estar ocorrendo. Porém, se o pré-candidato for esperto e trabalhar bem as redes sociais, pode ser oportunidade. Fica até mais barato”, observa.

Aproveitando a questão de valores, de modo geral, Evandro avalia que a campanha será mais barata. Ele enumera que, primeiro, porque o tempo será mais restrito; e segundo, pois a própria verba do fundo eleitoral deve ser destinada à ações de enfrentamento ao covid-19. “O fundo vindo menor, as pessoas têm que se adequar.”

Ao ser perguntado se isso pode deixar um legado, ele afirma que na questão das redes sociais, sim, pois deve criar uma cultura mais firme. Porém, nos gastos ele prevê que não. Segundo o especialista em marketing eleitoral, o que conseguiram fazer para reduzir os valores da campanha, já fizeram, por meio de proibições de doação, fiscalização, dentre outros.

Século 21 ou não?

Doutorando em Ciências da Comunicação e mestre em Comunicação, o publicitário e especialista em marketing eleitoral Marcos Marinho também tem bagagem em pleitos. Para ele, a situação levanta novas demandas, em especial no nível de tecnologia, se os municípios estão preparados em todos seus ambientes, da saúde ao comércio.

Marcos, que não crava a influência exata da covid-19 no momento do debate, afirma, porém, que esta situação levanta novas demandas. Segundo ele, uma série de elementos ficaram muito mais visíveis. “Onde havia ausência de médicos, se agrava; onde não está alocando os recursos corretamente; se o sistema de ensino é caótico e não há outra possibilidade de atender os alunos e seus familiares; enfim, são vários temas que demandam mais atenção. Temas, às vezes, menores que podiam passar batido ganham um relevo maior.”

Ele cita, ainda, a qualidade de teleatendimento, sites oficiais e formas de interagir com autarquias de maneira remota. “Será debatido se, de fato, estamos no século 21 ou não.”

Start

Marcos reforça que muito ainda irá acontecer até o momento do start oficial. De acordo com ele, o momento atual é de pré-campanha, que é de mais auto-exposição. “Mas na campanha muito da crise será resgatado”, avalia.

“Os prefeitos que tiveram bom desempenho de contenção da crise, que usaram bem os recursos do município, diminuíram incidentes de morte, usarão isso como palanque. Será como uma chancela que, no momento de crise, conseguiram se manter firmes e reduzir o problema”, expõe.

O contrário, conforme relatado por ele, também vai acontecer. “Se não fez nada, houve muita morte, o sistema de saúde virou um caos, enfim, se não soube como deixar claro que o problema não é de gestão, vai sofrer as penalidades por conta do tema. Será atacado por isso, mesmo que não tenha culpa, efetivamente. Para a população vai ficar a mágoa.”

Ao tratar dos vereadores, ele aponta papel secundário, mas analisa. “Aqueles que conseguirem trabalhar sua imagem, aproximando da população, realizando ações em prol da população, esclarecendo, tentando algum tipo de conforto ou ação incisiva, vão usar isso para justificar.” Ele complementa, ainda, que aqueles que entrarem para atacar farão o mesmo, mas contra o prefeito e à base dele, pedindo a renovação.

Resumindo, Marcos avalia que o período deve gerar munição para ataque e defesa. “Quem tiver construído a narrativa mais consistente, seja pra atacar ou defender terá vantagem, com certeza”, finaliza.