Politização

Quebra de hierarquia na PM cria força política que ameaça democracia, diz analista

Casos como o da prisão do professor Arquidones Bites Leão mostram tendência que pode culminar em casos de censura e abuso de poder, segundo cientista político

Defensoria se manifesta pela liberdade de expressão no caso de professor preso
Defensoria se manifesta pela liberdade de expressão no caso de professor preso (Foto: Reprodução)

As manifestações políticas de policiais militares ao não serem repreendidas pelo oficialato, permitem a criação de uma força política dentro das forças de segurança. O que é um risco para o Estado Democrático de Direito. A avaliação é do cientista político Guilherme Carvalho. Casos como o ocorrido com o professor Arquidones Bites Leão, de 58 anos, na noite de segunda-feira (31), quando foi preso por um tenente da Polícia Militar (PM) ao se recusar a retirar adesivo com os dizeres “Fora Bolsonaro Genocida!” mostram essa tendência de politização interna da instituição, segundo o estudioso.

O professor, que é secretário do PT, foi preso por alegado descumprimento à Lei de Segurança Nacional (LSN), formada durante na ditadura militar, e que tem sido utilizada para intimidar críticos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A Câmara dos Deputados já revogou a lei. O professor foi liberado ainda na noite de segunda. O policial militar responsável pela detenção foi afastado das funções operacionais.-

Politização

O cientista político lembra que caso semelhante ocorreu em Recife, no último sábado (29), em que policiais militares atiraram contra manifestantes e cita tentativa de motim policial na Bahia.

“[Essa politização] vem sendo demonstrada em vários atos. Isso ocorre por uma espécie de associativismo, que não chega a ser sindicalismo, que é vetado, principalmente entre os policiais de mais baixo escalão, em torno de certas pautas”, aponta.

O cientista político salienta que há violação do código militar em manifestações nas portas das assembleias legislativas, o que está previsto em lei como quebra de hierarquia. Essas manifestações políticas acontecem sem reprimenda do alto comando da Polícia Militar. O que leva à quebra de hierarquia interna.

“Assim, vai sendo criada uma espécie de força ‘para-política’, por dentro das forças de segurança, que são armadas. Isso é um risco ao Estado Democrático de Direito, pois extravasam a função legal que possuem”, diz.

“Vemos policiais militares aderindo à pauta do presidente Jair Bolsonaro, que foi derrotado na conquista pela narrativa no interior das Forças Armadas, com a demissão do alto comando da instituição, abrindo seu leque para o interior das policias militares, com incentivo da quebra de hierarquia, que não vem sendo repreendida”, afirma.