Ao menos 30 afegãos aguardam no aeroporto de Guarulhos, sem previsão de acolhimento
Chegada de novo grupo reforça desafio de acolhida a afegãos que chegam ao Brasil com visto humanitário, mas sem plano de integração a longo prazo

Ao menos 30 afegãos aguardam acolhimento no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. A chegada do novo grupo reforça a dimensão da crise de acolhida dos afegãos que desembarcam no Brasil com visto humanitário, mas não contam com um plano local de integração a longo prazo.
Segundo a prefeitura de Guarulhos, ainda não há previsão de encaminhamento dessas 30 pessoas a abrigos. “A Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social já notificou o Governo Federal, que informou que já está trabalhando na situação”, diz a prefeitura, em nota.
Ainda de acordo com o órgão, o grupo está sendo atendido pelo Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante, equipamento municipal instalado no Terminal 2. Enquanto estão no aeroporto, a prefeitura afirma que fornece café da manhã, almoço e jantar, além de água e cobertores.
A crise de atenção aos afegãos não é recente: há mais de um ano, grupos numerosos chegam ao Brasil, em busca de uma vida nova diante da retomada do extremismo com a volta do Talibã ao poder. Medida adotada pelo governo federal permite que eles possam solicitar o visto humanitário, que autoriza a residência temporária no Brasil.
Mas, além dos desafios de adaptação a uma nova língua e cultura e de encontrar trabalho, não há, para os afegãos, programas específicos como a Operação Acolhida, criada pelo governo federal em 2018 para integração e interiorização de milhares de venezuelanos que já deixaram seu país de origem em meio a uma prolongada crise social e econômica.
Alojamento temporário
Há cerca de três semanas, um grupo de cerca de 150 afegãos que estava no aeroporto foi transferido a um abrigo em Praia Grande, no litoral paulista. A mudança aconteceu em meio a um surto de sarna, que transformou em emergência sanitária a crise humanitária atravessada por famílias inteiras acampadas de maneira improvisada no aeroporto.
No novo alojamento, no litoral de São Paulo, o grupo recebeu visitas de médicos e agentes da Polícia Federal para regularização migratória. As famílias estão dispostas em quartos e recebem alimentação, como contou ao Globo um ex-militar afegão recém-chegado ao Brasil com sua família.
A transferência a Praia Grande foi articulada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, que tomou a decisão depois de reunião com entidades da sociedade civil que apoiam a causa. A ideia é que o alojamento seja temporário. Mas afegãos e organizações que lidam com questões de refúgio cobram um planejamento de integração permanente para essas famílias.
Há uma semana, em resposta ao questionamento do Globo, o MJSP informou que faria reuniões interministeriais “para implementação de um plano de acolhimento a médio prazo”. Ainda não há atualizações sobre as medidas que serão adotadas para o grupo que aguarda em Praia Grande e os afegãos que continuam chegando em Guarulhos.
Em nova nota, o Ministério da Justiça afirma que “reconhece a continuidade do fluxo de afegãos no Aeroporto Internacional de Guarulhos e reitera que segue acolhendo todos que chegam ao local à medida em que vagas em abrigos são disponibilizadas”.
À espera de abrigo, muitas pessoas acabam usando o Brasil como passagem para outras rotas, principalmente para Estados Unidos e França. Nessa busca, e em meio a grande vulnerabilidade, acabam atraídos com promessa de uma vida melhor que os leva a rotas perigosas de imigração e tráfico humano.
Muitos acabam se rendendo ao aliciamento dos chamados coiotes, que chegam a cobrar US$ 1.700 por pessoa, em caminhos de alto risco.