Vítimas do Césio-137 criticam produção da Netflix feita fora de Goiânia
A trama acompanhará a atuação de médicos e físicos na corrida para conter os efeitos do Césio-137
O maior acidente radiológico da história aconteceu no dia 13 de setembro de 1987, quando dois homens encontraram um aparelho de radioterapia abandonado em Goiânia, desmontaram o equipamento e venderam a cápsula com o material radioativo a um ferro-velho.
Agora, 38 anos depois, a Netflix anunciou a produção da minissérie Emergência Radioativa, inspirada na tragédia. Criada por Gustavo Lipsztein, dirigida por Fernando Coimbra (Os Enforcados) e produzida pela Gullane, a trama acompanhará a atuação de médicos e físicos na corrida contra o tempo para salvar vidas e conter os efeitos do Césio-137.
No entanto, vítimas do acidente têm criticado o fato de a série estar sendo gravada em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, sem passar por Goiânia.
Ao Mais Goiás, Marcelo Santos Neves, presidente de uma das Associações de Vítimas do Césio 137, relatou frustração ao tentar contato com a produção: “Eu tentei entrar em contato com o telefone, né? Colocando a associação à disposição e eu achei que no mínimo teria de entrevistar as pessoas que tiveram o contato direto e que são representadas por três associações. Me coloquei à disposição para entrevistas, para levar essas pessoas para serem entrevistadas, para fazer uma coisa séria, né? Ninguém deu moral. Deixei recado e ninguém deu moral, nem nada. O contato foi zero.”
Neves contou ainda como se envolveu no episódio: “Na época eu era cozinheiro. Cheguei a trabalhar cozinhando para alguns dos que foram levados para a Fébem, no Jardim Europa. Depois do almoço, recolhia restos de comida e rejeitos, que eram destinados aos tambores de concreto. Foi nesse contexto que tive contato direto com o acidente. Minha mãe tinha um restaurante, e foi ela quem me levou para cozinhar lá”.

Segundo Marcelo, a associação reúne hoje 226 membros, dos quais 96 participam ativamente de um grupo de apoio. Para ele, a minissérie da Netflix perde a oportunidade de mostrar a versão das vítimas:
“Essas produções sempre trazem a visão política, de repórteres ou autoridades. Eu queria ver a visão dos pacientes, dos radioacidentados. Há histórias que nunca são contadas: pessoas em pânico, vivendo isoladas por semanas, sofrendo com doenças físicas e psicológicas até hoje. Isso dificilmente vai aparecer.”

Apesar disso, ele reconhece que a minissérie pode reacender a memória da tragédia: “Mas, por outro lado, eu tenho que agradecer, porque essa série vai, de alguma forma, reacender a história. Mas, para que isso aconteça, precisava de ter uma verdade por trás, depoimentos de pessoas que vivenciaram isso. Vamos ver, vamos ver. A gente não estava presente quando estavam gravando, né? Às vezes eles fizeram alguma coisa e vamos ter essa grata surpresa de expor a verdade.”
O Mais Goiás tentou contato com Gustavo Lipsztein e Fernando Coimbra, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
Emergência Radioativa
“Emergência Radioativa resgata, por meio da ficção, um evento histórico quase esquecido, mas que ainda impacta nossa sociedade. A série traz múltiplos pontos de vista, dando protagonismo às vítimas, médicos e físicos. É um thriller diferente, que não fala de crimes ou violência urbana, mas de pessoas comuns enfrentando um evento extraordinário”, explicou o diretor Fernando Coimbra.