Cardeal brasileiro poderia ter sido Papa em 1978, mas recusou; veja por quê
Dom Aloísio Lorscheider recebeu votos suficientes para assumir o cargo durante o conclave que sucedeu a morte de João Paulo I

Em um dos momentos mais decisivos da história recente da Igreja Católica, o Brasil esteve perto de ver um de seus religiosos assumir o posto mais alto do Vaticano. O cardeal brasileiro Dom Aloísio Lorscheider, então arcebispo de Fortaleza, chegou a obter os dois terços dos votos necessários para ser eleito Papa no conclave de 1978, que escolheu o sucessor de João Paulo I. No entanto, surpreendeu o mundo ao recusar a missão. E o motivo foi de ordem pessoal: problemas graves de saúde.
De acordo com o teólogo Frei Betto, que revelou detalhes do bastidor, Lorscheider havia passado por uma cirurgia cardíaca de alto risco, com a implantação de oito pontes de safena. O próprio cardeal avaliou que não teria forças para suportar o peso físico e emocional do papado, especialmente após a morte precoce de João Paulo I, que ficou apenas 33 dias no cargo. O receio de um novo falecimento repentino assustou não só ele, mas também outros membros do conclave.
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Mesmo tendo conquistado a confiança da maioria dos cardeais, Dom Aloísio preferiu declinar da função — uma atitude rara e corajosa dentro do ritual do conclave. Após deixar a disputa, o religioso brasileiro ainda teve papel fundamental nos bastidores. Ele ajudou a articular votos entre os cardeais da América Latina e da África, formando consenso em torno do nome do polonês Karol Wojtyła, que viria a se tornar o Papa João Paulo II. O pontificado de Wojtyła, que durou até 2005, é até hoje um dos mais longos da história da Igreja.
Outro ponto interessante da trajetória do cardeal brasileiro que poderia ter sido Papa, Dom Aloísio Lorscheider, é sua forte atuação em defesa dos direitos humanos durante a ditadura militar no Brasil. Ele foi um dos principais nomes da Teologia da Libertação e chegou a presidir a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), além de ser uma das vozes mais influentes na crítica às injustiças sociais. Mesmo sem ter sido Papa, Lorscheider foi uma figura de destaque global no catolicismo do século XX.
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