ELEIÇÕES

Universal convoca ‘jejum’ de notícias e redes sociais durante eleições

A Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), liderada pelo bispo Edir Macedo, decidiu convocar…

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Universal convoca ‘jejum’ de notícias e redes sociais durante eleições (Foto: Divulgação)

A Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), liderada pelo bispo Edir Macedo, decidiu convocar seus fiéis a praticar o chamado Jejum de Daniel e não consumir notícias e nem ter acesso às redes sociais por 21 dias em um período-chave da campanha eleitoral.

Entre os dias 28 de agosto e 18 de setembro, a igreja recomendou a seus fiéis que não consumam “entretenimento, músicas e notícias seculares”, o que inclui as redes sociais, para garantir “atenção exclusiva no recebimento do Espírito Santo”. O censo de 2010 do IBGE apontou que quase 1,9 milhão de fiéis seguiam a Universal.

O jejum termina no próximo domingo (18), quando faltarão exatamente duas semanas para o primeiro turno – a esta altura, cerca de 80% dos eleitores já estão decididos quanto ao seu voto, segundo as principais pesquisas.

A Universal, assim como outras denominações evangélicas neopentecostais, apoia a candidatura à reeleição de Jair Bolsonaro e tem adotado campanhas enfáticas contra o PT. Em janeiro, a Folha Universal, uma das mídias da igreja, divulgou a cartilha “5 motivos que mostram que é impossível ser cristão e ser de esquerda”.

O partido Republicanos, ligado à Iurd, compõe a base de Jair Bolsonaro e a coligação de sua candidatura à reeleição. É pelo Republicanos, por exemplo, que os ex-ministros Damares Alves e Tarcísio de Freitas estão disputando as eleições deste ano – ela, ao Senado pelo Distrito Federal e ele, a governador de São Paulo.

O jejum de Daniel é um período de abstenção normalmente feito por fiéis evangélicos que visa atingir uma melhor conexão com o divino. Repete a experiência do profeta Daniel, que depois de renunciar à alimentação por 21 dias teve uma visão de Deus.

Só que, na Universal, o jejum costuma ocorrer em outras épocas do ano. O próprio site da Iurd explica que o jejum deste ano é “diferente de todas as anteriores”– embora não explique o que o distingue de outros.

Segundo a professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília Jacqueline Moraes Teixeira, que pesquisa a Iurd há 12 anos, o jejum da igreja costuma ser realizado no primeiro semestre de cada ano. Em 2021, foi em março.

Nas três semanas em que os fiéis da Iurd foram estimulados a seguir o jejum, o PT deflagrou uma ofensiva para ampliar seus votos entre evangélicos e rebater fake news sobre fechamento de igrejas caso Lula seja eleito. A sigla criou campanhas digitais voltadas para este segmento do eleitorado, como o Restitui Brasil e o Evangélicos com Lula.

Além disso, organizações simpáticas ao ex-presidente Lula criaram iniciativas similares nas redes, visando achatar a diferença entre o petista e Bolsonaro no voto evangélico e aumentar as chances de vitória no primeiro turno.

De acordo com Jacqueline, embora não abordem a política no mesmo grau que pastores de outras denominações que têm alardeado falsas ameaças às igrejas como Silas Malafaia e Marco Feliciano, os cultos da Universal têm feito acenos discretos. Os pastores, por exemplo, tem aproveitado para pedir que os fiéis “orem pela nação”.

“(Considerando o quadro mais geral) Me parece que podemos, sim, relacionar com o período eleitoral”, avalia a antropóloga.

Nos últimos meses, outras denominações evangélicas defenderam um jejum pela vitória de Bolsonaro nas urnas. Campanhas explícitas já foram compartilhadas pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e a ex-ministra Damares Alves, ambas evangélicas.

Um líder pentecostal aliado de Lula e ouvido sob reserva pela equipe do blog acredita que não se trata de uma coincidência. “Tudo na Universal é bem pensado”, argumenta.