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Dominghetti procurou senador petista da CPI e relatou oferta de vacina negociada com governo

Mensagens apreendidas no celular do Policial Militar Luiz Paulo Dominghetti mostram que ele procurou em…

Policial militar Luiz Paulo Dominghetti Pereira, durante depoimento aos senadores da CPI da Covid (Foto: Agência Senado)
Policial militar Luiz Paulo Dominghetti Pereira, durante depoimento aos senadores da CPI da Covid (Foto: Agência Senado)

Mensagens apreendidas no celular do Policial Militar Luiz Paulo Dominghetti mostram que ele procurou em 26 de junho o senador de oposição Humberto Costa (PT-PE), relatando que poderia ajudar a CPI da Covid a comprovar que o governo ignorou ofertas de milhares de vacinas —no caso, as que ele afirmava intermediar, mas que nunca se concretizaram.

Naquela data, três dias antes de ele relatar pedido de propina em entrevista à Folha, ele encaminhou ao senador, que integra a CPI, alguns documentos e o áudio do deputado federal Luiz Miranda (DEM-DF) que ele mostraria, depois, no depoimento que deu à comissão, no dia 1º de julho.

Nas mensagens de seu telefone celular, Dominghetti não faz menção à propina de US$ 1 por dose de vacina que ele relatou na entrevista à Folha, mas há uma ligação telefônica registrada entre ele e Humberto Costa no dia 26.

De acordo com o parlamentar, nessa fala ao telefone Dominghetti contou sobre o pedido de propina que havia ouvido do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias, exonerado pelo governo no mesmo dia da publicação da reportagem da Folha. O ex-diretor nega ter pedido propina.

A CPI só convocou o policial a prestar depoimento depois de a Folha revelar as denúncias de Dominghetti. A reportagem chegou a ele no dia 29 durante uma apuração jornalística sobre possível pedido de propina nas negociações do Ministério da Saúde com a Davati Medical Supply, da qual ele atuava como representante.

A dica sobre essa suspeita havia sido dada no depoimento à CPI da Covid do chefe de importação de logística da pasta, Luís Ricardo Miranda, segundo quem um colega de ministério, Rodrigo de Lima, havia falado sobre o caso.

Procurado, Lima negou ter falado sobre isso. A reportagem insistiu na apuração e descobriu, por meio de fontes do Ministério da Saúde, que o episódio mencionado no depoimento de Luis Ricardo envolvia a Davati e que o pedido de propina teria ocorrido em encontro num restaurante de Brasília. Após isso, a Folha fez um percurso de apuração jornalística que que desembocou na entrevista com Dominghetti.

De acordo com as informações do celular do policial, ele procurou Humberto Costa às 12h44 do dia 26 dizendo que um deputado estadual de Minas Gerais havia passado o contato do senador e ele havia “tomado a liberdade de procurá-lo”.

Segundo o senador, antes deste diálogo, uma outra pessoa, de quem o parlamentar diz não se lembrar, já havia o procurado falando sobre o interesse de Dominghetti em falar.

“Senador, boa tarde! Sou dominghetti! Um amigo deputado estadual de MG me passou seu contato. Tomei a liberdade de entrar em contato com vossa excelência para um tema difícil e por hora solicito sigilo. Tenho condições de comprovar que o MS teve a possibilidade de aquisição de vacinas em larga escala”, afirmou o PM a Costa, na primeira mensagem.

Dominghetti disse que poderia informar e-mails e encontros com Roberto Dias e com o ex-secretário executivo do ministério Élcio Franco e apontar “a dificuldade e os obstáculos enfrentados no MS.”

De fato, e-mails, mensagens, documentos e depoimentos comprovam que integrantes do governo negociaram por mais de um mês com Dominghetti e outros que se apresentaram como intermediários da venda de vacinas contra a Covid.

De acordo com o relato do PM à Folha e à CPI, após ouvir o pedido de propina, a negociação não foi adiante porque ele se recusou a participar do esquema.

Dominghetti não citou o áudio de Miranda na entrevista à Folha, nem em contatos por mensagem feitos depois da entrevista. O áudio, o mesmo que o PM reproduziu na CPI, seria de uma suposta negociação do deputado envolvendo vacinas contra a Covid, mas a história acabou sendo desmentida posteriormente.

Humberto Costa -afirmou que não deu encaminhamento ao caso por, naquele momento, não ter entendido por completo a história e, também, porque aguardava mais informações para avaliar a consistência da denúncia.

Não houve contatos de Costa com a reportagem para falar sobre o tema antes do dia 29.

Nas mensagens ao PM, Costa disse ter “total interesse” nos relatos.

“Ele me contou a história que ele tinha vacinas para vender, procurou o Ministério da Saúde, não conseguiu vender e que na verdade foi vítima de um pedido de extorsão e que em cada vacina que ele vendesse ele teria de depositar no exterior US $1. E eu perguntei ‘venha cá’, você tem provas disso aí, vai querer depor?”, diz o senador, se referindo à conversa por telefone que teve com Dominghetti.

O PM respondeu que estava disposto a ir à CPI, segundo o senador. Costa, então, afirma que pediu a ele que enviasse material para comprovar a denúncia. Além de fotos e outros documentos, Dominghetti encaminhou áudio do deputado Luis Miranda (DEM-DF) e escreveu: “É só seguir a vacina senador”.

Segundo os dados apreendidos pela CPI, o PM e o senador só voltaram a se falar no dia 29, após a publicação da reportagem da Folha, quando Dominghetti enviou link com a entrevista a Costa. O senador telefonou para ele depois o informou que outro senador entraria em contato para informá-lo sobre a convocação para depor na CPI.

Segundo Costa, a pergunta que ele fez na CPI que suscitou a veiculação de áudio envolvendo Luís Miranda foi feita com base na entrevista que Dominghetti deu à Folha. “O senhor afirmou à Folha de S.Paulo que recebeu diversos contatos de assessores do Ministério da Saúde e de parlamentares para destravar o processo. Decline os nomes e quem eles representam. Foi isso”, disse o senador.