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Golpistas planejavam matar ex-ministro José Dirceu; saiba mais

Dirceu era chamado pelos golpistas como Juca. O presidente Lula, por sua vez, era identificado como Jeca

Ex-ministro José Dirceu (Foto: Agência Brasil)
Ex-ministro José Dirceu (Foto: Agência Brasil)

Além do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), os envolvidos na tentativa de golpe de Estado prevista para ocorrer no fim de 2022 e começo de 2023 planejavam matar também o ex-ministro José Dirceu – peça-chave dos dois primeiros governos do PT e um dos símbolos do escândalo do mensalão.

Dirceu, que entre os golpistas era identificado pelo codinome Juca, entrou na mira dos conspiradores porque eles acreditavam que o ex-ministro seria um possível líder do mandato que Lula iniciaria em janeiro de de 2023. A informação foi confirmada ao jornal Folha de S. Paulo por duas pessoas com acesso às investigações.

A trama de assassinato consta no plano Punhal Verde Amarelo, elaborado pelo general Mário Fernandes – que está preso. Os codinomes das principais vítimas era bem parecido: Jeca, Joca e Juca. “Jeca” era o apelido atribuído a Lula e Joca, ao vice-presidente Alckmin.

Há algum tempo, a Polícia Federal tentava descobrir quem era o “Juca” que aparecida no plano golpista. Outros nomes chegaram a ser cogitados, como Flávio Dino e Rui Costa, hoje ministros respectivamente do STF e da Casa Civil, e o chefe de gabinete de Lula, Marco Aurélio Ribeiro. No relatório da investigação, porém, a PF diz que “não obteve elementos para precisar quem seria o alvo da ação violenta planejada pelo grupo criminoso”.

Procurado, Dirceu afirmou que prefere não se manifestar.

Mesmo com a antiga relação com Lula e sua influência nos bastidores do Partido dos Trabalhadores, ele não frequenta o Palácio do Planalto para discutir temas de governo e está apartado de articulações políticas diretas da gestão petista.

Apesar do afastamento, grupos militares acreditavam que ele teria um papel de destaque no governo, como teve nas primeiras passagens de Lula pela Presidência.

Dirceu, sob o codinome Juca, foi descrito no plano de assassinato como a “iminência parda [sic] do 01 e das lideranças do futuro gov [governo]”. “A sua neutralização desarticularia os planos da esquerda mais radical”, prossegue.

Mario Fernandes afirma, no documento, que não esperava “grande comoção nacional” com o eventual assassinato dele.

O general previa o envenenamento de Lula, o Jeca, para causar um “colapso orgânico”. A ação era descrita no plano como suficiente para matar o presidente eleito, considerando o “estado de saúde [de Lula] e a ida frequente a hospitais”.

“A sua neutralização abalaria toda a chapa vencedora, colocando-a, dependendo da interpretação da Lei Eleitoral, ou da manobra conduzida pelos 3 Poderes, sob a tutela principal do PSDB”, diz o documento encontrado pela Polícia Federal.

No caso de Alckmin, o Joca, o Punhal Verde Amarelo previa que sua “neutralização extinguiria a chapa vencedora”. O general avaliava que o assassinato do vice-presidente também não deveria causar grande comoção no país.

Mesmo sem ser citado no plano e sem um codinome próprio, Moraes é considerado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) como o principal alvo do plano Punhal Verde Amarelo.

A denúncia considera alguns elementos para confirmar a tese. O primeiro era o fato de Jeca, Joca e Juca serem descritos no documento como “outros alvos possíveis” da ação militar.

A PGR ainda avalia que as ações descritas no plano do general são semelhantes ao monitoramento feito por militares de forma clandestina e que tinha Moraes como alvo.

O principal elemento apontado pela Procuradoria é a compra de celulares descartáveis utilizados no plano “Copa 2022”, que tinha como objetivo matar o ministro do Supremo.

O advogado Marcus Vinicius Figueiredo, que defende Mario Fernandes, disse à Folha que não iria comentar o caso. “Eu não posso me manifestar sobre o mérito da investigação porque ainda não me foi concedido acesso à íntegra das provas”, afirmou.

No julgamento do recebimento da denúncia, Figueiredo disse garantir aos ministros do STF que o general não tinha mostrado o plano Punhal Verde Amarelo para ninguém. Segundo o advogado, o réu fez o documento e o guardou para si.

A PGR contesta essa versão na denúncia oferecida contra Mario. Na acusação, o procurador-geral Paulo Gonet diz que o então presidente Bolsonaro tomou conhecimento do plano e deu aval a ele.

“O plano foi arquitetado e levado ao conhecimento do presidente da República, que a ele anuiu, ao tempo em que era divulgado relatório em que o Ministério da Defesa se via na contingência de reconhecer a inexistência de detecção de fraude nas eleições.”

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