Veja como foi o 2º dia de julgamento de Bolsonaro no STF e os próximos passos
Defesa de Bolsonaro questiona provas e delação de Mauro Cid; julgamento segue para votos na próxima terça
O segundo dia do julgamento de Jair Bolsonaro no STF ocorreu nesta quarta-feira (3) e teve como destaque a sustentação oral da defesa do ex-presidente, além das manifestações de advogados de três generais. A ação penal investiga a suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, e a sessão trouxe longos debates sobre provas, delações e a condução do processo. A defesa de Bolsonaro enfatizou que “não há uma única prova” que ligue o ex-presidente aos atos golpistas, aos ataques do dia 8 de janeiro ou a um plano de ruptura democrática.
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Defesa de Bolsonaro: “não há uma única prova”
O advogado Celso Vilardi afirmou que desconhece a íntegra do processo e criticou o curto prazo dado à defesa para analisar bilhões de documentos recolhidos pela Polícia Federal. Segundo ele, em 34 anos de carreira, é a primeira vez que enfrenta uma situação em que não tem acesso completo às provas.
Vilardi também questionou a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, afirmando que o militar mudou versões diversas vezes e que seu depoimento é “não confiável”. Segundo a defesa, a delação foi “dirigida” e utilizada pelo Ministério Público para tentar reduzir a pena do ex-assessor mesmo reconhecendo a “parcial falsidade” do conteúdo.
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A defesa argumentou ainda que a minuta do golpe não comprova participação de Bolsonaro e que todas as medidas discutidas pelo núcleo estavam dentro da Constituição. Vilardi ressaltou que o ex-presidente conduziu a transição para o governo Lula sem criar obstáculos, contrariando a acusação de tentativa de golpe.
Defesas dos generais
- Walter Braga Netto: O advogado José Luís Oliveira Lima contestou a validade da delação de Cid, alegando que não existem provas que liguem o general às ações golpistas. Ele também criticou o pouco tempo para análise dos documentos e o volume de informações anexadas ao processo. Lima questionou ainda a acusação de que Braga Netto teria recebido dinheiro para financiar o golpe, apontando inconsistências nas datas e circunstâncias da entrega.
- Augusto Heleno: O defensor contestou a conduta do ministro Alexandre de Moraes em relação às testemunhas e negou que Heleno tenha pressionado militares ou participado de qualquer golpe. Segundo a defesa, a participação do ex-ministro do GSI se limitou a funções legais e administrativas, e o afastamento do presidente Bolsonaro do general já era evidente no dia a dia.
- Paulo Sérgio Nogueira: A defesa destacou que o ex-ministro da Defesa tentou demover Bolsonaro de ações golpistas e que não integrou a organização criminosa. Para o advogado, Nogueira atuou de forma proativa para impedir qualquer medida contra a posse do presidente Lula.
O que pesa contra Bolsonaro e os generais
A Procuradoria-Geral da República afirma que Bolsonaro liderou uma organização criminosa que planejava golpe de Estado e que os generais integraram o núcleo estratégico das ações. Segundo a investigação da Polícia Federal, o ex-presidente teria plena consciência e participação ativa nos atos que levariam à ruptura democrática. Já a PGR destaca que os generais coordenaram ações violentas, mantiveram contato direto com manifestantes e articularam medidas clandestinas para sustentar o golpe.
Detalhes do julgamento e próximos passos
A sessão de quarta-feira durou quase quatro horas, concentrando-se apenas nas sustentações orais. O julgamento será retomado na próxima terça-feira (9), a partir das 9h, quando os ministros da Primeira Turma do STF iniciarão os votos para decidir pela condenação ou absolvição dos réus. As penas podem ultrapassar 30 anos de prisão, dependendo da decisão da corte sobre o papel de cada réu nos atos golpistas.
O segundo dia evidenciou a tensão entre as acusações da PGR e as defesas, que seguiram questionando provas, prazos, a credibilidade da delação de Mauro Cid e a interpretação de atos atribuídos aos réus. Entre os pontos centrais da discussão estiveram a acusação de tentativa de golpe, a validade das provas e depoimentos, a atuação dos generais e o suposto cerceamento de defesa devido ao grande volume de documentos e ao tempo insuficiente para análise.
A expectativa agora está voltada para os votos dos ministros, que definirão se os réus serão condenados ou absolvidos, mantendo a atenção de todo o país sobre um julgamento histórico e de grande repercussão política.
*Com informações do G1