Veja como cada partido da direita se posiciona para 2026 após novo revés imposto pela conversa entre Lula e Trump
O diálogo entre Lula e Trump, marcado por troca de elogios e a costura de um encontro presencial, representa um baque para o deputado Eduardo Bolsonaro
*VIA O GLOBO* O contato feito na segunda-feira por telefone entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump impôs um novo revés para a direita, que já demonstrava apreensão com o cenário eleitoral para 2026. Enquanto o petista recupera popularidade e avança em pautas como a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR), o quadro na oposição é de indefinição quanto à candidatura ao Palácio do Planalto, à espera de que o ex-presidente Jair Bolsonaro bata o martelo. O diálogo entre Lula e Trump, marcado por troca de elogios e a costura de um encontro presencial, também representa um baque para o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Aliados do ex-presidente, no entanto, minimizaram a aproximação, enquanto a base do governo usou o episódio para tentar desgastar o bolsonarismo.
Eduardo Bolsonaro, que articulou, dos Estados Unidos, sanções econômicas contra o Brasil e autoridades, e diz ser uma alternativa para a disputa à Presidência em 2026 — plano descartado por aliados na direita — foi um dos que minimizou na segunda-feira a interlocução de Trump com Lula. Integrantes da oposição preferiram destacar que as negociações, pelo lado americano, serão tocadas pelo secretário de Estado, Marco Rubio, considerado um dos principais aliados ideológicos do bolsonarismo e crítico do PT e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
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Já o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), ironizou o discurso da oposição:
— O único álibi que restou para eles foi dizer que o interlocutor estará com eles. Passaram o ano inteiro levantando bandeiras que não dialogavam com o povo: anistia, PEC da Blindagem, boicotando o Brasil nos Estados Unidos. Os argumentos deles se esvaem. Cadê a impossibilidade de diálogo com o Trump?
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Divisão na direita
Na segunda-feira, Trump disse ter tido uma conversa “muito boa” com Lula. Antes, o Palácio do Planalto já havia comunicado que ambos relembraram a “boa química” durante a Assembleia Geral da ONU, há duas semanas. Enquanto isso, o cenário na direita é de indefinição. Inelegível e condenado a 27 de prisão por liderar uma trama golpista, Bolsonaro indicou a aliados que aceitaria indicar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à Presidência, desde que a vice fosse Michelle Bolsonaro.
Em outra frente, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI) disse, em entrevista ao GLOBO publicada no domingo, acreditar que Bolsonaro já decidiu quem será o candidato à Presidência. Na avaliação do senador, apenas Tarcísio e o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), são “viáveis”, o que gerou reação do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), que já lançou sua pré-candidatura.
O vice-presidente do Congresso, deputado Altineu Côrtes (RJ), disse que a conversa entre Lula e Trump pode acelerar a necessidade de definição dos nomes de uma chapa de centro-direita.
— Esses impasses, essas divergências entre os nomes da direita, serão resolvidas em breve. Tenho certeza de que todos nós da direita estaremos juntos. O senador Ciro Nogueira tem legitimidade para defender o seu nome como vice de Bolsonaro, ele sempre teve lealdade. Precisamos definir os nomes, justamente para não haver mais conflitos — diz ele, que nega uma “crise” pela vice.
Como cada partido se posiciona para 2026
- PL: O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, já abriu as portas do partido para uma eventual candidatura de Tarcísio de Freitas ao Planalto, ao mesmo tempo que enfrenta pressões da ala mais bolsonarista. Nas últimas semanas, chegou a trocar insultos com Eduardo, que quer se lançar em 2026.
- PP: O presidente da sigla, Ciro Nogueira, é uma das vozes do Centrão entusiastas da candidatura de Tarcísio e critica a fragmentação da direita. Ao GLOBO, disse acreditar que Bolsonaro já decidiu qual candidato apoiar, e que os únicos postulantes “viáveis” seriam Tarcísio e Ratinho Júnior, do Paraná.
- PSD: Secretário de Tarcísio, Gilberto Kassab, presidente do partido, mantém apoio ao governador de São Paulo, mas trabalha com nomes da legenda como opções ao Planalto, principalmente Ratinho Júnior. Outro cotado é o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, recém-filiado à sigla.
- Republicanos: Em agosto, o presidente da sigla, Marcos Pereira, fez o primeiro aceno público sobre Tarcísio concorrer à Presidência. Ele tem resistido às investidas do PL para filiar o governador, mas pleiteia, em paralelo, eventuais compensações no caso de perder seu principal ativo eleitoral.
Eduardo dobra a aposta
Eduardo, por sua vez, segue acirrando os ânimos. Na segunda-feira, ele comemorou publicamente a escolha de Rubio para dialogar com o vice Geraldo Alckmin e os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Relações Exteriores).
— Achei ótima a escolha do presidente Trump. O secretário Marco Rubio é um latino, profundo conhecedor da América Latina. Ele conhece como ninguém as artimanhas da extrema-esquerda latina. Entende como funciona o aparelhamento do Poder Judiciário como instrumento de perseguição política. Não cairá na conversa mole do regime — disse Eduardo à colunista do GLOBO Bela Megale.
As articulações de Eduardo para ser candidato à Presidência não encontram respaldo em partidos do Centrão, como União Brasil, PP, Republicanos e PSD. Parte da cúpula desses partidos quer apressar a unificação de uma candidatura da direita e deseja que Jair Bolsonaro aponte antes de o ano acabar quem será o nome da direita nas urnas.
Tarcísio é o nome considerado mais viável para representar o projeto. A cúpula do União Brasil até tem mostrado disposição de avaliar outros nomes, mas há um entendimento de que o apoio a Eduardo para compor uma chapa presidencial é quase impossível dado o envolvimento dele com as sanções ao Brasil. A avaliação encontra respaldo em lideranças do Republicanos.
O filho de Bolsonaro, no entanto, recebeu apoio de representantes do PL no Congresso nas articulações para aplicação de sanções ao governo brasileiro. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), diz que a conversa entre Trump e Lula faz parte de uma estratégia do presidente americano para desgastar as negociações com o governo brasileiro:
— O Trump fez uma jogada de craque: provou que quem não quer diálogo é o Lula. Agora está claro para o Brasil que o erro é do Lula e deixou o Marco Rubio, o secretário mais ideológico, para seguir as negociações.
O líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ), por sua vez, adotou um tom mais comedido:
— Governos têm que conversar. Princípio básico do Estado e da diplomacia. Além do mais, o governo Lula precisa tentar reverter o que ele próprio criou.
Entre os apoiadores de Lula, no entanto, a conversa entre os chefes de Estado foi comemorada e gerou ironias a Eduardo Bolsonaro. “Lula conversou com Trump essa manhã pelo telefone. Alguém sabe se bananinha tá bem?”, postou a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ), junto com um vídeo do parlamentar chorando.