BRASÍLIA

Haddad começa a preparar seu sucessor na Fazenda; veja quem é

Sucessor natural de Haddad é o número 2 do ministério da Fazenda, Dario Durigan. Ministro defenderá o nome dele no Planalto

De olho na eleição, Haddad começa a preparar seu sucessor na Fazenda (Foto: Ministério da Fazenda)
De olho na eleição, Haddad começa a preparar seu sucessor na Fazenda (Foto: Ministério da Fazenda)

(O Globo) Com a provável saída de Fernando Haddad do comando do Ministério da Fazenda, o número 2 da pasta, Dario Durigan, está sendo preparado para assumir o cargo em 2026. Sucessor natural, Durigan deve ter a defesa de Haddad e aparece bem posicionado dentro do Palácio do Planalto e do PT para liderar a equipe econômica no último ano do governo, ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não tenha batido o martelo.

O ministro da Fazenda já preparou o terreno para sua saída ao contar, em entrevista ao GLOBO na última semana, que já conversou com Lula sobre seus planos para 2026. Haddad revelou que falou para o presidente que não pretende ser candidato no ano que vem, mas que gostaria de colaborar com a campanha à reeleição do petista. Lula, por sua vez, nas palavras do ministro, teve uma reação “muito amigável” e disse que iria respeitar qualquer decisão do chefe da equipe econômica.

Pessoas a par das conversas afirmam que Haddad pode deixar a Fazenda já no começo de 2026, antes do lançamento do seu novo livro, marcado para fevereiro. O ministro sente que já fez as entregas mais importantes para Lula, como a Reforma Tributária, a ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação de super-ricos.

Nome de confiança

Em conversas com aliados, Haddad tem defendido que Durigan tem o ministério nas mãos e deveria ser escolhido para sucedê-lo. A ideia é que o atual número 2 tenha tempo para desenvolver seu trabalho à frente da pasta e mostrá-lo para o presidente, ao mesmo tempo em que Haddad mantém no posto alguém de sua confiança e que deve prosseguir com a estratégia traçada nos últimos três anos.

Durigan chegou à Fazenda na metade de 2023, depois que o então secretário executivo, Gabriel Galípolo, foi indicado por Lula para a diretoria do Banco Central. A relação com o ministro, no entanto, é de longa data. Advogado formado pela Universidade de São Paulo (USP) e com mestrado pela Universidade de Brasília (UnB), Durigan foi assessor de Haddad na prefeitura de São Paulo entre 2015 e 2016. Antes, integrou a Subchefia para Assuntos Jurídicos (SAJ) da Presidência da República durante o governo Dilma Rousseff.

Até voltar para a Esplanada dos Ministérios em 2023, o secretário executivo da Fazenda era chefe de políticas públicas do WhatsApp. A experiência que acumulou nas articulações políticas é um trunfo usado no atual cargo, em que encabeça as negociações da ampla pauta econômica com o Congresso, para além de seu perfil moderado.

Foi após sua chegada à pasta que foram aprovados os principais projetos de interesse da equipe econômica, a começar pelo arcabouço fiscal — a principal regra fiscal do governo Lula 3.

Durigan também ganhou a confiança de Lula, sendo escalado para discussões no Planalto junto com o ministro ou em momentos de ausência de Haddad. Um exemplo foi o longo debate sobre o pacote de contenção de gastos no fim de 2024. Na cúpula do PT, tampouco há barreira a seu nome, ao menos para um “mandato tampão”. A decisão final só deve acontecer, contudo, depois de uma conversa com o presidente.

Temas de campanha

A reunião com Lula mencionada por Haddad na entrevista ao GLOBO foi a primeira sobre os papéis nas eleições de 2026. Segundo o ministro, ele se colocou à disposição do presidente para ajudar na função a que for designado na campanha, mas deixou claro que não pretende ser candidato novamente.

As movimentações de Haddad nos últimos meses, no entanto, dão sinais do papel que o ministro gostaria de assumir. Em declarações públicas, ele tem levantado temas que devem fazer parte da plataforma eleitoral de Lula.

São exemplos a tarifa social no transporte público, o fim da escala 6×1 e mudanças na tributação de participação de lucros (o PLR acima de R$ 8.214,41 paga Imposto de Renda). Embora não tenha relação direta com sua pasta, o ministro também tem assumido protagonismo na agenda de segurança pública.

A ideia não é necessariamente ser coordenador do programa de governo, posto que ocupou em 2018, antes de ter que assumir a cabeça da chapa, com Lula preso em Curitiba, mas liderar o debate com a sociedade civil sobre os planos para o novo mandato.

Nesse contexto, Haddad também gostaria de colocar em evidência a discussão sobre a transição energética, tema que ganhou relevância dentro da Fazenda na sua gestão.

PT quer candidatura

A movimentação de Haddad ocorre a despeito do PT, que já indicou que gostaria de ter o ministro da Fazenda como candidato em São Paulo, seja a governador ou na disputa pelo Senado. Dias antes de o chefe da equipe econômica revelar ao GLOBO a conversa com Lula sobre os planos para 2026, o presidente do PT, Edinho Silva, disse que consultaria Haddad sobre a disputa para o governo paulista.

O ministro é considerado um dos melhores quadros do PT e um nome competitivo. Em 2022, apesar da derrota na disputa para o Palácio dos Bandeirantes para Tarcísio de Freitas (Republicanos), ele obteve o melhor resultado da história do partido — desempenho considerado crucial para que Lula voltasse ao Planalto na acirrada disputa com Jair Bolsonaro.

Por isso, apesar de o ministro não querer ir para o “sacrifício” mais uma vez, como aconteceu, especialmente, em 2018, integrantes da sigla afirmam reservadamente que Haddad deve ser candidato a um dos cargos, a depender da definição da oposição, mas que quer pactuar seu papel de 2027 em diante e se manter nas fileiras como um potencial sucessor de Lula.

O PT, no entanto, não tem pressa na definição, até porque o desenho final do palanque depende da decisão de Tarcísio de Freitas sobre se tentará um novo mandato no estado ou se vai se colocar como o principal adversário de Lula em 2026.

De qualquer forma, um posto na campanha também poderia dar ao ministro uma posição mais próxima a Lula e deixá-lo livre para assumir um papel maior em um eventual quarto mandato, como a Casa Civil. Seu nome foi cotado para o cargo durante a transição, no fim de 2022. Depois, o caminho natural seria a sucessão do presidente em um cenário futuro. Aliados, no entanto, negam essa intenção e dizem que o ministro sente que já fez as entregas mais importantes para Lula.