Prisão de Bolsonaro embaralha estratégias para 2026 e força reposicionamento de candidatos
Decisão de Moraes provoca impacto "brutal" no cenário, avalia especialista
A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL), decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (4), redesenha o tabuleiro político e obriga presidenciáveis e lideranças a recalcularem suas narrativas para 2026. Especialistas ouvidos pelo Mais Goiás apontam que a medida enfraquece a capacidade de mobilização direta do ex-presidente, mas mantém vivo seu capital eleitoral, ativo que pode decidir quem terá força para enfrentar Lula ou seu sucessor.
Para o estrategista e professor de marketing político Marcos Marinho, a mudança é estrutural e permanente. Ele avalia que a comunicação de Bolsonaro sempre foi personalista e centralizada, usando de forma incisiva e cotidiana as redes sociais para falar diretamente com a base. Impedido de se comunicar, ele perde sua principal ferramenta de mobilização.
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“Agora, com ele afastado, nenhum outro personagem terá a mesma penetração e consistência. É um momento de inflexão para os que querem ser herdeiros da direita bolsonarista. Eles terão que se reposicionar, criar uma identidade própria e decidir se radicalizam o discurso ou se moderam para buscar também o eleitor de centro”, reforça ao Mais Goiás.
Marinho destaca que nomes como Ronaldo Caiado, Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ratinho Júnior e até figuras mais jovens, como Nikolas Ferreira, terão o desafio de manter algum vínculo simbólico com Bolsonaro, sem poder falar com ele diretamente. “A transferência desse capital político não é automática. O voto de Bolsonaro é personalista radical. Se esses líderes não souberem se diferenciar e criar uma narrativa própria, correm o risco de pulverizar o campo e facilitar a vida de Lula”, alerta.
Bolsonaristas estão “na corda bamba”, avalia cientista político
O cientista político Guilherme Carvalho aponta para um dado que considera decisivo: o núcleo fiel do bolsonarismo representa hoje de 13% a 16% do eleitorado, segundo pesquisas recentes. Essa fatia é suficiente para dar viabilidade a qualquer pré-candidatura de direita, mas insuficiente para vencer sem atrair eleitores moderados. “Nenhum desses pré-candidatos pode romper com Bolsonaro agora, porque isso derrubaria seu desempenho inicial nas pesquisas. Ao mesmo tempo, não podem se associar demais para não afastar o centro. É uma corda bamba”, afirma.
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Carvalho observa que essa hesitação abre espaço para que surja um novo candidato disposto a se alinhar integralmente a Bolsonaro, o que poderia forçar os demais a radicalizar. “É por isso que Tarcísio, mesmo tentando se mostrar mais moderado, reforça publicamente que está com Bolsonaro. Eles não podem permitir que outro se aproprie sozinho dessa base”, avalia.
Prisão pressiona o senado a pautar impeachment de Moraes
Já a especialista em marketing político Fabiana Vitorino vê na prisão um combustível para manter a chama bolsonarista acesa. Ela argumenta que a medida reforça a narrativa de perseguição e pode reativar eleitores que se afastaram. “Essa prisão pressiona o Senado, especialmente Davi Alcolumbre, a agir contra Moraes. No campo eleitoral, ela fortalece o discurso de injustiça e mobiliza a base. Até quem estava desengajado pode voltar a participar”, explica.
Fabiana também destaca que o episódio pode abrir caminho para Michelle Bolsonaro assumir protagonismo. “Ela tem rejeição menor e pode carregar o mesmo capital político do marido, com uma imagem mais leve para o eleitorado moderado. É uma possibilidade real para 2026”, afirma. Para ela, no entanto, a disputa ainda está longe de ser definida. “Até lá teremos novos julgamentos, decisões do STF, crises econômicas e rearranjos no Congresso. Mas hoje, o efeito imediato é fortalecer o bolsonarismo e colocar o campo da direita em modo de reorganização”, conclui.