HISTÓRIA

Campinas 215 anos: como a antiga campininha se tornou a mãe da nova capital

As transformações de Campinas: de município a bairro, até se tornar um polo econômico

Vista aérea de Campinas, em 1935 (Foto: Acervo da família Corrêa Lima/Facebook)
Vista aérea de Campinas, em 1935 (Foto: Acervo da família Corrêa Lima/Facebook)

Campinas, um dos bairros mais antigos de Goiânia, completa 215 anos nesta terça-feira (8). A história do município que se tornou bairro começou em 1810, como um arraial. Campinas foi elevada à categoria de vila em 1907 e a município em 1914, mas, com a construção de Goiânia, perdeu sua autonomia, tornando-se parte da nova capital.

Na época da criação de Goiânia, uma comissão avaliou regiões, como Pires do Rio, Bonfim, Bandeira (Ubatan) e Campinas, para escolher qual o melhor território para sediar a nova capital. No entanto, Campinas se destacou por reunir condições ideais para o ambicioso projeto urbanístico de Pedro Ludovico Teixeira. A localização, a topografia e a abundância de recursos naturais, como terras férteis e matas de qualidade, foram fatores decisivos na escolha.

Campinas e o nascimento de Goiânia

Segundo o historiador Sérgio Felício, que estudou o papel de Campinas na formação de Goiânia, antes mesmo da Marcha para o Oeste, já havia um debate sobre a mudança da capital, associada ao coronelismo e ao poder das famílias tradicionais, como os Caiado. “Goiás era um campo de guerra política. A ideia de transferir a capital fazia parte de um projeto modernizador que ganhou força com a Revolução de 1930 e a chegada de Pedro Ludovico.”

Com cerca de 4 mil habitantes na década de 1920, Campinas era um núcleo religioso e comercial, administrado por padres redentoristas e freiras franciscanas. “A comunidade era muito ligada à fé. Quando o local foi decretado os campineiros cederam casas para o novo corpo administrativo, e a Vila Operária recebeu os trabalhadores que construíram a capital”, conta.

Conflitos e transformações

A chegada de migrantes, vindos principalmente de Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso, alterou a dinâmica local. Eram trabalhadores pobres, sem garantias trabalhistas, que se estabeleceram em áreas como a Vila Operária.

Sérgio destaca que Goiânia surge no contexto político de Getúlio Vargas, quando os direitos trabalhistas começavam a ser conquistados. No entanto, os trabalhadores que vinham para a construção da capital não encontravam essas garantias. “Muitos nem sabiam o que era salário mínimo”, afirma. Foi nesse período que começaram a surgir sindicatos e associações trabalhistas.

Segundo Sérgio, criou-se uma divisão social a partir disso: de um lado, os campineiros — pessoas que já estavam estabelecidas e tinham uma infraestrutura, ainda que limitada — e, de outro, os migrantes, que enfrentavam dificuldades para se manter. Já os goianienses eram, em grande parte, políticos e filhos de políticos que compunham o centro administrativo da cidade.

A arquitetura também refletiu essa disputa e a tentativa de integrar Campinas ao projeto modernizador de Goiânia. Os principais edifícios da capital foram construídos em estilo art déco, que simbolizava progresso e modernidade na época. O coreto original de Campinas, na Praça Joaquim Lúcio, por exemplo, chegou a ser substituído por um modelo art déco em 1940. No entanto, na década de 1970, o coreto foi retomando o estilo anterior, sob a justificativa de que os campineiros não se adaptaram ao novo design e queriam resgatar sua memória histórica.

Mudanças e futuro

Após a inauguração de Goiânia, Campinas foi incorporada à nova capital e deixou de ser um município autônomo. Inicialmente, a mudança foi bem recebida pela população, com a expectativa de modernização. No entanto, com o tempo, o bairro perdeu infraestrutura, funções administrativas e parte de sua identidade cultural. Hoje, embora tenha relevância econômica, Sérgio lamenta que o bairro seja reconhecido apenas como um polo comercial e não tanto por sua história, cultura e comunidade.

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