COLUNA DO JOÃO BOSCO BITTENCOURT

Pressão nas redes gera pedidos de desculpas por voto na PEC da Blindagem

Críticas nas redes obrigam deputados de diferentes partidos a se explicarem e até mudarem de posição após apoio à proposta polêmica

Silvye: “fui covarde” (foto divulgação)

Deputados que votaram a favor da PEC da Blindagem enfrentam forte reação online e admitem erro sob pressão popular.

A deputada federal Silvye Alves (União Brasil-GO), por exemplo, foi uma das primeiras a se posicionar publicamente após a polêmica votação da PEC da Blindagem. Em um vídeo publicado nas redes sociais, ela contou que votou inicialmente contra o projeto, mas acabou mudando seu posicionamento após pressões dentro do Congresso.

“Votei contra, às 19h. A partir desse momento, comecei a receber muitas ligações de pessoas influentes do Congresso. Disseram que eu sofreria retaliações. Fui covarde, cedi à pressão e por volta de quase 23h mudei o voto”, declarou, pedindo desculpas aos eleitores. A deputada também anunciou que vai deixar o partido por não concordar com os rumos tomados na votação.

Assim como Silvye, outros parlamentares também sentiram o impacto da mobilização digital. O deputado Merlong Solano (PT-PI) justificou o voto dizendo que buscava viabilizar outras pautas sociais, como a taxação de super-ricos e a isenção do Imposto de Renda. Após a repercussão negativa, ele reconheceu que o acordo político não funcionou e anunciou que assinou uma ação no STF pedindo a anulação da votação.

Pedro Campos (PSB-PE), irmão do prefeito de Recife, também usou as redes para explicar o voto. Segundo ele, o campo progressista tentou negociar alterações no texto da PEC para barrar a anistia e manter avanços sociais. Ele reconheceu que a estratégia fracassou: “A PEC passou do jeito que não queríamos. Tivemos uma derrota dupla: na votação da blindagem e na da anistia. Não escolhemos o melhor caminho”, afirmou.

A mobilização contra a proposta ganhou força nas redes sociais, reunindo perfis da esquerda, de setores da direita não bolsonarista e da classe artística. Nomes como Caetano Veloso e Anitta se manifestaram publicamente. Caetano, por exemplo, chamou a proposta de “PEC da Bandidagem”.

De acordo com um levantamento da consultoria Bites, publicado pelo jornal O Globo, desde a aprovação da proposta, houve cerca de 1,6 milhão de menções à PEC da Blindagem nas redes, especialmente na plataforma X (antigo Twitter). A esquerda dominou o debate, representando 89% dos perfis engajados, segundo a consultoria Arquimedes. Ainda que o assunto não tenha “furado a bolha”, conseguiu pressionar parlamentares e influenciar o andamento da pauta no Senado.

Outro deputado, Thiago de Joaldo (PP-SE), também voltou atrás e reconheceu publicamente seu erro. “Nunca busquei proteger criminosos. Comecei a ouvir especialistas e prestar mais atenção à imprensa. Reconheço que falhei, peço desculpas e vou trabalhar para corrigir”, disse.

A reação em cadeia mostra como a pressão popular, mesmo concentrada em redes sociais, pode influenciar diretamente o comportamento dos parlamentares. A PEC da Blindagem acendeu um alerta no Congresso e mostrou que a vigilância digital da sociedade civil segue ativa e, quando mobilizada, tem poder de reverter decisões.