Sextou: Conheça o Santo Arnulfo, padroeiro dos cervejeiros
Santo ensinou a fazer cerveja e incentivava a bebê-la ao invés de água
Você sabia que existe um santo ligado a uma bebida muito amada pelo mundo? Pois é! Santo Arnulfo, conhecido também como padroeiro dos cervejeiros, tem uma história que mistura fé, milagres e — claro — muita cerveja. Nascido por volta do ano 580 na Áustria, Santo Arnulfo de Metz (ou Arnoldo, como também é chamado) viveu uma vida de intensa dedicação política, espiritual e, segundo a tradição, foi responsável por um milagre envolvendo o que seria considerado o “ouro líquido” dos monges medievais.
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De nobre a bispo
Durante a juventude, Arnulfo ingressou no serviço da corte de Brunegilda e do rei Teodoberto II, ocupando cargos de alta importância. Ele chegou a comandar seis províncias e era considerado um homem justo e respeitado. Casado e pai de dois filhos, Arnulfo conciliava a vida pública com uma espiritualidade profunda, o que o levou a ser nomeado bispo de Metz no ano de 613.
Apesar do sucesso político, a vida de luxo e poder não o encantavam. Depois de décadas de serviço, Arnulfo decidiu renunciar a todos os cargos e se retirar para um mosteiro próximo a Remiremont, na França. Ali, ele passou a viver de forma simples, dedicada à oração e à caridade.
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O eremita e o milagre da cerveja
Santo Arnulfo faleceu em torno de 640, mas o episódio que o consagraria como padroeiro dos cervejeiros aconteceu cerca de um ano após sua morte. Os moradores de Metz decidiram exumar o corpo do bispo para transferi-lo a uma igreja local. No meio da longa jornada, sob o calor e o cansaço, o grupo percebeu que só havia uma jarra de cerveja para saciar a sede de todos.
Foi então que, segundo a tradição, ocorreu o milagre da cerveja: a bebida simplesmente não acabou. Os peregrinos beberam até se saciarem, e a jarra permaneceu sempre cheia. O fato foi atribuído à intercessão de Arnulfo, e a devoção popular cresceu, transformando-o em símbolo de fé e de gratidão entre aqueles que produziam e consumiam cerveja.
A data de sua morte, 18 de julho, passou a ser o Dia de Santo Arnulfo, celebrado especialmente por cervejeiros artesanais e amantes da bebida em diversas partes do mundo.
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Santo Arnulfo e o significado da devoção
Em vídeo publicado pela Arquidiocese do México, o padre José de Jesús Aguilar explicou que Arnulfo “não é o patrono da embriaguez, mas sim da produção e do consumo responsável da cerveja”. Na época, beber água podia ser perigoso — os rios eram usados como lixeiras e até corpos de animais e pessoas eram jogados neles. Já a cerveja, por ser fervida e fermentada, era mais segura para consumo.
O padre ainda destacou que o santo “pregava sobre o perigo de beber água naquela época e incentivava o povo a consumir cerveja em vez disso, como forma de preservar a saúde”. Por isso, além do milagre, a sabedoria prática de Arnulfo também contribuiu para que ele fosse lembrado como protetor dos cervejeiros.
A confusão com outro santo cervejeiro
Curiosamente, há uma mistura frequente entre Santo Arnulfo de Metz e Arnold de Soissons, outro santo ligado à produção da cerveja. Este último viveu séculos depois, nasceu na Bélgica por volta de 1040 e também é venerado por cervejeiros e cultivadores de lúpulo.
Arnold de Soissons ficou famoso por aconselhar a população de um vilarejo a beber cerveja em vez de água contaminada, evitando doenças e epidemias. Foi ele quem popularizou o hábito de ferver a água na fabricação da bebida, sem saber que o processo eliminava bactérias perigosas.
Além disso, uma lenda conta que, após o desabamento do telhado de uma abadia, Arnold rezou para que a cerveja produzida ali não se perdesse — e o milagre aconteceu: a provisão se manteve intacta.
Por isso, muitos acreditam que Arnulfo de Metz e Arnold de Soissons dividem o mesmo título simbólico de santos padroeiros da cerveja, embora tenham vivido em épocas diferentes.

De santo a símbolo cultural
Séculos depois, o nome de Santo Arnulfo ultrapassou os limites da religião. Hoje, é comum que bares, cervejarias artesanais e até festivais de bebida usem sua imagem como referência. Em países europeus e na América Latina, ele é lembrado não só como um santo, mas como um símbolo de celebração, trabalho e comunhão.
Apesar do contexto histórico curioso, a mensagem principal de Arnulfo segue atual: moderação e gratidão. Como bem explicou o padre Aguilar, “a embriaguez é um pecado da gula, mas a alegria compartilhada com respeito e equilíbrio é uma virtude”.