PIB do Brasil sobe 3,4% em 2024, puxado por investimento e consumo
Inflação e juros altos corroem o orçamento das famílias e consumo tem primeira queda trimestral desde 2021, derrubando o resultado do quarto trimestre, quando a economia avançou apenas 0,2%

RIO DE JANEIRO (AGÊNCIA O GLOBO) – A economia brasileira cresceu 3,4% em 2024, conforme dados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira. O resultado foi puxado pelo desempenho dos investimentos e do consumo das famílias , mas o apetite pelas compras de bens e serviços caiu no último trimestre, levando o PIB a desacelerar no fim do ano.
Foi a maior alta desde 2021, quando o PIB cresceu 4,8%, após queda drástica no ano anterior por conta da pandemia de Covid-19. O resultado de 2024 ficou um pouco abaixo do previsto. O mercado financeiro projetou avanço de 3,5%, conforme projeções de analistas compiladas pelo Valor Econômico.
Em valores correntes, o PIB totalizou R$ 11,7 trilhões, e o PIB per capita cresceu com força e chegou a R$ 55.247,45, avanço real de 3% frente ao ano anterior.
Os números do quarto trimestre, no entanto, já indicam desaceleração no ritmo da atividade econômica. Nos últimos três meses de 2024, o avanço foi de 0,2%, diminuindo que o ano de 2025 deve ter desempenho mais fraco que nos anos anteriores.
Consumo das famílias tem maior alta em 13 anos
O consumo das famílias cresceu 4,8% em 2024 e registrou maior alta desde 2011, quando registrou igual avanço.
— Tio uma conjunção positiva, como os programas de transferência de renda do governo, a continuação da melhoria do mercado de trabalho e os juros que foram, em média, mais baixos que em 2023 — explica Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
Mesmo com o aumento de juros na reta final do ano, o saldo de operações de crédito para pessoas físicas saltou 10,5% no ano.
No entanto, houve queda no consumo das famílias de 1% no quarto trimestre, derrubando o resultado do PIB no período. Nos três outros trimestres de 2024, houve fortes altas de 2,5%, 1% e 1,3%, respectivamente.
Segundo Rebeca, a aceleração da inflação, especialmente a de alimentos, pesou sobre o consumo das famílias, levando a um consumo menor. Na quinta-feira, o governo anunciou um pacote de medidas para conter a alta dos preços dos alimentos .
— Continuamos tendo melhoria no mercado de trabalho, mas com uma taxa já não tão alta. E os juros caíram a subir em setembro do ano passado, o que já impactou no quarto trimestre — acrescentou.
O consumo das famílias não caiu desde o segundo trimestre de 2021. Naquele ano, a taxa Selic fechou em 9,25% ao ano, o maior salto na ocorrência desde 2017. Hoje, está em 13,25%.
Investimento salta mais de 7%
Ainda pelo lado da demanda, o investimento teve forte crescimento e sustentou o resultado do PIB no último trimestre. Avançou 7,3% no ano passado, maior alta desde 2021, e subiu 0,4% nos últimos três meses do ano, na quinta leitura trimestral positiva.
Os investimentos ainda estão se recuperando do período da pandemia, quando tiveram forte queda. Em 2023, retornou a cair (-3%). A base fraca em parte explica o salto de 2024. Mas o desempenho no ano passado também foi impulsionado pela construção civil e pela compra de máquinas e equipamentos.
— Aumentou o crédito às famílias e às empresas. Esse crédito, a taxa de juros menor (que em 2023) e o crescimento do consumo favorecem o crescimento dos investimentos — diz Rebeca.
Isso se reflete nas proximidades, que cresceram 14,7%, a maior alta em 14 anos, só ficando atrás de 2010, quando cresceram 33,6%. Muitas máquinas são importadas. Por isso, quando as empresas brasileiras expandem a produção ou inauguram novas fábricas, a tendência é que as compras externas subam.
Segundo Rebeca, a alta do dólar, cujas cotações dispararam em dezembro, e a própria queda de 1% no consumo das famílias frearam a demanda interna e, portanto, as.
– Assim, que tinham crescido (ao longo de 2024), foram sim afetados pela desvalorização cambial – afirmou.
No quarto trimestre, houve queda de 0,1% nas importações.
As exportações subiram 2,9% no ano e caíram 1,3% no último trimestre.
A indústria avança com força
Pela ótica da produção, o destaque foi a indústria, que cresceu 3,3% em 2024. A construção foi o que mais impulsionou o desempenho do setor, com alta de 4,3% no ano passado, refletindo a expansão do crédito e a melhoria no mercado de trabalho, que aumenta a demanda por produtos.
A indústria de transformação também contribui positivamente, com o avanço na fabricação de automóveis e de equipamentos de transporte, além de máquinas e equipamentos elétricos, produtos de alimentação e móveis.
No quarto trimestre, o crescimento da indústria desacelerou, para 0,3%.
O setor de serviços cresceu 3,7% no ano passado. No quarto trimestre apresentou forte desaceleração, com crescimento de apenas 0,1%. O indicador representa cerca de 70% do PIB brasileiro.
Agropecuária sofre com o clima
A agropecuária foi o único setor produtivo que apresentou queda no ano passado. A retração foi de 3,2%, refletindo sobretudo o desempenho do desempenho da agricultura.
Efeitos climáticos adversos impactaram diversas culturas importantes da lavoura que registraram queda na estimativa anual de produção e perda de produtividade, tendo como destaque a soja (-4,6%) e o milho (-12,5%).
Em 2023, a agropecuária havia registrado um recorde de 16,3%, com safra recorde. O impacto do clima sobre a safra no ano seguinte foi um dos fatores para a alta dos alimentos, que pressionou a inflação.
Nos últimos três meses do ano, a queda do setor foi de 2,3%. A perspectiva para 2025 é de uma safra melhor, o que deve fazer a agropecuária voltar ao azul e reduzir o preço da comida.
Comparação com o quarto trimestre de 2023
Na comparação do período de outubro a dezembro do ano passado com o quarto trimestre de 2023, o PIB cresceu 3,6%. Veja o desempenho por setores:
- Serviços: + 3,4%
- Indústria: + 2,5%
- Agropecuária: – 1,5%
- Investimentos: + 9,4%
- Consumo das famílias: 3,7%
- Consumo do governo: + 1,2%
Um 2025 ‘mais magro’
Os números do ano passado sinalizaram que a economia cresceu o dobro do que o mercado esperava inicialmente. Em 5 de março de 2024, o Boletim Focus do Banco Central apontava que a economia cresceria 1,77%, conforme mediana das projeções dos analistas.
Para o ano de 2025, a previsão é de um crescimento bem mais modesto. O economista da XP, Rodolfo Margato, prevê uma alta de 2% do PIB, influenciada pelo aperto da política monetária. A Selic, taxa básica de juros, está em 13,25% ao ano. No início de 2024, estava em 11,75%.
Segundo Margato, a desaceleração já é evidente na indústria de transformação, na mineração e na construção civil. O setor de serviços também já mostrou moderação no fim do ano.