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Neta de Lula relata atendimento ruim em hospital por ser parente do presidente

"A médica era bolsonarista", afirma Bia Lula

Ser a neta mais velha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quase sempre foi uma definição para se referir a Maria Beatriz da Silva Sato Rosa, a Bia Lula. A pergunta que mais fazem a ela, inclusive, é: “como é ser neta do Lula?”. “Eu costumo dizer que sou neta do Vô Luiz. Porque é assim que me sinto. Quando eu era pequena, com a idade da Analua (sua filha de 5 anos e primeira bisneta do presidente), eu ficava balançando uma bandeirinha de plástico na campanha dele sem entender a dimensão do que ele era na política”, conta ela em entrevista ao podcast “Senta direito garota!”.

Bia, de 27 anos, aprendeu em casa essa dimensão ao passo que foi entendendo que o Vô Luiz era quase uma entidade para milhões de pessoas. E hoje tenta viver a própria história, que também é a história de um país. “Meus tios fugiram da política. Eu abracei porque estava ali presente. Minha mãe (Lurian, a primogênita) jà trabalhava no PT, fazia campanhas, e foi algo natural”, justifica, ela que conheceu o marido num destes trabalhos: “Não queria que ele fosse meu coordenador, quando vimos já estávamos juntos”.

Para além de ser um membro da família presidencial, Bia leva uma vida simples com a filha e o marido Felippe Miranda em Maricá, município da Região Metropolitana do Rio, onde presta serviço como assessora na prefeitura local.

Ela ainda não sabe até quando. Muito porque Bia e Felippe ficam na mira de quem conhece o sobrenome da família. “Temos muita cautela, evitamos nos expor. Já deixaram um projétil de arma de fogo na porta do nosso carro. Quando abrimos, ela caiu. Isso dá medo”, revela.

Bia é epilética e tem muitas crises paralisantes. O que diminuiu com o uso do canabidiol, ainda não encontrado na rede pública de saúde. “Eu vou muito a Upa de Maricá, que funciona bem. Mas o remédio ainda não é distribuído”, diz.

Quatro dias antes do primeiro turno, ela teve uma crise mais séria. Alguns dias após o casamento com Felippe, oficializado em dezembro, também. Estresse demais. “Não gosto de ficar sozinha. Posso ter um apagão e alguém ver meus documentos, fazer alguma maldade por causa do meu sobrenome e me largar em algum lugar”, explica.

(Foto: Reprodução Redes Sociais)

Atendimento em hospital

O sobrenome, do qual se orgulha, também já trouxe questões bem sérias por conta da polarização que foi a última eleição. No meio da campanha, Analua passou muito mal. Num dos hospitais em que foi atendida, aconteceu um constrangimento .”A médica viu o nome dela e perguntou se tinha algum parentesco com meu avô. Quando eu disse que sim, o tratamento mudou. Escrevi no meu Facebook e as pessoas deram um jeito de descobrir a médica e levantaram o perfil. Ela era bolsonarista”, relata.

Bia e o marido tentavam descobrir porque a filha estava passando tão mal. “Ela tinha muita dor de barriga e vomitava o tempo todo, também sofria com falta de ar. E, aí, teve um episódio grave. Corri com ela para um hospital particular e me disseram que, se demorasse mais 20 minutos, ela teria entrado em coma”, recorda.

Foi assim que Bia descobriu que a filha tem diabetes tipo 1 e vai necessitar de insulina para o resto da vida. Quando Lula soube, ligou imediatamente. “Me perguntou se ela estava bem, e em seguida como ela estava sendo tratada. Essa sempre foi a maior preocupação dele depois da morte do Arthur”, conta Bia referindo-se ao neto de Lula, de 7 anos, que morreu após um diagnóstico de meningite, que foi contestado pelo Instituto Lula, que fez a análise do líquor e descobriu que a criança morreu de infecção generalizada provocada pela bactéria Staphylococcus aureus: “Noto que até hoje ele sente muito por isso e nunca tocamos no assunto”.

O neto de Lula morreu quando ele ainda estava preso em Curitiba. O presidente conseguiu uma liberação para acompanhar o enterro: “No velório foi uma cena horrível. Não podia entrar com celular, mas os policiais ficavam falando pelo rádio. As pessoas tratavam meu avô como um traficante perigoso”.

Assim também ocorreu quando Lula foi preso. “A gente morava na Região Oceânica, em Niterói, e as pessoas soltavam fogos, iam pras janelas xingar”, lembra.

A cruzada de Bia hoje é fazer chegar mais informação nas escolas sobre o diabetes na infância, além de chamar atenção para as causas feministas. Sem entrar em detalhes, ela contou que sofreu um abuso sexual na adolescência: “Minha primeira transa não foi uma transa, foi um abuso. Eu tenho muita preocupação com a minha filha”.

A neta de Lula fez ainda elogios rasgados a Janja, atual “vódrasta” e primeira-dama. “Se não fosse pela Janja, a campanha do meu avô teria outro ritmo. Ele fez uma campanha de um homem de 50 anos e não de um senhor de 70. E foi ela que deu esse ritmo. A Janja é uma mulher incrível, militante. As pessoas têm que conhecê-la e respeitá-la pelo que ela é e não pelo o que meu avô é”.