Crítica

Styx: Shards of Darkness

Novo jogo stealth do goblin boca suja é divertido, mas ainda não chega a ter o refinamento que se espera de um AAA

Há uma satisfação única em passar 40 minutos montando uma armadilha complexa envolvendo um alarme, comida envenenada e quatro guardas incautos apenas para vê-la se desenrolar com maestria em menos de seis segundos. Styx: Shards of Darkness brilha em momentos assim, nos fazendo lembrar de jogos de stealth esquecidos nos anos 1990.

Ao mesmo tempo, o jogo peca em aspectos técnicos bobos como gráficos pouco rebuscados, dublagem canastrona, level design repetitivo e comandos ruins. Em suma, o novo Styx não é nenhum concorrente a jogo do ano, mas é um bom jogo, especialmente em seu nicho.

Se você não conhece, Styx: Shards of Darkness é a sequência de Styx: Master of Shadows, lançado em 2014, para PS4, PC e Xbox One. O jogo acompanha as aventuras e desventuras do goblin Styx, um anti-herói que, francamente, é um vilão.

Como todo bom goblin de fantasia, ele é pequeno, verde, fedido e desbocado. Ou seja, não possui a menor chance contra guardas elfos, humanos, anões e muito menos aventureiros. Portanto, para manter a sua fama de maior ladrão do mundo, ele precisa usar a escuridão, a inteligência e outros aparatos para passar despercebido e chegar aos seus alvos.

A trama não vai ganhar nenhum prêmio de roteiro, mas bate qualquer Call of Duty com facilidade. Basicamente, os humanos racistas estão avançando sobre as favelas goblin e monopolizando o controle sobre uma substância mágica. Styx, egoísta, quer arruinar estes planos apenas porque precisa dessa dita substância para ter seus poderes e também porque odeia os humanos.

O cenário, se isso já não ficou claro, é bem sombrio. Embora seja original, ele poderia se encaixar facilmente em Warhammer Fantasy, por exemplo, tanto que os goblins são chamados pelos humanos de “peles-verdes”. É tão tenso que os goblins são chamados de “praga” e grupos humanos de extermínio são presença constante nas favelas durante o jogo.

Ao mesmo tempo, Styx é um babaca leal-mau que não está nem aí para a morte de sua raça e que só quer beneficiar a si mesmo. Essa é a parte em que o tom fica um pouco forçado demais. Há muitas piadas sujas e palavrões, meio que para mostrar o quão adulto o jogo é, mas acaba ficando bastante adolescente, igual a dois metaleiros de 15 anos brigando pra ver quem é mais extremo.

A única boa sacada disso é que, tal qual Deadpool, Styx rompe a quarta parede o tempo todo, gerando piadas bem engraçadas (especialmente as com Assassin’s Creed). Mais ainda: toda vez que você morre, ou melhor, deixa ele morrer, o pequeno goblin lhe dá uma mensagem direta, geralmente cheia de palavrões.

Em uma delas, ele afunda na água e manda o dedo do meio em uma referência a O Exterminador do Futuro 2. Em outra ele pergunta se o botão de pular está enfiado no seu… onde não bate sol, sabe? É suave assim.

A alma do jogo é sua mecânica stealth e é necessário dizer que ele faz isso muito bem. Embora não seja excelente, é o melhor jogo do tipo que você irá encontrar no mercado atual de games, infinitamente superior à Assassin’s Creed (franquia que é constantemente zoada em piadas durante o game) ou The Elder Scrolls.

Como se esgueirar é a alma do negócio, o jogo consegue nos fazer lembrar que grandes títulos do tipo, como a trilogia original Thief ou do Deus Ex de 2000. O novo Styx não chega em nenhum momento a ser extremamente complexo, mas possui elementos – e punição – o bastante para fazer o jogador médio atual quebrar a cabeça.

O que é bom. Não sou fã de jogos de stealth, mas o motivo é que muitas vezes as mecânicas para se esgueirar na maior parte dos jogos é ruim. O melhor exemplo é Assassin’s Creed que na maior parte das vezes é chato e que já está cheio de clichês e maneirismos. Styx consegue ser inventivo o bastante para tornar stealth divertido mesmo para quem não conhece.

Como o novo Styx é inteiramente voltado para isso, o jogador parece ter mais controle sobre como abordar cada situação. Ao mesmo tempo, o jogo nunca deixa de lembrar o quanto o jogador é vulnerável, mesmo no endgame, o que sempre ajuda a manter a tensão e a sensação de urgência.

O jogo possui grande variedade de inimigos, uma crescente curva de aprendizado, uma IA competente e bons desafios. Shards of Darkness poderia ser um grande jogo, mas peca em alguns pontos básicos. O primeiro deles é o level design.

Bastante instigante e verticalizado nas fases iniciais, ele se torna sem graça e repetitivo do meio para o fim. Mais frustrante são os controles. Para um jogo que envolve muito pular, abaixar e se esgueirar, eles são muito ruins e travados, gerando muitas mortes estúpidas que simplesmente não deveriam acontecer.

Por fim, há a dublagem, que é bem canastrona e forçada assim como o roteiro e os gráficos. Apesar de ter saído agora em 2017, o jogo não consegue ser visualmente superior ao game anterior de 2014.

Enfim, se você gosta de jogos de sombras e ladrões e estava sofrendo por não ver nada do gênero, Styx pode saciar a sua sede. Porém, se stealth nunca foi muito a sua praia, este não é um jogo imperdível. De qualquer forma, Shards of Darkness possui acertos o suficiente para ser um bom jogo, embora ainda seja necessário aparar algumas arestas.